O Governo já escolheu o traçado dos itinerários complementares (IC) que vão servir a zona da corda da Serra da Estrela, tendo sido excluída a opção dos túneis. O secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas, Paulo Campos, revelou, na semana passada, em Seia, que a decisão vai ser anunciada «dentro de dias», escusando-se a adiantar mais pormenores.
No final de uma reunião com autarcas e governadores civis dos distritos da
Guarda, Castelo Branco e Viseu, o governante acrescentou ter já na sua posse os estudos de impacte ambiental e de traçado necessários à elaboração dos estudos prévios. «A empresa que os vai fazer também já foi escolhida e terá 10 meses para apresentar os projectos definitivos», disse, esperando que «em Março de 2009» seja possível lançar os concursos públicos para a construção dos IC6 e IC7. Estas estradas vão rasgar a vertente Sul da Serra, implicando pequenos túneis, viadutos e terraplanagens nas encostas protegidas do Parque Natural da Serra da Estrela. Ambas estiveram em consulta pública até ao passado 12 de Fevereiro, no âmbito do Estudo de Avaliação Estratégica, encomendado pela Estradas de Portugal (EP).
Tudo indica que a opção escolhida é o cenário 5 proposto no documento, o mais consensual de todos e o menos oneroso para o Estado. Este traçado estabelece que o IC6 continue a partir da Catraia dos Poços até Seia (Torroselo), seguindo depois para Gouveia e Fornos de Algodres, com ligação à A25. Quanto ao IC7, deve começar na Covilhã (A23) e passar por Unhais da Serra, Alvoco da Serra, Sandomil, Torroselo até Viseu (A25). A construção de 12 quilómetros de túneis para atravessar a Estrela era outro dos cenários para as acessibilidades do Centro Interior. Contudo, o estudo da EP valorizou a construção daquelas duas estradas a Sul da Serra, apesar da solução com os túneis (entre Covilhã, Manteigas e Seia/Gouveia) garantir «melhores acessibilidades e maior desenvolvimento».
Só que esta opção implicava um investimento elevado, «pelo menos 704 milhões de euros», face aos benefícios para os utentes (em termos de poupança de tempo e combustíveis, entre outros). Era, por isso, o único cenário com uma «taxa de rentabilidade negativa até 2030». No entanto, algumas Câmaras da Serra da Estrela prometem não desistir tão cedo da construção dos túneis e já anunciaram que vão pedir uma audiência ao primeiro-ministro para o sensibilizar para a «importância regional» desta opção.
Logo na quarta-feira, o edil de Gouveia foi o primeiro a pedir ao secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas que «não tomasse uma decisão apressada, após tantos anos de espera». Álvaro Amaro até citou o estudo da EP, segundo o qual os túneis são, apesar dos custos, «a opção que garante melhor conectividade de toda a região, maior desenvolvimento local, emprego e coesão social».
Do outro lado da Serra, José Manuel Biscaia, presidente do município de Manteigas, acrescenta a proposta de criação de portagens para a travessia da montanha por túnel, mas receia que «questões economicistas» isolem ainda mais o seu concelho. «Não avançar com os túneis é ter uma fraca noção de ordenamento do território, além de que Manteigas fica completamente excluída de uma ligação condigna à A23 ou a qualquer outra estrada de acesso», critica.
Luis Martins