Se fosse há uns anos atrás, seriam chamadas de “maria-rapaz”. Hoje a tendência é olhar para a prática do futebol feminino com um misto de admiração e de normalidade. È certo que os índices de força e de resistência são bem diversos nos homens e nas mulheres. Mas como em muitas outras actividades humanas também no futebol a distância entre uns e outros se vem esbatendo ao longo do tempo. Mais do que uma manifestação de um qualquer movimento feminista é um sinal da evolução filogenética do homem. Um sinal de evolução das mentes e das sociedades. Mas vamos ao que interessa. Há uns meses atrás fui desafiado, no âmbito do projecto desportivo “Estrelas da Guarda” (tema para próximo artigo) a tomar a responsabilidade técnica de uma equipa de futebol feminino. Abracei de imediato o projecto. Primeiro por saber, por via profissional, do entusiasmo que o futebol nos últimos anos vem despertando nas jovens alunas a quem dou aulas de Educação Física, segundo, por pensar poder ser interessante do ponto de vista técnico-táctico, uma vez que o treino exige a adaptação de métodos e de exercícios específicos, neste caso para o futebol feminino. Sabia que haveria adesão e que este é ainda campo por explorar em matéria de desenvolvimento desportivo, nomeadamente quanto ao aumento do número de praticantes. Mas mesmo assim devo confessar a minha surpresa pela quantidade de equipas que se inscreveram para o primeiro campeonato da Associação de Futebol da Guarda. Doze equipas, três são da Guarda (Estrelas, Guarda 2000 e Mileu) e 9 dos concelhos limítrofes. É forçoso reconhecer-se que para um primeiro campeonato não está mal. E se quanto à quantidade foram superadas todas as expectativas, a qualidade ainda vai dar mais que falar. Da curta experiência que levo como treinador de futebol feminino pude constatar que há hoje raparigas com uma técnica já bastante apurada (de fazer inveja a muitos rapazes que se pensam os craques da bola) e que revelam consideráveis índices físicos e atléticos. O início do campeonato, a 8 de Novembro deixa antever bons espectáculos desportivos. Espero contudo que a desorganização, tão própria do futebol distrital, e em especial do futebol de formação, não se venha a repetir no futebol feminino. Falo nomeadamente da não comparência das equipas de arbitragem ou da alteração das datas de realização dos jogos, tão rotineira nos escalões de formação. Também no que toca às estruturas de apoio (balneários, campos, apoio médico) se levantam algumas dúvidas sobre a adequação das mesmas ao campeonato que agora se irá iniciar. Mas acredito que a vontade demonstrada pelas jogadoras aliada à vontade de uns quantos dirigentes e treinadores e com o necessário apoio das famílias vão dar a volta às dificuldades e fazer deste primeiro campeonato um sucesso de todo o tamanho. O futebol feminino veio para ficar.
Por: Fernando Badana