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Haja cunha para o Côa

Crónica política

Afinal há ministros que cumprem!

Pelo menos cumprem as promessas feitas a colegas.

Porque isto de promessas tem muito que se lhe diga. Há promessas feitas a amigos e há as outras.

As outras, facilmente esquecidas, pelo menos quando assumidas perante eleitores da longínqua Beira Interior. É tudo uma questão de distância.

Vem isto a propósito da promessa já esquecida da construção do Museu do Côa.

Relembremos a história, não vá a amnésia, que afecta os governantes, ter-se já instalado nos caros leitores.

Como é sabido, em 1994 o património mundial saiu enriquecido com a descoberta do maior complexo de arte rupestre paleolítica ao ar livre conhecido até hoje. Ao longo de 17 km, a partir da sua foz, o Vale do Côa é um templo de arte rupestre, erigido a Monumento Nacional e consagrado Património Cultural da Humanidade pela UNESCO.

As mesmas gravuras que obrigaram à suspensão da construção da barragem, obrigavam à idealização de um ousado projecto capaz de dignificar e vitalizar tão importante achado patrimonial.

Colhendo, a pertinência da sua execução, a sensibilidade dos Ministérios da Cultura e Planeamento de então, foi elaborado e aprovado em Junho de 2001 o projecto de construção do Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa.

Definidos a sua localização, extensão e custos de execução, previram aqueles o arranque da obra para 2003 e a sua finalização para 2004.

Aproveitando-se as fundações já existentes, resultantes dos trabalhos de construção da barragem, o projecto desenrolava-se em cascata e continha, entre outras coisas, o museu destinado à recepção e á informação de visitantes, um auditório, um restaurante panorâmico e um embarcadouro, constituindo a 1ª fase do projecto, a que acresceria mais tarde o processo de reemersão das gravuras da Canada do Inferno.

Propunha-se, desta forma, o Governo socialista ordenar e qualificar o turismo na referida área com inegáveis e necessárias vantagens económicas para toda a região.

Mas, se Guterres ordenou a suspensão da construção da barragem, Durão Barroso impôs-se pelo abandono de um projecto arquitectónico já finalizado e calendarizado para o lançamento e conclusão da referida obra, em andamento, indiferente aos valores avultados, por conta, investidos.

O Actual Governo, alérgico a tudo o que tivesse o dedo do anterior e invocando razões financeiras (as habituais!), apelidando-o de “ Projecto megalómano” (a que não estamos habituados no Interior) decidiu começar tudo de novo.

Um novo projecto, um outro local para o Museu do Côa. Mais modesto. Enfim, um projecto à medida das gentes locais e sem “ um funicular”.

Pedro Roseta garantiu, então, que até 30 de Janeiro de 2003 seria apresentado um programa funcional para desenvolvimento do processo de construção do Museu do Côa. O concurso público, de carácter internacional, seria aberto pouco tempo depois, para tentar recuperar tempo perdido e cumprir o prazo de execução anunciado – até 2006 –, referiu o mesmo.

Chegados quase a 2004, do concurso nem sombras…

O prazo de realização para 2006 está seriamente comprometido. Será que pretende o Governo construir, mesmo, o Museu do Côa? Sendo evidentes os riscos da perda dos fundos comunitários, a resposta é obvia, pois, não acreditamos que possa o projecto concretizar-se com financiamento nacional.

Lá se vai o Museu do Côa!… A não ser que exista por aí uma filha de ministro com vocação para conservadora de museus.

Por: Rita Cunha Mendes

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