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«Há cada vez mais pessoas que vivem isoladas, fora de qualquer aglomerado humano, sem outros familiares mais jovens por perto»

Cara a Cara – Luís Cunha Rasteiro

P – Já são conhecidos os dados da operação “Censos Sénior 2015” que, no caso do distrito da Guarda, revelam um aumento de 256 casos relativamente ao ano anterior. A que se deve esse crescimento?

R – Sabemos que a partir dos anos 60, as alterações demográficas ocorridas em Portugal, também no distrito da Guarda, conduziram a um envelhecimento progressivo da população, fenómeno que tenderá a acentuar-se ainda mais.

O crescimento deveu-se à continuidade do compromisso dos militares das secções de Programas Especiais, apoiados pelos militares dos postos territoriais da GNR da Guarda, na identificação de novas situações e atualização das existentes, com vista a direcionar o patrulhamento para os locais onde os idosos vivem sozinhos e/ou isolados, conseguindo-se desta forma um conhecimento mútuo muito melhor e mais aprofundado das situações de potencial perigo com vista a informar as entidades competentes.

P – É um número que deve preocupar as autoridades e as instituições competentes nesta área?

R – Com efeito, o envelhecimento acarreta diminuição de contatos diretos com outras pessoas e, por consequência, um maior isolamento social. Além disso, o idoso é mais vulnerável à criminalidade, quer no seu domicílio, quer no espaço público. Daí que eles exprimam níveis de insegurança elevados e lhes sejam mais traumáticos os efeitos da vitimação. E o que temos feito para combater estes problemas específicos? Implementando um modelo de ação policial preventiva da criminalidade (policiamento de proximidade), orientado para as necessidades de segurança e de salvaguarda dos direitos dos idosos. Mas também criando uma base de dados sobre a vitimação das pessoas idosas, permanentemente revista e atualizada, com vista à recolha de informações a utilizar pela GNR no policiamento de proximidade. Por outro lado, incentivamos o desenvolvimento de iniciativas institucionais formais visando um maior e melhor apoio aos idosos.

P – Em termos concelhios, quais foram os resultados? Quais as variações por concelho?

R – Estes elementos ainda não estão disponíveis.

P – Há situações de pessoas isoladas que não têm qualquer familiar? O que faz a GNR nestas situações?

R – Um dos traços mais salientes e a reter deste fenómeno de envelhecimento demográfico é o aumento do número de pessoas que vivem isoladas, fora de qualquer aglomerado humano, sem outros familiares mais jovens por perto.

Têm vindo a ser estabelecidos contactos com outros organismos públicos e privados, tendo em vista a concretização de importantes aspetos práticos que poderão contribuir para a diminuição das situações de isolamento. Tipos de apoios como o fornecimento de refeições ou o tratamento da roupa, por parte das instituições, ajuda a diminuir o isolamento. Aumentar visibilidade policial e a comunicação direta com os idosos é outra das formas de combater esse isolamento ou ainda os idosos poderem telefonar para o posto da GNR se tiverem necessidade de ajuda.

P – Os “Censos Sénior” têm contribuído para ajudar/ apoiar estes idosos, ou são apenas estatística? Feito este levantamento, o que acontece depois?

R – A operação “Censos Sénior”, em paralelo com o programa “Residência Segura”, permite à Guarda fazer a georreferenciação dos idosos, o que constitui uma mais-valia para a sua localização em caso de ocorrência e/ou emergência, permitindo direcionar de forma mais eficaz o patrulhamento e assim aumentar o sentimento de segurança e reduzir o risco de se tornarem vítimas de crime. Num mundo cada vez mais materialista, voltado para o consumo e para o prazer, valores como a fraternidade e solidariedade são afastados ou esquecidos da vida quotidiana. Daí, a GNR ter necessidade de intervir junto das franjas sociais mais fragilizadas ou vulneráveis. E fá-lo, neste caso, para que os idosos estejam mais seguros, sintam mais apoio humano e se reconheçam mais integrados na sociedade em que vivem.

Perfil:

Luís Cunha Rasteiro

Idade: 46 anos

Profissão: Tenente-coronel da GNR

Naturalidade: Sabugal

Currículo: 2º Comandante distrital da GNR da Guarda

Livro favorito: “O Principezinho”

Filme favorito: “Era uma vez na América”

Hobbies: Praticar desporto

Luís Cunha Rasteiro

Sobre o autor

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