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Guarda tem mais “testes do pezinho” do que nascimentos

Distrito está entre os três piores com apenas 650 “testes do pezinho” até novembro, mas esse valor ultrapassa o número de nascimentos (504)

O ano está a terminar e a “cegonha” não foi muito generosa com os portugueses e muito menos com os do interior. Até ao último trimestre do ano a natalidade esteve em queda e, apesar de outubro e novembro terem registado um aumento de “testes do pezinho”, continua a haver um défice de mil nascimentos face a 2016.

As estatísticas disponibilizadas a O INTERIOR pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) mostram que nos últimos dois meses deste ano realizaram-se mais “testes do pezinho” do que no período homólogo. Em outubro nasceram em Portugal pelo menos 7.430 crianças, mais 388 do que no mesmo mês do ano passado. A tendência é a mesma em novembro tendo-se registado uma subida de 8,42 por cento – de 7.279 “testes do pezinho” passou-se para 7.829 (mais 613). Apesar de se ter vivido uma espécie de “baby boom” nos últimos dois meses, esse aumento não é suficiente para colmatar a quebra registada nos meses anteriores. Aliás, o balanço do INSA (que não inclui dezembro) aponta para 79.377 “testes do pezinho”, contra 80.400 nos mesmos 11 meses de 2016 – portanto, são menos 1.023 crianças, uma quebra de 1,3 por cento que, se não fossem os últimos dois meses, seria superior.

No distrito da Guarda foram rastreadas menos 63 crianças que no mesmo período do ano transato e para chegar aos 778 “testes do pezinho” registados em 2016 é necessário que nasçam 128 crianças em dezembro e que todas elas façam o teste. Março foi o mês em que houve mais bebés rastreados (77) no distrito, mas a partir daí houve uma redução constante do número de nados-vivos a fazer o teste e só em agosto voltou a ultrapassar a fasquia dos 60. Em setembro registou-se nova descida, passando de 66 bebés rastreados para 61, e em outubro o número subiu para 66, valor que se manteve em novembro.

Contrariamente, no distrito de Castelo Branco – que abrange as maternidades do Hospital Amato Lusitano e do Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB) – houve mais “testes do pezinho” do que na Guarda: uma diferença de 301. Embora no distrito vizinho se tenha registado um aumento de bebés rastreados nos meses de outubro (84) e novembro (103), em relação a setembro (82), o pico foi atingido em agosto com 107 recém-nascidos a fazer o “teste do pezinho”. Até novembro de 2016 tinham sido feitas 948 colheitas e no mesmo período deste ano o valor aumentou para 951. Este crescendo indicia uma possível subida em relação ao ano passado, que será alcançada se apenas quatro bebés fizerem o rastreio em dezembro. No que respeita a nascimentos, o cenário no CHCB – que está à frente da ULS da Guarda – é mais animador do que em 2016. Até novembro nasceram 508 crianças, mais 14 que no mesmo mês do ano passado. Excetuando agosto – quando nasceram mais crianças (56) – nenhum dos restantes ultrapassou a fasquia dos 50 bebés. Em setembro o número de nascimentos desceu para 47, seguindo-se outra quebra em outubro (44). Só em novembro o número de crianças a nascer no CHCB voltou a subir para 53.

Mais “testes do pezinho” e menos nascimentos na ULS da Guarda

Embora os dados do INSA não coincidam exatamente com os números oficiais de nascimentos, divulgados mais tarde pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), estes são uma imagem muito aproximada da natalidade tendo em conta que o “teste do pezinho” tem uma taxa de cobertura de quase 100 por cento.

Contactada por O INTERIOR, a ULS da Guarda facultou o número de crianças que nasceram na maternidade e ao comparar os dados verifica-se que há mais “testes do pezinho” do que nascimentos. Segundo a unidade hospitalar, nasceram até novembro deste ano 504 crianças, menos 34 que em 2016. O mês de outubro foi o que teve mais nascimentos (59), registando-se uma variação de 18 por cento em relação ao mesmo mês do ano passado. Mas esta subida foi “sol de pouca dura” e em novembro o número de bebés desceu para 51, uma diferença de 1,92 por cento em relação ao período homólogo. Assim, em 2016 a ULS registava até novembro o nascimento de 538 crianças e o INSA apontava 713 “testes do pezinho”. O panorama repete-se em 2017, a ULS regista 504 nados-vivos e o INSA indica 650 recém-nascidos rastreados. «Em 2017 diminuímos a discrepância que existia entre o número de nascimentos e o número de testes do pezinho», é reforçado pelo Conselho de Administração (CA) da ULS.

Esta alteração pode «associar-se à possibilidade que a utente tem de escolher livremente a unidade de saúde que pretende, sem ter que ser assistida obrigatoriamente» na sua área de residência, acrescenta a ULS guardense. Também o facto de na maternidade da Guarda existir um «corpo clínico e enfermagem com grande espírito de equipa», bem como a «garantia de acompanhamento pediátrico de qualidade» foram outras razões apontadas pelo CA.

ULS da Guarda apresenta percentagem mais elevada de cesarianas

Em 450 partos realizados no serviço de Obstetrícia da ULS da Guarda até outubro deste ano, 187 (42 por cento) ocorreram por cesariana, segundo dados do Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde.

Esta é uma percentagem muito superior à recomendada (15 por cento) pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O “Diário de Notícias” noticiou recentemente que até setembro nenhum hospital, a nível nacional, tinha uma percentagem de cesarianas inferior a 22 por cento e «um quarto dos hospitais públicos tem taxas de cesarianas acima de 30 por cento, limite definido pelo Governo para serem pagos pelos episódios de internamento nessa área». Sendo um hospital com estatuto de Entidade Pública Empresarial (EPE), a ULS refere que «ao ser financiada “per capita” não sofrerá diretamente penalização financeira», mas confirma que estes dados afetam os «níveis de avaliação». E esclarece: «As razões prendem-se com o próprio número de partos, as pressões exercidas pelas parturientes e a carência de recursos humanos na área da anestesia».

Contudo, a ULS já está a implementar algumas medidas para reduzir esse indicador, como a reestruturação dos critérios prévios a uma cesariana e a reorganização das equipas da área obstétrica e anestésica. Informar as grávidas e também a população dos riscos de uma cesariana e aconselhar as grávidas nas aulas de preparação sobre a evolução do trabalho de parto são outras ações previstas.

Sara Guterres Até novembro nasceram na ULS da Guarda 504 crianças, menos 34 do que em 2016

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