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Festa estragada

Várias autarquias da região Centro ficaram sem ecrãs gigantes para ver jogos do Euro 2004 e ameaçam processar empresa responsável

Um sentimento de revolta e desilusão invadiu os mais de 200 espectadores que se deslocaram no último sábado ao Estádio Municipal da Guarda. Tudo porque, ao contrário do que tinha sido anunciado, não puderam ver o jogo inaugural do Euro 2004 num ecrã gigante, nem desfrutar da animação prometida, uma situação que se repetiu em mais 16 concelhos da região Centro, entre os quais se contam vários dos distritos da Guarda e Castelo Branco. A Câmara da Guarda garante que a culpa é da Associação para o Desenvolvimento do Turismo na Região Centro, entidade responsável pelo projecto que mereceu a aprovação da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Centro (CCDRC) para a promoção de actividades lúdicas no âmbito do Euro. Na opinião da autarquia, a ADTRC não cumpriu o protocolo assinado em Abril.

Neste sentido, a autarquia da Guarda vai proceder judicialmente contra a Associação: «Não podemos ficar de braços cruzados. Queremos actuar e de imediato. Este é um assunto de tribunal e iremos até às últimas consequências para que a Câmara seja indemnizada, não só pelos danos materiais, mas também pelos danos morais que isto causou às pessoas envolvidas e sobretudo à população», sublinhou a regressada Maria do Carmo Borges. Para a edil, a autarquia da Guarda foi «tão só burlada por uma associação, até porque uma das cláusulas era a de que a Câmara pagasse antecipadamente aquilo que nos propunham realizar», no valor de 33.700 euros, sendo este o “pack” «menos oneroso», explica. De resto, Maria do Carmo compreende «a desilusão, o desencanto e, se calhar, alguma raiva dos espectadores» que estavam no estádio quando souberam que não havia condições para poderem ver o jogo de Portugal. Atitude idêntica assume Álvaro Guerreiro, vice-presidente, que lidou mais directamente com todo o processo e que reitera a intenção da autarquia avançar com um processo nos tribunais. «Iremos exigir responsabilidades e o ressarcimento de todos os danos, daqueles que é possível ressarcir, porque há alguns que não o são, como a imagem da própria Câmara e o vexame que isto foi a nível pessoal e profissional», sublinha.

Uma tela e um projector de imagem

Guerreiro salienta que a Câmara da Guarda decidiu aderir ao programa da Associação de Desenvolvimento de Turismo da Zona Centro porque este se enquadrada na estratégia que a autarquia tinha delineado para o Euro 2004. O protocolo foi assinado em Abril na presença do ministro-adjunto José Luis Arnault e do, então, presidente da CCDRC, Paulo Pereira Coelho. Contudo, o processo da instalação do ecrã gigante foi uma verdadeira “rábula” digna de uma telenovela, com constantes “promessas” da associação de que o ecrã iria chegar, mas o que é certo é que os dias foram passando e até sábado à tarde, nada. Até que, depois de várias tentativas de contactos com o responsável pela associação, Álvaro Guerreiro falou com Maria do Carmo e ficou decidido que a iniciativa iria ser suspensa. No entanto, deu-se um novo “volte-face”, já que por volta das 16 horas recebeu um telefonema de um funcionário a dizer que estava a chegar à Guarda para montar o equipamento. Mas, para espanto geral, o funcionário chegou com uma «coisa estranhíssima», uma tela e um projector de imagem, que se veio a constatar não permitir a transmissão da partida. Foi então que Álvaro Guerreiro quis saber o que se passava nos outros locais, tendo constatado que a Guarda não era a única a ser «contemplada com esta defraudação e esta burla», havendo situações muito semelhantes em Viseu, Fornos de Algodres, Celorico da Beira, Fundão, Pinhel e Castelo Branco, entre outras. Perante esta situação, tentou mais uma vez contactar a associação, mas novamente sem sucesso, tendo então enviado dois faxes, um na manhã de domingo e outro na segunda-feira onde dava conta de que a autarquia guardense iria accionar os meios judiciais. Até ao fecho desta edição não foi possível contactar o responsável pela Associação de Desenvolvimento de Turismo da Zona Centro, José Manuel Ribeiro, que, em declarações à Rádio Altitude, “atirou” as culpas para a empresa contratada: «A única questão em relação ao projecto global que englobava “outdoors”, pendões, um relvado sintético, informações jornalísticas, o que tenho a dizer é que a única parte em que houve atraso da empresa contratada através de concurso público foi a instalação dos ecrãs gigantes», ou seja, a parte que captaria a atenção das pessoas.

Protocolo assinado em Abril com a presença do ministro-adjunto

A Câmara da Guarda decidiu aderir, juntamente com mais de 40 municípios da região Centro, ao programa da Associação para o Desenvolvimento do Turismo na Região Centro da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Centro (CCDRC), no âmbito do contexto temático denominado Lusitânea. Recorde-se que o protocolo foi assinado a 28 de Abril na presença do ministro-adjunto José Luis Arnault e do, então, presidente da CCDRC, Paulo Pereira Coelho. O assunto foi então levado a reunião de Câmara, tendo esta aprovado o “pack” de iniciativas no valor de 33.700 euros que abrangia áreas de intervenção nas modalidades de decoração urbana, zonas de acolhimento de adeptos, campanha e meios de marketing e promoção com acções específicas que passavam por bandeiras, muppies, pendões, outdoors, campos sintéticos, ecrãs gigantes, decoração de stands, anúncios, kits promocionais e mapas. No protocolo, ficou ainda estipulado que a associação ficava responsável pela instalação do relvado sintético e do ecrã, enquanto que a autarquia garantia a infraestruturação do espaço.

Covilhã e Fundão também ameaçam agir judicialmente

À semelhança da Guarda, também as Câmaras da Covilhã e do Fundão ameaçam agir judicialmente caso a situação não se resolva ou se o dinheiro adiantado não for devolvido. Na Covilhã, o ecrã gigante deveria ter ficado montado no terraço do Shopping do Sporting que, para além da exibição dos jogos do Euro, deveria mostrar algumas películas cinematográficas. Já o Fundão tinha garantido animação e entretenimento através de uma “Fan Zone” instalada no Pavilhão Multiusos, equipada com relva sintética e um ecrã gigante para os adeptos de futebol assistirem aos jogos. Apenas o ecrã gigante ficou a faltar, tendo sido substituído no dia da abertura oficial do Euro «e em cima da hora» por um vídeo projector que «penalizou em muito o início do evento e defraudou as expectativas dos fundanenses que se dirigiram ao Pavilhão Multiusos», disse o vereador Paulo Fernandes a “O Interior”. Para já, a autarquia fundanense solicitou uma «reunião com carácter de urgência» junto da CCDR para serem «ressarcidos» dos 120 mil euros que tinham pago adiantados pelo aluguer do equipamento, à semelhança das outras autarquias. «Esperemos que o facto de termos pago adiantado não seja sinónimo de mau serviço», avisa o vereador, relembrando que o município fundanense «cumpriu todas as obrigações, adaptámos o multiusos para ter qualidade na Fan Zone e esperamos que o nosso esforço, que é a imagem da Região Centro, seja valorizado e que sejamos ressarcidos». Segundo Paulo Fernandes, já não faz sentido ter o ecrã gigante no Fundão depois de todo o esforço em adaptar o pavilhão para o vídeo projector. «Vamos esperar que as pessoas voltem a aderir à Fan Zone», desabafou. Por sua vez, Joaquim Matias, vereador da Câmara da Covilhã, disse à Rádio da Covilhã que esperava ver a situação resolvida «quanto antes» para que os covilhanenses possam assistir aos jogos no terraço do Sporting.

Ricardo Cordeiro

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