Tenho conhecido tantos egos e tantas pessoas que por vezes o meu exercício é encontrar aquilo que lhe é comum, definindo padrões, formulas de rotular: egoísta, vaidoso, gentil, pleno. Um tipo grande não nos vende o seu percurso todo e as suas ideias em comprimido. Deixa-nos mastigar, permite-nos espaço de opinião. Uma mulher fascinante não nos cobre com os filhos, os problemas de casa, as dúvidas com a empregada. Uma egoísta fala dela, da sua relação, da sua vida, dos desacertos com a mãe. A conversa torna-se monótona e pesada. Que digo? Não sou suposto dizer, sou um muro de lamentações e calo-me. Quem me conhece sabe que isto é difícil, mas há quem me consiga silenciar pelos temas, pela velocidade do discurso, ou pela impenetrabilidade do tema. Alguém que fascinado em imagens do Buda de pé nos afoga de budismo, ou alguém que obcecado na sua investigação nos converte em banca de pipetas. Aquele que metido num conflito nos descarregas os dossiers da lei. O outro que só sabe de século XV e nos enfarta de Reis e batalhas. E há os que nos falam sem parar das suas viagens que invejamos mas não sabemos opinar. De facto encontrar um bom conversador é uma bênção de Deus. Descobrir uma pessoa com quem nos apetece estar à partilha das palavras é uma fantasia. E nada disso é amor, ou paixão. E nada disso é sentimento. O prazer da conversa é um privilégio do intelecto e do conhecimento, estando inevitavelmente carregado de momentos “em que não sei”. Não saber é uma cultura elevada. Descobrir que não sabemos e que opinar sem saber nada é um defeito, também faz parte dessas raras pessoas que inferem da experiencia, que agregam das ciências e dos livros, que transportam o fervilhar intenso da vida e sua integração nas gavetas da tolerância, do senso, da adaptação, da serenidade, do respeito, da educação. Estas são as gavetas que todos recebemos em tamanhos diversos e nos dão a capacidade de formar o nosso entorno.
Por: Diogo Cabrita