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Frescos antigos em degradação na Mizarela

Técnicos aconselham preservação urgente da capela de Santo António

Foram encontrados vestígios de pinturas murais antigas na capela de Santo António, na freguesia de Mizarela, concelho da Guarda. No entanto, as grandes infiltrações de humidade no templo – que deve datar do século XVI – põem em risco um património sobre o qual ainda não há muitas certezas. Mas a descoberta de um fresco inédito do século XVI na vizinha capela de S. Pedro de Verona, em Vila Soeiro, e as semelhanças entre a arquitectura dos dois edifícios estão a empolgar os habitantes. Para já, prioritária é a resolução dos problemas estruturais da capela.

Há cerca de quatro anos, um grupo de mulheres encetou diligências para arranjar e restaurar o imóvel. Em Maio de 2007, o surgimento de vestígios de frescos antigos nas paredes chamaram a atenção das voluntárias, que solicitaram a presença de técnicos especializados do Núcleo de Animação Cultural (NAC) da Câmara da Guarda e do ex-Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), agora Delegação de Castelo Branco da Direcção Regional de Cultura do Centro (DRCC). A técnica da DRCC deslocou-se ao local a pedido dos colegas da Câmara da Guarda, mas o assunto foge às responsabilidades do organismo. A DRCC «lida apenas com património classificado ou em vias de classificação», explicou fonte da entidade, o que não é o caso: «A capela não se encontra classificada e, pala além de muito degradado, o fresco era quase imperceptível», acrescenta. Entretanto, o NAC já tinha feito o levantamento das condições de degradação das pinturas, «devido à humidade e ao desgaste».

As infiltrações têm origem no telhado e nas paredes e já provocaram grandes estragos na parte inferior das imagens. Segundo Hugo Faustino, técnico de conservação e restauro do NAC, o primeiro passo é «arranjar o telhado, refazer as juntas exteriores e tentar encontrar, ao nível do chão, um sistema de drenagem para que a pintura não continue a degradar-se a este ritmo». Metade das paredes da capela foi arranjada no final do ano passado, mas a comissão de voluntários espera que, em 2008, se consiga actuar no restante e aplicar um novo telhado. Após este trabalho de prevenção, deverá seguir-se um estudo pormenorizado, com testes a pigmentos, elaboração de janelas de amostra para tentar visualizar a dimensão e o conteúdo das imagens e datação das pinturas. Só depois será possível pensar numa possibilidade de restauro. Os montantes envolvidos em operações deste tipo são, em regra, muito elevados, pois exigem muita mão-de-obra, altamente qualificada, e que terá de permanecer durante muito tempo no local.

Se todos estes trabalhos forem bem sucedidos, a comissão fabriqueira da Mizarela poderá pedir a classificação do imóvel, à semelhança do que aconteceu com a capela de S. Pedro de Verona. Uma vontade que pode não ser suficiente. «A paróquia tem poucas pessoas, pouco movimento e, portanto, poucos fundos», alega o pároco José Dionísio. «A disponibilidade não será grande. O mais certo é que a paróquia não tenha capacidade financeira, sabendo-se o elevado montante que estas intervenções envolvem», acrescenta. Porém, como noutras intervenções similares, os donativos da população serão bem-vindos. Mas isso não basta. Da Diocese, José Dionísio espera apenas algum apoio técnico da Comissão de Arte Sacra, pois a atribuição de verbas não tem sido hábito. «O que tem acontecido é que são as paróquias que têm de contribuir para as despesas da Diocese», refere.

Igor de Sousa Costa

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