P – Tem alguma explicação para o sucesso desta primeira edição do Concurso Nacional de Piano da Cidade da Guarda?
R – O regulamento foi bastante claro e não houve nada que criasse algum tipo de dúvidas sobre a credibilidade do concurso. A divulgação foi relativamente bem feita, embora um pouco tardia, o programa bem escolhido tendo em conta as categorias a concurso e os prémios eram apetecíveis. Houve prémios monetários, atribuídos sob a forma de cachet por um concerto no TMG, e eram bastante bons relativamente à média do que se vê por aí.
P – Portanto, os vencedores vão actuar no TMG proximamente…
R – O concerto dos laureados será a 12 de Dezembro, mas não quer dizer que só esses vão tocar. Em princípio – é uma coisa a acordar com os responsáveis do Teatro Municipal –, todos os premiados serão convidados a participar.
P – O concurso tinha também uma vertente pedagógica, isso foi conseguido?
R – Sem dúvida. Para já, serviu para que todos os participantes vissem o que há de novo em termos de execução pianística ou quais são as novas promessas do piano. E também para que houvesse um convívio e intercâmbio, até de escolas diferentes, pois tivemos pianistas de Lisboa, Porto, Aveiro que puderam ver-se tocar uns aos outros, além de trocarem experiências, reportórios ou conversar.
P – E passaram pela Guarda novas promessas do piano português?
R – Parece-me que sim, embora haja muitas escolas e centenas de alunos de piano em Portugal. Nós tivemos uma vintena de concorrentes, mas, em termos representativos, parece-me que as coisas foram demonstrativas da sua qualidade. Por exemplo, a pianista que venceu o primeiro prémio na categoria B, dos 9 aos 14 anos, já ganhou vários concursos e, portanto, tudo indica que seja uma promessa de novo talento. Mas, às vezes, há terceiros prémios que são logo indicativos de uma propensão para seguir carreira. Tivemos pianistas muitos bons nas diversas categorias.
P – O concurso vai ser repetido para o ano?
R – Temos as melhores expectativas. Foi uma boa experiência, o concurso ficou bem visto, a Guarda e a organização também, pois demonstrámos que era credível e tinha nível. Não foi só um concurso na Guarda, com aquela ideia associada do interior, já que teve um grau de exigência muito grande até ao nível de programa. De resto, as decisões foram equilibradas e não houve qualquer polémica. Acho que o concurso ganhou um lugar e terá que se repetir…
P- Eventualmente com maior êxito, uma vez que já conquistou esse factor de credibilidade?
R – A primeira edição foi um tiro no escuro, até para os próprios concorrentes. Esperamos que na segunda haja mais nível e pianistas, mas neste momento nada está acertado com o TMG, embora pense que há uma vontade comum de voltar a realizá-lo.
P – Tiveram receio de que essa imagem de cidade do interior pudesse limitar a participação?
R – Tivemos um receio q.b., apesar de ter havido outros factores que contribuíram para que assim não fosse. Tivemos o professor Fausto Neves, que é um pianista de grande prestígio, tal como Joana Resende, e essa associação com pianistas de grande credibilidade também ajudou. De qualquer maneira, as pessoas já vão ganhando o hábito de que os concursos não têm necessariamente que se passar só em Lisboa ou no Porto.
P – Qual é a expectativa de retorno para o Conservatório da Guarda?
R – Há vários tipos de retorno artístico e pedagógico, desde logo o facto de ser importantíssimo para os nossos alunos poderem assistir a um concurso de topo e verem o que se passa pelo país. Depois, é um estímulo para eles. Tivemos um aluno a concorrer na categoria C e que conseguiu passar à final, o que é bom, esperamos que isso também sirva de exemplo para os restantes alunos. Esperamos também que tenha despertado algum interesse na população em geral, pois viu-se piano bem tocado ao vivo e mostrou-se para que serve, afinal, andar no Conservatório, que é para preparar prestações artísticas de grande nível e que podem ser conseguidas em várias idades. Foi igualmente bom em termos da projecção do Conservatório na cidade e a nível nacional, pois acho que ficámos bem vistos no meio musical.
P – A associação Conservatório TMG é um projecto a aprofundar nos próximos tempos?
R – Sim. Nos últimos dois/três anos temos vindo a manter e a aprofundar, tanto quanto possível, essa relação e penso que tenderá a ser cada vez mais próxima e até de longo prazo em termos de projectos. Está a funcionar muito bem. Neste momento, para além das masterclass e do concurso, temos tido uma relação permanente na organização de concertos de alunos e professores nossos no café-concerto, o que tem vindo a aumentar.