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«Gostava que o Aquilo fosse um espaço de produção artística e não de destruição de pessoas»

Cara a Cara – Entrevista

P- Desde das eleições que o Aquilo-Teatro vive uma certa divisão do grupo. O que é que se passa com a orgânica desta cooperativa?

R- Neste momento vou apresentar a minha demissão do cargo de presidente porque estou perante dificuldades incontornáveis decorrentes de uma permanente e activa agressividade que provocou uma divisão interna na cooperativa, insustentável sob o meu ponto de vista pessoal.

P – Que tipo de pressões é que se está a referir?

R – Não queria entrar em muitos pormenores, porque esses assuntos foram tratados num espaço próprio, na recente Assembleia Geral, e foi o culminar de uma situação que se vinha já arrastando. Portanto não quero, naturalmente, servir-me dos órgãos de informação para “lavar roupa suja”. A situação está clarificada. O que quero é demitir-me e não pretendo especificar questões de ordem pessoal.

P – Foi uma decisão difícil?

R – Extremamente difícil e penosa. Porque já estou ligado ao Aquilo há bastantes anos e por isso custou-me a tomar esta decisão. Até porque nunca vim para o Aquilo, e muito menos para um cargo de direcção, para retirar protagonismo pessoal ou profissional.

P- Mas, então, o que o levou a tomar essa decisão?

R – Um conjunto de situações que sob o ponto de vista humano, pessoal, de cidadão e cooperante eram inadequadas. Gostava que esta cooperativa fosse, e espero que venha a ser, um espaço de produção artística e não de destruição de pessoas. É um processo extremamente complexo e interno para ser exposto na “praça pública”, levaria a uma situação de confusão pública que não interessa à cooperativa.

P – Esta demissão é só do presidente ou da equipa que estava consigo?

R – Neste momento não sei. Até porque é um assunto interno, é a minha posição pessoal decorrente de uma situação global, que me leva a tomar esta postura. Nesse domínio os outros elementos falarão por si próprios, não quero pressionar, nem condicionar as consciências de cada um.

P – Qual é que foi a reacção dos cooperantes quando anunciou a demissão na última assembleia?

R – Não estive olhar para o rosto de cada um, mas na verdade fiquei bastante satisfeito, pois, foram maiores as manifestações positivas do que as negativas. Tomei esta decisão e não volto atrás.

P – Esta demissão significa que se vai afastar do Aquilo-Teatro?

R – Por enquanto, não. Significa só um afastamento do cargo, pois não me demito de cooperante. Mas vou estar disponível para o trabalho artístico que é uma área que sempre me apaixonou, tal como estive até agora. Tendo em conta, também, as minhas capacidades e qualidades para fazer outras coisas, claro.

P – No entanto, até novo escrutínio vai continuar a ser o presidente, e há projectos para continuar…

R – Nesta altura não faz muito sentido deixar a ideia do que gostava de ter feito. Mas existem três projectos mais significativos que estavam programados para este mandato. Nomeadamente, uma das propostas que estava em cima da mesa era a criação de grupos de trabalho nas áreas a que o Aquilo se dedica, designadamente no teatro, da música, das edições, entre outras. Outra questão que já está decidida e vai ser tratada em breve é a reorganização da nossa sede social. Com a finalidade de dinamizar e animar o espaço, transformando-o num espaço convívio, o qual servirá de Café-Teatro no âmbito do Festival de Teatro que vai decorrer na Guarda, em Setembro. Depois há um projecto nas áreas de formação para crianças e jovens, com o apoio de parcerias com algumas instituições, pois “ilhas isoladas não são produtivas”. Todas estas coisas são importantes para o futuro do Aquilo, e para a tal é fundamental mobilização das pessoas.

P – Esta crise está relacionada com a passagem de um grupo de carácter experimental para um mais popular?

R – Não estava aqui em causa uma ruptura com uma linha experimental. Essa é uma ideia errónea que se começou a espalhar, e até já reconhecida num espaço próprio por algumas pessoas que vieram afirmar isso. Há muitos equívocos, o que acontece é que uma cooperativa deve ser aberta a ideias e pessoas novas. De facto, essa linha experimental manter-se-ia…

P – Esta demissão não poderá ser o fim do Aquilo-Teatro?

R – É seguramente um novo começo, com pessoas e ideias novas. Se não tivesse tanta certeza disso não teria tomado a decisão que tomei. Isso é uma certeza. O Aquilo não vai acabar.

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