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Fitecom aposta na diferenciação e na qualidade

João Carvalho diz que o mercado das massas «é para esquecer»

Numa altura em que a crise invade a grande maioria das empresas têxteis, ainda há algumas que se vão mantendo estáveis num panorama nacional cada vez mais negro. No interior, a “Fitecom – Comercialização e Industrialização Têxtil, Lda.” é das poucas que consegue estabilidade graças a uma política interna que aposta sobretudo na tecnologia «de ponta», na qualidade e num design «inovador».

São estas as armas desta empresa de produção de tecidos, que funciona há 12 anos na Covilhã, e ainda hoje continua a aumentar o número de funcionários. Um caso raro no sector, mas João Carvalho diz-se «optimista» porque a Fitecom iniciou a laboração num período de crise e «manteve o crescimento». «Temos que continuar a adaptar-nos a novas realidades», explica o empresário, garantindo estar atento e a tentar inovar. Para isso, a Fitecom tem funcionários «permanentemente» na investigação, tem um design dos «mais modernos» e uma qualidade «de topo», refere o responsável, também docente na UBI na área da Engenharia e do Design Têxteis. A laboração da empresa começou no Sineiro, em 1993, com cinco operários, nas instalações da antiga “José Esteves Fiadeiro, Lda.”, adquirida pela Fitecom. Em 1999 deslocalizou-se para as novas instalações no Parque Industrial do Tortosendo, onde abriu com equipamento «totalmente novo». Actualmente dispõe de 20 mil metros quadrados de área coberta e 170 funcionários, dos quais 28 são quadros superiores. Depois de adquirir também o Complexo Industrial de Lanifícios (CIL), João Carvalho reformou os trabalhadores mais idosos e aproveitou a experiência dos restantes.

Hoje, metade dos seus funcionários vieram dessas duas indústrias e o restante é oriundo das escolas profissionais da região. Daí que, contrariando mais uma vez os cenários habituais, a média de idades ronde os 35 anos. A Fitecom é uma empresa vertical do sector laneiro, onde entra a lã em rama lavada e sai o tecido pronto a confeccionar, produzindo dois milhões de metros por ano. O seu principal mercado é o europeu (80 por cento), seguindo-se o resto do mundo (20 por cento). Portugal representa apenas quatro por cento da sua facturação. É um mercado «pouco apetecível», garante João Carvalho, quer em termos de vendas, quer de investimento. «Não há criação de apetência ao investimento ao nível empresarial», lamenta, adiantando que a burocracia «é tamanha», num país em que as empresas são «constantemente assediadas pelo Governo». Sobretudo as que «vivem bem», porque «facilitam tudo» às que têm dificuldades financeiras. Quanto a manter uma empresa no interior, o empresário aponta nomeadamente o preço dos transportes, «francamente superior» ao que praticaria se estivesse em Lisboa ou Porto. «A discriminação positiva para o interior nunca mais chega», lastima, frisando que só a A23 «não chega».

João Carvalho espera agora pela electrificação da Linha da Beira Baixa, que «pode ser uma boa medida para desencravar a região», anseia, mostrando-se esperançado no ano 2007, data da conclusão da ferrovia e do Regadio da Cova da Beira, duas estruturas que «darão muito jeito» ao seu negócio, admite. No que respeita à concorrência dos países de Leste, João Carvalho diz que as empresas que lhes vão fazendo frente estão confinadas ao que «eles não querem ou não sabem fazer». A globalização afecta a indústria têxtil em geral, quer a algodoeira, a laneira ou a do vestuário, todas prejudicadas pelos produtores asiáticos, onde a mão-de-obra e a energia são muito baratas, enquanto os impostos não existem. Além do “dunping” do Governo asiático, que subsidia a exportação. No vestuário, João Carvalho acredita que apenas podem ficar na Europa Ocidental as empresas que impuserem uma marca própria e que cimentem um mercado que absorva tudo o que produzam, seja a que preço for. «Tudo o resto é para acabar», garante, afiançando que «só conseguimos sobreviver com um produto diferenciado» para o qual os asiáticos «não estão vocacionados». João Carvalho acredita que o mercado das massas «é para esquecer», ou seja, «80 por cento do mercado europeu é para ir para Leste», conclui.

Rita Lopes

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