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Fernando Girão: médico de família

Coisas…

Faz agora uma semana publicou “O Interior” a primeira entrevista de fundo com o novo director do hospital de Sousa Martins.

Tenho para mim que aquele que tem sido apontado como um dos principais “defeitos” do perfil do novo director, pode constituir, afinal, um dos seus maiores trunfos na travessia que vai iniciar: refiro-me ao facto de ser um médico da carreira de clínica geral sem experiência de gestão na área hospitalar. Entre os inúmeros problemas com que vai ter que lidar (e dos quais parece, aliás, perfeitamente consciente) há um aspecto para o qual se apresenta especialmente bem colocado: a articulação entre o hospital e os centros de saúde do distrito, entre os serviços hospitalares e os médicos de família. Esta articulação tem sido deficiente ao longo dos anos, com um nível de comunicação muito aquém do que seria desejável e com prejuízos evidentes quer para os doentes, quer para os próprios profissionais.

Sem pretender abordar aqui os inúmeros aspectos a necessitar de “tratamento” urgente na relação entre os cuidados primários e a medicina hospitalar, há um em particular que é abordado quase por acaso na entrevista e que diz respeito à questão da maternidade: efectivamente, tem ocorrido nos últimos anos uma diminuição do número de nascimentos no hospital da Guarda, bastante superior à diminuição ocorrida no distrito. Por outras palavras, há grávidas no distrito que têm sido “desviadas” para os hospitais vizinhos. A investigação das causas deste fenómeno é essencial para que a Guarda se possa apresentar como principal candidata à concentração de todas as maternidades da Beira Interior. O seu estudo não pode ser feito sem a colaboração de todos os médicos de família do distrito e é aqui que Fernando Girão pode e deve desempenhar um papel fundamental. Não tenho dúvidas de que conhece como ninguém toda a “anatomia” da medicina familiar do distrito e tem que ser por ele que vai passar a nova articulação entre o hospital e os centros de saúde e extensões.

Na actual conjuntura não é admissível que médicos que tratam o mesmo tipo de doentes não se conheçam, não troquem informação e não confiem uns nos outros. Mantendo ainda como exemplo a maternidade, não tenho dúvidas de que a maioria dos médicos de família do distrito desconhece a realidade clínica, técnica e humana do serviço de obstetrícia do HSM; o contrário também é verdade: os obstetras do hospital desconhecem na maioria dos casos as condições em que trabalham os seus colegas da medicina familiar que são, em muitos casos, quem primeiro contacta com a grávida.

Este tema que, desenvolvido, daria para 10 ou 20 crónicas do tamanho desta, pode ser adaptado a praticamente todas as valências do hospital e não tenho dúvidas de que Fernando Girão e a sua equipa têm todas as condições para deixar a sua marca.

Vamos ver.

Por: António Matos Godinho

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