Em 2000, O INTERIOR entrevistou José Briano Fernandes, agora com 82 anos, um madeirense que tinha vontade de avançar com a transformação da antiga cooperativa de Gonçalo em museu do cesteiro. Passados dezassete anos, o edifício continua abandonado e no seu interior há apenas memórias do passado.
Com o 25 de abril de 1974 foi instituído o salário mínimo nacional, mas esta imposição governamental não agradou aos donos das três fábricas de cestaria que existiam naquela vila do concelho da Guarda e as unidades fecharam. É aí que, segundo José Briano Fernandes, «a rapaziada», em que se incluía, se junta e funda uma cooperativa para produzir a inigualável arte do trabalho da verga de Gonçalo. Seguiram-se bons anos de atividade, tendo chegado a empregar 150 pessoas e mais 30 a trabalhar em casa. «Como aqui não havia creche nem infantário, as mães com bebés iam à fábrica buscar o material e faziam os cestos em casa», recorda o antigo funcionário. Contudo, os tempos áureos cedo terminaram e foi nos anos 80 que a cooperativa começa a cair num buraco sem fim.
José Briano Fernandes aponta a abertura do mercado oriental à Europa como uma das principais razões para este declínio. «O edifício foi hipotecado para pagar contribuições e impostos ao Estado e depois disso nunca mais retomou atividade», lembra. Embora tenha havido cesteiros com vontade de resgatar o projeto isso nunca aconteceu e hoje Gonçalo tem apenas cinco vendedores e dois fabricantes de cestos. «Precisávamos de um lugar central. Antes as pessoas que aqui passavam nem sequer sabiam que se faziam cestos porque não havia nada a indicar», lamenta José Briano Fernandes.
A ideia de criar um museu ainda está no ar, mas para um dos seus defensores a esperança já é pouca ou nenhuma. «O objetivo era colocar um ou dois casais a fazerem umas peças e seriam essas pessoas que tomavam conta do museu, faziam limpeza, recebiam os visitantes e vendiam os seus produtos», explica, acrescentando que o projeto não avançou e dificilmente avançará porque o povo de Gonçalo é «pouco coeso e individualista». José Briano Fernandes receia, por isso, que a arte da cestaria vai «bater no fundo», mas garante que «nunca desaparecerá».
Sara Guterres