Arquivo

Guarda 815 anos

Opinião

Comemorar 815 anos da Guarda é, antes de mais, expressar uma imensa gratidão para com a sua genealogia humana, mais ou menos heroica, que dela fizeram uma cidade guardiã da nacionalidade e construtora da sua identidade. Uma cidade é um sistema relacional de fertilizações cruzadas ao longo dos tempos. Hoje somos conscientes da pluralidade dessas fertilizações humanas, sociais, políticas, culturais e económicas que nos definiram como povo, como cidadãos de uma cidade.

Saúdo, por isso, todas e todos os guardenses que vivem e sonham futuros na Guarda e a partir da Guarda. Mas também todos quantos, tendo cá raiz, semearam as suas vidas noutras geografias por as acreditarem mais férteis. Todos fazem parte de uma grande família guardense. Enaltecer a história da Guarda é reconhecer a dimensão humana do seu capital social, protagonizado pelos nossos antepassados que nos legaram patrimónios. São essas as nossas riquezas, imaterial e material, que orgulham o presente e salvaguardam o futuro.

Construir uma cidade, ao longo de séculos, é sonhar e concretizar vida urbana. Uma vida coletiva, em busca do bem comum, que inspira, que eleva, que orgulha, que envolve e que partilha. A esses trajetos de utopias concretizadas se devem vidas de tantos atores que nos precederam e a quem, neste aniversário, devemos prestar justa homenagem. É com esse respeito pelo passado, por tudo o que ele representa para a nossa afirmação histórica e cultural, que olhamos para a frente, de cabeça erguida, a pensar nas gerações vindouras.

Desta “terra alta de azul e neve” que tão mal a julgam – como dizia o nosso escritor Nuno de Montemor – abraçamos o futuro para nele inscrever as nossas visões, convicções e ações. Transformar para melhorar é uma obrigação pública que todos devem abraçar. A nossa viagem comum é esta aventura, a da coragem de enfrentar todos os cabos das tormentas; a de um povo que se interessa e se envolve na determinação de (re)começar, avançar, mobilizar, ousar, criar e fazer. Em suma, de acreditar.

Num tempo de incertezas e de retóricas da desgraça as minhas palavras são em sentido oposto. É tempo de impulsos positivos, de persistir em acreditar em nós mesmos. Contra a autoflagelação, de que culturalmente somos reféns, temos o dever de desafiar as novas esperanças de vitalidade urbana e cívica.

Desta cidade formosa, firme e hospitaleira, guardamos a herança da coragem portuguesa; a perseverança das viagens da descoberta; a resistência a tudo o que nos ameaça diminuir; o orgulho de nos mantermos de pé, contra as mais ameaçadoras tempestades.

Ao esforço de povoamento e proteção de D. Sancho I, e a tantos e tantos homens a quem devemos, ao logo dos oito séculos de história, a força da vitalidade social, económica, urbanística, cívica e política, juntamos hoje o nosso humilde contributo para continuar a salvaguardar os ideais e os valores de uma sociedade democrática ainda jovem e a construir-se em liberdade. É essa liberdade democrática, conquistada há escassos 40 anos, que nos deve entusiasmar a ultrapassar os múltiplos entraves e a fazer das fraquezas as forças contra todas as inércias ameaçadoras de uma existência dinâmica e feliz.

Prossigamos no esforço de nos autoconstruirmos no que temos de melhor e sejamos capazes de gerar energia construtiva no caminho do progresso e do desenvolvimento sustentado e sustentável.

As cidades querem-se hoje competitivas, geradoras de valor e bem-estar para os cidadãos. Aos 815 anos, a Guarda deve saber pensar-se de forma holística e abrangente. As nossas estratégias de futuro comum exigem inteligência social capaz de gerar uma sociedade local mais inclusiva, amiga das famílias e das empresas. Sonhamos uma Guarda mais eficiente na gestão dos seus recursos e processos, virada para a qualidade de vida das pessoas, capaz de promover a criatividade, inovação, mais emprego e prosperidade social. A melhor forma de honrar a nossa história é manter a resiliência de alcançar, com o contributo de todos, uma simbiose de desenvolvimento entre a dimensão social e o desenvolvimento económico.

A Guarda merece que todos nos entreguemos a essa missão maior.

Álvaro Amaro*

* Presidente da Câmara Municipal da Guarda

Sobre o autor

Leave a Reply