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Há alternativas aos relvados

Agora Digo Eu

1. Por que motivo milhões de pessoas por esse mundo fora gostam de pôr relvados à frente das suas casas? Porque acham bonito, dirão. Talvez. OK, mas porque pensam as pessoas assim? Há uma história dos relvados e o desconhecimento dessa história talvez leve muitos a não considerarem outras possibilidades: porque não um jardim japonês ou algo de completamente novo? Na Idade Média, a nobreza de Vale do Loire, em França, começou a usar os relvados. Era uma forma de dizerem ao mundo: sou tão rico e poderoso que até posso dedicar vários hectares a relva que não serve absolutamente para nada de útil. A partir de determinada altura o poder de cada família nobre era visto e avaliado pelas condições do seu relvado. As monarquias e a nobreza caíram, mas ficou este símbolo de poder e prestígio, que alastrou ao resto do mundo. Com os cortadores de relva do século XX, a classe média passou a ter também o seu pequeno relvado. Hoje, nos EUA, a seguir ao trigo e ao milho, a semente de relva é a mais plantada. Este é um exemplo dado por Yuval Noah Harari, em “Homo Deus”, para percebermos que só conhecendo o passado nos podemos libertar dele e imaginar um futuro diferente, ou melhor, vários presentes e futuros possíveis.

2. “Sou tão bom como tu” é uma das ideias mais perigosas para a democracia, como, há 90 anos, Ortega y Gasset percebeu de forma perspicaz no seu livro mais famoso: “A rebelião das massas”. Sem as «minorias excelentes», como lhes chamava o filósofo espanhol, a nossa civilização desabaria em três tempos. Tudo o que temos hoje ao nosso dispor não foi colhido das árvores, desde a democracia aos mil e um confortos materiais. Tudo isto é fruto do trabalho, do sacrifício e do génio descomunais de alguns indivíduos. A passagem pelo ensino superior devia servir, entre outras coisas, para percebermos que há pessoas melhores do que nós em muitas coisas ou competências, como agora se diz. Infelizmente, a própria educação alimenta hoje essa ideia igualitarista e fatal: “Sou tão bom como tu”. Não, não sou. E, na verdade, não é assim tão difícil admitir o óbvio.

Por: José Carlos Alexandre

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