O génio, perde-se com a idade? Será possível conservá-lo eternamente e recuperá-lo quando está perdido? As ocasiões nem sempre propiciam um momento genial e uma boa ideia pode não ser passível de ser repetida. Por exemplo, quando Paul McCarteney juntou a brincadeira dos “tape loops” à vontade e John Lennon de soar como Dalai Lama no topo de uma montanha, surgiu um dos mais fantásticos momentos da história da pop intitulado “Tomorrow Never Nows”, do álbum “Revolver”. Posteriormente, no “White Album”, “Revolution # 9”- também com manipulação fitas magnéticas e a voz de Lennon debitando “#9, #9” – apenas era mais um retalho experimentalista numa manta em degradação. Uma vez os Beattles separados, nenhum por si só foi capaz de construir canções com base experimental ou assentes na clássica arquitectura bela melodia – texto interessante – refrão e ponte, interessantíssimas, apesar da ideia ser válida. No entanto, nos mesmos parâmetros, Lou Reed e John Cale, fizeram discos ao longo dos tempos, que não mantendo permanentemente um nível muito elevado, estão longe de se deitarem no lixo.
Do parágrafo anterior depreende-se não ser a idade do artista e respectiva longevidade no ramo, a definir a capacidade de elaborar um bom disco, e o caso de George Clinton é sintomático. Com 65 anos, editou em 2005, a mesma fórmula do seu “psychadelic funk”, das vertentes Parliement e Funkadelic. Como ele próprio definiu, tudo se resume a “1,2,3,4”, isto é, marca-se o compasso e o movimento perpetua-se, mas o “p-funk”, é também um manifesto de cultura pop de aparente ilusão somente lúdica, onde a banda desenhada se cruza no espaço sideral em busca de um lugar onde as dimensões não são facilmente mensuráveis, por não existirem pontos de referência material tal como na terra. Assim, a banda desenhada no cosmos, é uma camuflagem para um acto de reflexão sobre o estado do mundo e da alma, num intervalo musical de origem “R&B” com possível acentuação da síncope. E até a hoje se mantém esta forma de vida.
“How Late Do U Have 2b B4 Ur Absent”, começa em potente “p-funk”, atravessa o tempo num registo de deslumbramento histórico da música negra: encontra-se a balada “soul” com vozes entre o “gospel” e os arranjos dos tempos do “swing”, os “rythm & blues”, o rap, reggae, deliciosas linhas de guitarra perto do “heavy-metal”, e ainda a capacidade que a música negra tem de se sustentar somente numa tela essencialmente com os desenhos rítmicos, havendo ilhas de guitarras e sopros. Esta viagem, teria de ser feita no cosmos, com um ovni claro, pois só na ficção se concretiza a síntese exposta, onde no fundo, tudo não passa de blues e é no espaço que estes encontram o lugar ideal para a eternidade. Não é por acaso que uma das célebres “Voyager” tem gravado no seu disco de ouro “Dark Is The Night” do mítico Blind Willie Johnson.
Por: Paulo Sebastião
(inicia nesta edição colaboração quinzenal)
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