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«Há aí algum professor disponível?»

João Raimundo teme que o futuro da ESTG possa «estar em causa» devido ao impasse vivido na direcção da instituição

«Se não fosse dramático, era anedótico». João Raimundo, antigo presidente do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) garante ser um «indisponível pesaroso» para avançar para a direcção da Escola Superior de Tecnologia e Gestão, instituição que ainda não encontrou director, desde que Constantino Rei pediu a demissão do cargo em Fevereiro deste ano. Para o professor coordenador da ESTG, o futuro director da instituição, que poderá ser eleito amanhã na Assembleia de Representantes, «já parte fragilizado».

O prazo para os mais de 50 professores, que reúnem condições de poderem assumir a direcção da ESTG, se mostrarem indisponíveis terminou na sexta-feira da semana passada e ao que “O Interior” pôde apurar, pelo menos oito docentes não terão dado mostras dessa indisponibilidade, passando automaticamente a ficarem dependentes da escolha do Colégio Eleitoral. João Raimundo garante que «não seria nunca candidato a coisíssima nenhuma», afastando, de pronto, alguns rumores de que poderia estar disponível para dirigir a ESTG. De resto, «depois de ser presidente do melhor politécnico do país, na altura, não iria agora para uma instituição» que tem vivido uma situação de «reboliço total, de há uns meses a esta parte», considera. Para Raimundo, chegou-se ao «ponto ridículo» em que para se encontrar um director para a instituição tem que se andar a perguntar: «Há aí algum professor disponível?», quando o que o projecto necessita é de ser abraçado por «gente empenhada e não pelos disponíveis», alerta. Desta forma, é com «desencanto» que vê a instituição «chegar ao ponto» de não ter candidatos para a direcção, não perspectivando um futuro «risonho» para a Escola. «Estão-se a criar problemas gravíssimos e não vejo como é que vamos sair desta situação», adverte, temendo que o futuro do estabelecimento possa «estar em causa».

O antigo presidente do IPG diz que a ESTG «tem tido azar» nos directores que teve, sendo o caso mais recente, o de Carlos Rodrigues, subdirector de Constantino Rei, que deixou Raimundo «surpreendido», por estar a desenvolver um «trabalho magnífico» e estar a mostrar uma «grande capacidade de trabalho e isenção», frisa. «Por tudo isto, os melhores ficam desmotivados e sem vontade de avançar», lamenta, já que garante que a ESTG dispõe de professores «altamente capazes, com ideias e capacidade de gestão» para além da «elevada capacidade científica» que «quase todos revelam». Raimundo vai mais longe ao afirmar que os órgãos representativos da ESTG «não são representativos da maioria, mas antes de uma série de “lobbies”», indica.

«Hoje, o IPG tem os mesmos alunos que tinha há 10 anos»

Perante «tudo isto», o professor coordenador não hesita em afirmar que os alunos são os «eternos sacrificados» no «meio de toda a turbulência que existe». De resto, este período é visto como uma «altura muito complicada», já que quem se encontra a concluir o ensino secundário, começa a fazer as suas opções e perante um panorama de indefinição na Escola Superior de Tecnologia e Gestão, «mesmo os alunos das escolas da Guarda não quererão vir para a ESTG», receia.

Na hora de “apontar o dedo”a eventuais “culpados” pela actual situação da ESTG, João Raimundo garante que a «culpa é de quem manda», existindo «responsáveis»: «A situação começou desde o princípio e prolongou-se até agora, só que nunca ninguém pediu satisfações», critica. De resto, «quem tem responsabilidade política, não se pode alhear destes problemas», critica, uma vez que a redução do número de alunos acaba por ter um «reflexo directo na economia da cidade», sublinha. «Hoje, o IPG tem os mesmos alunos que tinha há 10 anos», considera João Raimundo, reportando-se à actual situação do IPG, isto apesar das melhorias verificadas em «termos científicos, pedagógicos e de instalações», sendo ultrapassado pela Universidade da Beira Interior e pelos politécnicos de Castelo Branco e Viseu. Neste “apagamento” da instituição, também a cidade «tem culpa», já que os membros da comunidade «têm que ser interventivos», em vez de «apenas virem votar de três em três anos», reforça. De igual forma, «quem está à frente do IPG tem culpa», uma vez que «ganham ordenados chorudos», pelo que «deviam apresentar serviço», completa.

Ricardo Cordeiro

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