Votado ao abandono do lado português, o troço ferroviário entre Barca d’Alva, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, e a localidade espanhola de La Fregeneda vai ser recuperado para fins turísticos. O anúncio foi feito na semana passada pelo presidente da Diputación de Salamanca na FITUR.
Na Feira Internacional de Turismo de Madrid, Javier Iglesias falou num «projeto ambicioso» e «único na Europa», recordando que esta via é uma obra de engenharia do século XIX «única pelas suas características». São 17 quilómetros que atravessam o Parque Natural das Arribes, no Douro, ao longo dos quais foram construídos vários túneis e pontes numa «zona de grande beleza paisagística». Segundo o responsável, o objetivo é criar uma rota turística ao longo desta via, que será reabilitada, tal como as estações, de forma a receber os visitantes. A Diputación acredita que o empreendimento, que se espera venha a contribuir para o aumento significativo do turismo na região, favoreça «a criação de emprego, fomente o empreendedorismo e a fixação de população na zona de influência da ferrovia», afiançou Javier Iglesias.
Nesta apresentação, o presidente da Diputación sublinhou que «um dos pontos fortes é, sem dúvida, o facto de ser uma aposta que une dois países. Tanto Espanha como Portugal vão beneficiar deste projeto». No entanto, do lado português tudo está parado no tempo entre o Pocinho (Vila Nova de Foz Côa) e Barca d’Alva. Quem não vai esperar são “nuestros hermanos”, que contam lançar o concurso dos trabalhos durante o mês de março. A ideia é arrancar com os trabalhos este ano, que consistem na instalação de 500 novas travessas na via, na melhoria da segurança nas pontes, na consolidação dos túneis e na reabilitação das antigas estações ferroviárias. Em dezembro vão assinalar-se os 129 anos da conclusão da construção da Linha do Douro, com a abertura do troço entre La Fuente de San Esteban (Salamanca) e Barca d’Alva, que em tempos idos permitiu ligar o Porto a Salamanca.
A construção desta ferrovia, que segue pelas devesas do campo salmantino e entra em Portugal junto ao Douro, foi iniciada em 1883, inaugurada em 1887 e encerrada há cerca de 29 anos. Do lado espanhol, o troço até Boadilla fechou em 1985, enquanto em Portugal os comboios deixaram de circular até Barca d’Alva dois anos depois, data em que fechou portas a estação local. A partir daí, a linha termina no Pocinho. Considerada «um exemplo de engenharia civil único», o Ministério da Cultura espanhol classificou-a como Bem de Interesse Cultural, com a categoria de monumento. Mas do outro lado da fronteira a via está totalmente votada ao abandono, apesar de, em 2009, ter sido assinado um acordo para a reabilitação do troço entre o Pocinho e Barca d’Alva.
Luis Martins