Esta semana a Guarda comemorou o 813º Aniversário da concessão do foral por D. Sancho em 1199. É sempre um bom momento para refletir a realidade, para discutir ideias e projetos, para falar da vida da urbe, do presente e do futuro.
E foi isso que tentámos fazer nesta edição: fomos à rua saber como é que as pessoas veem a cidade e pedimos a alguns cidadãos um comentário, uma opinião, sobre a Guarda – que publicamos nas páginas centrais. Para além das circunstâncias da crise e das dificuldades do período que vivemos, encontrámos muitas pessoas preocupadas e inquietas, mas esperançadas e algumas até confiantes no futuro da Guarda. Publicamos também a opinião de três jovens de 17 anos, estudantes da Escola Afonso de Albuquerque, que para além de expressarem alegria e exultarem a sua “terra”, assumem com naturalidade que o seu futuro não passa pela cidade onde nasceram.
O drama do êxodo rural e da desertificação, com que o interior convive há tantos anos, deixou de fazer parte apenas da vida (da morte) das aldeias para chegar também às vilas e cidades. O país vai ficando cada vez mais inclinado para o mar. A falta de oportunidades para quem persiste em fazer vida no interior é um facto, que vai muito para além da conjuntura perturbadora e depressiva em que vivemos, e em especial para os jovens. É perante as dificuldades de contexto que, obviamente, percebemos que os mais jovens falem com entusiasmo da sua terra, da sua Guarda, mas que a apresentem como fazendo parte de um património de afetos, de passado e de presente, mas onde não se reveem no futuro, porque não vislumbram porvir na cidade.
Comemorar o foral da cidade é também um momento inspirador, um momento de elogio, de elevação da autoestima e de satisfação. E também um momento de acreditar que ainda há tempo e espaço para reinventar e dar nova dimensão à urbe. Num tempo de dúvidas e incertezas generalizadas, de um novo paradigma, a Guarda, como o país, deve reorientar a sua estratégia, redefinir o seu horizonte, porque há um tempo novo onde há muito para construir. Para lá das ambiguidades e dos equívocos que nos levaram a este clima de pessimismo, a cidade tem potencialidades que devem ser aproveitadas e desenvolvidas por forma a assegurar futuro às gerações vindouras. Não vai ser um caminho fácil, nem há sinais de otimismo no ar, mas é possível inverter a tendência e acreditar que novos tempos chegarão para as terras do interior e para as gentes da Guarda.
Luis Baptista-Martins