Comemoramos esta semana os 815 anos sobre a concessão do foral por D. Sancho, em 1199, à Guarda. O Dia da cidade é um bom momento para refletir a realidade, para discutir ideias e projetos, para falar da vida da urbe, do presente e do futuro.
Em festa, com homenagens e medalhas, com o regresso de inaugurações (de um sintético???), a cidade engalana-se e celebra, perante a severidade do tempo, os tempos que se querem de mudança e progresso. Mas que tardam. Tardam muito, mesmo quando os trajes de gala saem à rua com insistência, o que persiste é mesmo o cheiro lúgubre de uma cidade dilacerada pela desesperança. Apesar da passividade generalizada, o desejo é de metamorfose, de recuperação ou transformação, um tempo ambicionado e que tanto tarda em assomar à janela de cada um dos que aqui vive e teima em continuar.
Para além das circunstâncias da crise e das dificuldades do período em que vivemos, encontramos pessoas preocupadas e inquietas, mas esperançadas e algumas até otimistas. Afinal ainda há quem acredite que o pior já passou e agora é preciso recuperar o tempo perdido. Talvez seja assim, talvez até, depois de um ano de novo timoneiro, seja o tempo de começar a perceber o rumo que seguimos. Para trás ficaram os tempos em que, como diria Séneca, para barco sem rumo não há vento favorável.
A falta de oportunidades para quem persiste em fazer vida no interior é um facto, que vai muito para além da conjuntura perturbadora e depressiva em que vivemos, e em especial para os mais jovens. É perante as dificuldades de contexto que, obviamente, percebemos que os mais novos falem com entusiasmo da sua terra, da sua Guarda, mas que a apresentem como fazendo parte de um património de afetos, de passado, mas onde não se veem no futuro porque não vislumbram porvir na cidade.
Comemorar o foral da cidade é também um momento inspirador, um momento de elogio, de elevação da autoestima e de satisfação. E também um momento de acreditar que ainda há tempo e espaço para reinventar e dar nova dimensão à urbe. Num tempo de dúvidas e incertezas generalizadas, de um novo paradigma, a Guarda, como o país, deve reorientar a sua estratégia, redefinir o seu horizonte, porque há um tempo novo onde há muito para construir. Para lá das ambiguidades e dos erros que nos levaram a este clima de pessimismo, o tempo é de acreditar, é de querer, e querer é poder. Vamos em frente que há muito a fazer…
Luís Baptista-Martins
