A Guarda é uma região protegida climaticamente, o que na prática significa que a cidade mais alta apresenta uma «qualidade ambiental para se poderem desenvolver todas as iniciativas para tratamento de doenças respiratórias». A boa-nova, já esperada, foi divulgada no primeiro Congresso de Bioclimatismo e Doenças Respiratórias da Guarda, realizado no último sábado na sala de sessões da Assembleia Municipal. Perante os resultados do estudo encomendado pela Guard’Ar – Associação para a Promoção do Ambiente e da Saúde no Concelho da Guarda, os especialistas defendem agora a implantação de um centro de tratamento de doenças respiratórias associado ao Serviço Nacional de Saúde.
A Guarda tem uma qualidade de ambiente que faz dela «um centro de referência para tratamento de doenças respiratórias» e a tornam num caso impar, não só em Portugal mas em toda a Península Ibérica, «uma vez que não há outras cidades em altitude que tenham este estudo feito», adianta o especialista Pedro Lopes da Mata, do British Hospital, de Lisboa. Neste momento, estão reunidas condições para que a cidade possa abraçar a «oportunidade» de poder criar «Centros de Tratamento para doenças respiratórias ou até centros de estágios para desportistas de alta competição», salienta. Contudo, se ao nível do exterior, a qualidade do ar da Guarda é inquestionável, o mesmo já não se pode dizer do que sucede no interior das habitações, onde foram detectados vários tipos de problemas. Das 30 casas analisadas, foram revelados «alguns fungos», para além dos imóveis apresentaram «problemas evidentes quanto à sua arquitectura, má utilização dada pelos seus residentes, materiais de construção antigos e pouco adaptados às condições locais». Também a «má ventilação, aquecimento ausente ou insuficiente e a pouca cultura do “habitat”» se fazem sentir nas casas da Guarda.
De qualquer forma, os problemas encontrados no interior das habitações acabam por ser um “mal menor”, uma vez que «é mais possível corrigir o interior do que o exterior», frisa Pedro da Mata. O interior «praticamente em nada interfere no exterior», até porque «se abrirmos as janelas a maior parte dos problemas fica resolvida», graceja. O estudo da qualidade do ar na Guarda compreendeu medições da poluição atmosférica e a identificação dos elementos alergizantes, tanto no exterior como no interior das casas, sendo que a análise à poluição química foi efectuada em dois períodos dispares, em Março e em Junho do ano transacto. Terminada agora uma fase primordial para o sucesso do projecto empreendido pela Guard’Ar, há que partir para uma nova etapa: «Falta toda a parte processual, falta falar do tratamento dos lixos e das águas para podermos chegar então ao fim do caminho», frisa o especialista. Também Pedro Rebelo, um dos responsáveis pela Associação para a Promoção do Ambiente e da Saúde no Concelho da Guarda, está consciente de que «a parte mais importante», que foi a de constatar que a cidade «reúne condições para a instalação de estações bioclimáticas», representa apenas a «primeira fase» do projecto.
«Há agora outro processo que leva à acreditação definitiva. Temos uma segunda fase técnica e burocrática para que o processo possa continuar e chegar ao fim», explica. Agora que a qualidade do ar da Guarda está comprovada, há que «tentar sensibilizar o poder político», de forma a que o bioclimatismo possa vir a fazer parte do Serviço Nacional de Saúde, tal como sucede noutros países europeus, como é o caso da França, indica o empresário. Quanto à eventual instalação de um Centro de Tratamento de Doenças Respiratórias na cidade, ainda é «prematuro» avançar com qualquer data.
Ricardo Cordeiro
