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Gerações à rasca: uni-vos (mas atuai)

No passado sábado, um pouco por todo o país assistiu-se à manifestação de milhares de jovens (e não só) que quiseram exercer um direito democrático e mostrar o seu descontentamento. Apesar de não ter participado na manifestação (pese embora saiba sobejamente o que são recibos verdes, contratos a prazo, casinha dos pais, etc.), considero que a ação de rua foi um exercício saudável que significa que os jovens portugueses estão, finalmente, a acordar da letargia cívica que a abundância material dos anos 90 lhes provocou.

No entanto, foi ainda e apenas um movimento reativo: os jovens sabem e mostram que o mundo não está bem, mas ficam-se por aí. E é preciso que se passe do agir por reação para o agir com proatividade. O primeiro passo, a perceção de que algo vai mal, é importante como diagnóstico, mas, mais do que isso, é preciso que nos queiramos envolver, suar e tentar mudar algo pelas próprias mãos. Em suma, trata-se de largar a comodidade do dizer para ousar no risco do fazer.

Há pouco mais de um ano eu era (mais) um jovem que não gostava da política. Então, e por essa razão, decidi entrar para a política, encontrando o meu espaço na JS do distrito da Guarda. Entrar para a política é o que devem fazer todos os que não gostam da política. Se nos indignamos com algumas ações dos partidos, então devemos entrar neles para os transformarmos; se não nos identificamos com nenhum, então devemos tentar criar outros (ou movimentos de intervenção); se não concordamos com o sistema de compadrios que vemos na nossa associação, freguesia ou município, então devemos agir ativamente sobre essas instituições. Moer e remoer o que vai mal ao balcão da tasca – quais treinadores de bancada – não altera um milímetro à realidade.

Em democracia, somos todos políticos em potência. Este sistema (que felizmente herdámos de 74) permite-nos intervir se assim o quisermos e, que se saiba, até agora o mundo ainda não inventou nenhum sistema menos imperfeito que a democracia. Criticar a política e os políticos sem descalçar as pantufas e sair do sofá (a música dos Deolinda também critica a inércia desta geração, embora ainda não tenha visto ninguém focar esse ponto), sem apontar soluções ou mover esforços para melhorar a “res pública”, é criticarmo-nos a nós próprios, seja por atos, seja por omissão. E muito temos nós “pecado” por omissão.

Acredito que esta geração vai despertar desta letargia cívica e que, no momento em que perder os preconceitos acerca da política, vai envolver-se nela e vai transformá-la tal como ela precisa e o país merece.

Daniel Joana, Trancoso

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