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Finalmente candidato…

Editorial

1. A escolha do nome para encabeçar a candidatura do PSD à Câmara da Guarda foi um caminho ziguezagueante mas acabou naquela que, porventura, foi a primeira opção: Júlio Sarmento. Depois de ter sido assegurado que até ao final de 2012 o nome estaria aprovado e a máquina eleitoral começaria a ser afinada, o PSD mostrava a sua falta de unidade e tendência autofágica. O debate interno, que deveria ser sobre estratégia (política, eleitoral e de ideias para o concelho da Guarda), limitava-se à discussão de nomes, apoiantes e interesses.

O nome de Manuel Rodrigues foi dado como certo, mas, entre a oposição da Distrital e a sua inabilidade, rapidamente se percebeu que o nome do advogado estava sobre brasas. Álvaro Amaro foi o senhor que se seguiu. Recebido pela concelhia como um invasor e tratado como inimigo, cedo percebeu que o covil não era para ele – o dinossauro virou costas e fugiu. O nome de Manuel Rodrigues voltou então a ser opção, mais por voluntarismo do próprio e pressão de quem precisa ter o poder por perto do que por vontade genuína dos militantes (receber o apoio “categórico” de apenas 70 militantes é muito pouco para quem quer conquistar a Câmara da Guarda), mas o nome do advogado nunca conseguiu colher apoios para além dos acólitos do costume.

Foi assim que, enquanto os nomes anteriores foram “queimados”, o nome do próprio presidente da Distrital do PSD e ainda presidente da Câmara de Trancoso emergiu de forma consensual para tentar interromper o domínio de quase 40 anos de PS na autarquia da cidade mais alta.

Sarmento vai procurar aproximar as partes desavindas e unir as diferentes fações, se bem que isso é o que tenta fazer há meses sem sucesso – liderou mal o processo de escolha de candidato e acaba por ter de avocar para si o papel que preferia guardar para 2017. Vai convidar Manuel Rodrigues para segundo na lista à Câmara, ao que o advogado deverá dizer não. Em alternativa convidará João Prata, numa opção de risco que poderá levar a fação de Manuel Rodrigues, Ana Manso e Marília Raimundo a continuar a ser o grande adversário do PSD na Guarda.

2. A candidatura de Júlio Sarmento à Câmara da Guarda encerra alguns riscos. Desde logo a mais do que provável providência cautelar prometida pelo facto de estar impedido por lei de se candidatar. Mas, depois da decisão do PSD em Lisboa de avançar com a candidatura de Fernando Seara à revelia da decisão do Tribunal Cível de Lisboa, já se percebeu que entre a vontade de afrontar os tribunais e os recursos, as eleições serão realizadas e… depois se verá. Ora, o que acontece em Lisboa, e deverá acontecer em mais autarquias, Guarda incluída, é complicado de analisar. Desde logo porque a Assembleia da República não tratou e não esclareceu o assunto convenientemente deixando nas mãos dos juízes a resolução do imbróglio. Depois, porque vamos ter candidatos a avançar contra a decisão judicial, o que é recriminável. Por outro lado, a falta de esclarecimento do “de” e do “da” vai criar uma força e presença dos juízes na vida pública e política desnecessária.

Os dinossauros que, supostamente, a lei pretendia impedir de continuarem a reinar no poder local vão continuar por aí, mesmo que contra a vontade dos tribunais. O candidato à Câmara da Guarda do PSD vai ser mais um.

Luis Baptista-Martins

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