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Governo volta atrás na união entre IPG e UBI

Ao contrário do manifestado em outubro, secretário de Estado do Ensino Superior não demonstrou «grande abertura» à proposta conjunta apresentada no final de dezembro

Voltou à “estaca zero” o processo de reorganização do ensino superior na Beira Interior que visava uma futura integração do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) na Universidade da Beira Interior (UBI). Os responsáveis máximos das duas instituições reuniram com o secretário de Estado do Ensino Superior no passado dia 9 e, surpreendentemente, o governante, que em outubro reforçara a necessidade da importância dos dois estabelecimentos trabalharem a uma “só voz”, não demonstrou agora o mesmo entusiasmo.

O presidente do IPG considera que «não se pode dizer que o secretário de Estado tenha recusado a nossa proposta», mas «não constatámos grande abertura e recetividade da sua parte». Constantino Rei lamenta ter constatado que José Ferreira Gomes tenha «mudado de opinião em relação à posição política», recordando que, numa carta de outubro, o governante falava na «necessidade de consolidação da rede, nomeadamente através de consórcios e de fusões envolvendo ou não instituições e escolas de diferentes subsistemas de ensino». Ao invés, na reunião realizada há duas semanas, o secretário de Estado, embora «não tenha recusado de uma forma expressa a integração das escolas politécnicas em universidades», deu a entender ao presidente do IPG que «não quer apadrinhar» a proposta de parceria com a UBI e que já «não vê com bons olhos que o Politécnico da Guarda seja integrado numa universidade». O governante afirmou estar agora apostado na «manutenção da diferenciação entre politécnicos e universidades, evitando a criação de escolas politécnicas em universidades».

O presidente do IPG confessa ter «dificuldade» em entender esta mudança de atitude de José Ferreira Gomes, sustentando que «sempre disse que esta parceria só faria sentido se fosse benéfica para as duas instituições e se tivesse o apoio e o comprometimento da tutela». Na sua opinião, «o envolvimento da tutela é absolutamente fundamental e necessário e se a tutela não partilha das nossas opiniões não vale a pena andarmos a trabalhar», reforça o professor. Por isso, Constantino Rei adianta que, «para já, esta ideia fica suspensa e resta-me continuar a trabalhar no quadro atual de dificuldades», sendo que «não me parece que no curto prazo haja alguma possibilidade de retomar este processo». O responsável sustenta que a proposta conjunta «não teve o acolhimento esperado por parte do governo e por enquanto este processo fica estagnado. Não sei o que o futuro nos reserva».

No entanto, o presidente do IPG reitera que as conversações com a UBI «sempre existiram, hão-de continuar a existir e certamente que iremos continuar a trabalhar», antevendo que o futuro «não será risonho para as instituições de ensino superior do interior se continuarmos como estamos». O docente realça que «o que estava em cima da mesa era um documento com um princípio dos conjuntos orientadores que poderiam levar à integração ou fusão das escolas do politécnico na Universidade». Constantino Rei revela que a Guarda passaria a ter «uma faculdade universitária» e «o que queríamos era uma nova universidade para a região com maior força». O INTERIOR solicitou um comentário a António Fidalgo, reitor da UBI, mas a resposta não chegou em tempo útil.

À margem destas conversações já estava o Instituto Politécnico de Castelo Branco, cujo Conselho Geral emitiu um parecer a 17 de dezembro do ano passado em que colocava várias objeções à anterior proposta do Governo, sublinhando «a inexistência de qualquer estudo que fundamente a reforma pretendida». O mesmo órgão alertava também «para a necessidade de reforma não visar exclusivamente a redução dos custos com as instituições», que podia resultar em consequências «bastante gravosas e penalizadoras» para o futuro do país.

Ricardo Cordeiro Presidente do IPG defende que a parceria só faz sentido com o «comprometimento da tutela»

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