Até há pouco tempo, evidenciava-se a localização geográfica da Guarda como sendo uma das suas principais vantagens competitivas, em particular no que diz respeito à sua capacidade de atração de investimentos empresariais. A proximidade à fronteira espanhola e a confluência das duas autoestradas que nos ligavam aos maiores centros urbanos do país, constituíam dois argumentos importantes.
A verdade é que a Guarda não só não ganhou nenhum médio ou grande investimento empresarial, como viu encerrar algumas das poucas médias empresas aqui existentes. É legítimo questionar se hoje ainda faz sentido falar nesta vantagem competitiva. Penso que não: o que outrora poderia ser uma vantagem transformou-se na atualidade numa desvantagem.
Um dos critérios para a escolha do local de uma decisão de investimento, é, no caso das empresas que vendem para o consumidor final, a proximidade aos grandes centros de consumo. Com a introdução das portagens e o preço dos combustíveis, um automóvel ligeiro não faz uma viagem à capital por menos de 100 euros. Os custos de uma viatura de médio ou grande porte são 3 ou 4 vezes superiores, pelo que se conclui que este tipo de empresas só tem vantagem em estar o mais próximo possível dos grandes mercados, e esses, estão longe da Guarda.
Quanto ao mercado externo, destacava-se a proximidade à Espanha e o mais fácil e rápido acesso, pela via rodoviária, a este mercado e países periféricos. O estado em que se encontra a economia dos nossos vizinhos, aliado aos custos dos transportes rodoviários, faz com que cada vez mais empresas optem pela via marítima para fazer chegar os seus produtos industriais aos clientes internacionais. São conhecidos casos de empresas sediadas na Guarda que já tiveram que alugar instalações para servir de “entrepostos” próximos dos terminais marítimos. A pergunta que legitimamente esses empresários farão é esta: vale a pena continuar na Guarda?
Em épocas de crise, julgo que o mais importante é não deixar que se destrua o que exista e valorizar e explorar os recursos próprios. Infelizmente, a situação atual e a teimosia em alinhar pela cartilha da “troika” está a fazer o inverso: empresas a encerrarem diariamente, postos de trabalho destruídos, emigração de pessoas, fuga do potencial de conhecimento e inovação.
O que fazer para o futuro? Em primeiro lugar, não perdermos o pouco que ainda temos. A este nível, refiro-me em particular à ULS e ao IPG. A valorização e o reforço da capacidade de intervenção destas duas instituições são absolutamente vitais para a sobrevivência da Guarda e da região. Em segundo lugar, apostar nos recursos endógenos: o turismo, o vinho e o queijo são apenas alguns exemplos. Ao nível empresarial, no curto ou médio prazo, é pura ilusão esperar por investimentos industriais, pelos motivos enunciados. Já os investimentos em serviços, as empresas de base tecnológica que vendem conhecimento e inovação, não precisam de autoestradas, camiões TIR, barcos ou comboios, para chegarem aos mercados.
Não é demais frisar a capacidade de atração de jovens de uma instituição de ensino superior, pelo que mais importante do que falar na integração ou fusão do IPG e UBI, é fundamental lutar pelo reforço destas duas instituições. Este reforço faz-se pelo trabalho em cooperação, mas não pelo eventual encerramento de cursos que existam em duplicado. Só os comentadores de café ou os políticos que olham para o país através de um mapa, poderão pensar que encerrar um curso na Guarda leva mais alunos para a UBI, ou vice-versa.
Por: Constantino Rei *
*Presidente do Instituto Politécnico da Guarda