A época mais crítica de incêndios florestais terminou no final de setembro com mais de 20 mil hectares de área ardida no distrito da Guarda, a segunda maior da última década. Pior só mesmo em 2010, quando as chamas consumiram 24.071 hectares.
De acordo com o último relatório provisório do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) divulgado na semana passada, entre 1 de janeiro e 30 de setembro arderam no distrito da Guarda 20.002 hectares. O fogo consumiu sobretudo matos (13.906) e 6.096 hectares de povoamentos florestais, tendo-se registado mais fogachos (233), cuja área é inferior a um hectare, do que incêndios florestais (164) num total de 397 ocorrências. Num ano em que a severidade meteorológica registou o segundo valor mais elevado desde 2003, a base de dados nacional de incêndios florestais contabilizou neste período uma área ardida de 215.988 hectares, a mais elevada desde 2007. Por distrito, Castelo Branco foi o mais afetado, com 38.962 hectares queimados, seguido de Santarém (34.705) e de Coimbra (25.526). Em termos de ocorrências destacou-se o Porto com 3.462 situações, à frente de Braga (1.468) e Viseu (1.353).
Na região, segundo o relatório do ICNF, até 30 de setembro contabilizaram-se 29 grandes incêndios, cuja área é superior a 100 hectares. Destes, os fogos mais devastadores ocorreram na freguesia guardense do Rochoso a 17 de julho (5.666 hectares ardidos) e na Serra da Gardunha (Fundão), vindo de Louriçal do Campo (Castelo Branco), a 13 de agosto (5.615). Já na periferia da Covilhã arderam 2.916 hectares a 19 de agosto, enquanto em Fernão Joanes (Guarda) o fogo tragou 2.836 hectares quatro dias depois. Mais recentemente, a 5 de setembro, as chamas queimaram 2.705 hectares no Paul (Covilhã). A 16 de julho, na zona de Murça (Vila Nova de Foz Côa) arderam 1.505 hectares. As ocorrências com mais de 500 hectares ardidos foram registadas na Erada, na Covilhã, (832, a 3 de setembro), em Cinco Vilas, Figueira de Castelo Rodrigo (604, 3 de setembro), em Fornotelheiro, Celorico da Beira (528, 26 de agosto), e no Bogalhal, Pinhel (841, a 25 de agosto).
Outros casos ocorreram na Lajeosa do Mondego, Celorico da Beira (664, 23 de agosto), Unhais da Serra, Covilhã (901, a 7 de agosto) e Ribamondego, Gouveia, (816, a 18 de julho). Estranho é o sucedido em Almendra, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, palco de quatro grandes incêndios a 17, 20, 21 e 26 de agosto que consumiram um total de 1.408 hectares. Durante este Verão, a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) decretou 75 dias de alerta especial de nível amarelo ou superior do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) devido às condições meteorológicas adversas, além do Governo ter declarado o estado de calamidade pública entre os dias 19 e 20 de agosto.
Mais detenções por incêndio florestal
A Polícia Judiciária e a GNR detiveram este ano 140 pessoas pelo crime de incêndio florestal, tendo ficado em prisão preventiva cerca de um terço dos detidos.
Segundo dados divulgados recentemente por aquelas duas polícias, este ano as detenções por incêndio florestal aumentaram 52 por cento em relação a 2016. De acordo com a GNR, a Guarda, Leiria, Porto e Setúbal foram os distritos com maior número de detenções por este tipo de crime, tendo sido levantados este ano 2.147 autos de contraordenação relacionados com a prevenção e proteção das florestas contra incêndios, mais 45 por cento em relação ao mesmo período de 2016, quando se registaram 1.477. Desde 2014 que a GNR é a entidade que fiscaliza a limpeza dos terrenos florestais.
Luis Martins