Várias dezenas de automobilistas da zona da Guarda participaram na última sexta-feira numa marcha lenta que teve como objetivo contestar a introdução de portagens na A25, A23 e A24. Apesar do anúncio da suspensão do pagamento feito pelo Governo, os utentes das auto-estradas do interior não perderam a oportunidade de mostrar o seu descontentamento contra uma medida que, garantem, vai penalizar a região onde residem e onde circulam diariamente.
A caravana saiu em marcha lenta, acompanhada de buzinão, do Parque Urbano do Rio Diz em direção à rotunda da A23 e, depois de ter ido até ao final daquela auto-estrada, entrou na A25, de onde saiu pelo acesso ao Bairro de S. Domingos. Professor em Figueira de Castelo Rodrigo, Edmundo Boavista aderiu ao protesto porque vai ser «penalizado caso as portagens avancem», apelidando a medida de «muito má» porque «estamos no interior, somos cada vez mais pobres e o desenvolvimento vai ser o mínimo dos mínimos», vaticina. O docente percorre diariamente cerca de 150 quilómetros, a maior parte na A25, entre a sua residência na Guarda e o local de ensino, e caso as portagens avancem mesmo «vai ser muito complicado, porque no fim do mês vai ser um grande rombo no orçamento». Considerou «importante» a marcha lenta concertada em vários locais, já que ajuda a mostrar «o desagrado generalizado que está patente no nosso país».
Também Sílvia Santos vê «muito mal» o pagamento para circular na A23 e na A25: «Acho que não devia haver portagens pelo menos para já. A região está muito mal a nível de emprego e acho que esta medida não vem dar nenhuma credibilidade», realçou. Apesar de se mostrar descontente com as portagens, defendeu que «vão ser postas mais cedo ou mais tarde». Mais otimista de que as diversas ações de protesto vão ter “eco” em Lisboa estava José Geraldes: «Foram recolhidas mais de 30 mil assinaturas e se são uma forma de luta pensamos que alguém estará com atenção às pessoas que lutam por melhores condições de vida», sublinhou, sustentando que «no interior já temos as condições que temos e com o pagamento de portagens mais dificuldades serão criadas às pessoas». O também sindicalista considerou que as manifestações de desagrado devem continuar «independentemente de dizerem que o pagamento está cancelado mas a luta não deve parar até porque o diploma está em vigor e se calhar vai estar cancelado só até às eleições».
A adesão registada deixou «satisfeito» o representante da Comissão de Utentes Contra as Portagens na A25, A23 e A24: «Surpreendeu-me pela positiva e ultrapassou as minhas expetativas. Acredito que se as pessoas continuarem a aumentar a adesão que nós vamos conseguir fazer alguém recuar», realçou Zulmiro Almeida. Para o porta-voz, «está mais que na altura de intensificarmos a luta. O facto de termos aqui algum interregno de um Governo de gestão não quer dizer nada. Temos de continuar na rua, manifestando-nos contra este malefício do pagamento de portagens nas auto-estradas do interior. É uma resposta das pessoas à ofensiva», enalteceu.
Ricardo Cordeiro