Muitas das cerca de 190 trabalhadoras da Gartêxtil regressaram no passado domingo à empresa da Guarda-Gare, onde trabalharam durante anos, com a esperança de conhecerem finalmente uma solução. Porém, as expectativas foram defraudadas logo no início do plenário quando Carlos João, presidente do Sindicato Têxtil da Beira Alta (STBA), anunciou que estavam esgotadas as negociações entre o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI) e o grupo de empresários interessado em comprar a fábrica. Também a falência não chegou a ser votada, tendo sido adiada por mais uma semana, uma decisão que será tomada segunda-feira. «É o nosso último prazo», sublinhou o sindicalista.
Contudo, esta decisão revelou as divergências entre o dirigente do STBA e José Manuel Costa, da União de Sindicatos da Guarda, quanto à continuidade da luta na Gartêxtil. O primeiro acha que «já não há razões para continuar a lutar» e envolver os trabalhadores numa acção «em que já não acreditam», pelo que defendeu que a melhor opção é avançar com o processo de falência para que ainda possam salvaguardar as indemnizações. Posição contrária defendeu o segundo, para quem é necessário «continuar a lutar», tanto mais que o ministro da Economia disse recentemente na Guarda «que o processo da Gartêxtil não estava encerrado» e que havia uma auditoria a decorrer. Por outro lado, José Manuel Costa recordou que ainda ninguém esclareceu a facturação da empresa e que se isso não acontecer «o poder político deve assumir as responsabilidades» pelo fecho da Gartêxtil. Contradições à parte, o plenário decorreu num ambiente caloroso e comemorativo dos 30 anos da revolução portuguesa. Só que os cravos vermelhos oferecidos às trabalhadoras não fizeram esquecer o desânimo de quem espera por uma solução há quase dois anos.
Carlos João explicou que o grupo de jovens empresários interessados na empresa já não está disponível, pois o IAPMEI «não garantiu as condições financeiras necessárias». Mesmo assim, o plenário foi unânime em adiar para 3 de Maio o pedido de falência e esperar por uma «resposta definitiva» do IAPMEI, apesar do sindicalista já não acreditar que a semana protagonize «um milagre». Nesse sentido, anunciou que este é o «último prazo» dos trabalhadores, que avançarão finalmente com as rescisões dos contratos e votarão a falência da Gartêxtil se não houver novas propostas até segunda-feira. «Tenho a certeza que os interessados irão aparecer quando isso acontecer, pois sabemos que há “abutres” à espera que a Gartêxtil abra falência para ficar com ela por um preço inferior ao que vale», denunciou o dirigente sindical. Carlos João aproveitou ainda o plenário para acusar o Governo de estar a levar a cabo «uma política que está a destruir o aparelho produtivo», o que na Guarda vai traduzir-se no encerramento de mais uma empresa no final deste mês. Trata-se das Confecções Sénior, sediada no parque industrial da cidade, que empregava mais de meia centena de trabalhadores.