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FELICIDADE

por Beatriz Almeida (11º B)

Por vezes, apodera-se de nós a estranha sensação de algo incompleto. Não sei como descrevê-la, sendo esta um pouco agreste de ser entendida e ainda mais agreste em ser explicada. Tenho a plena certeza que todos são adeptos relutantes deste sentimento obscuro. Algo inacabado, pendente, que não compreendes, um vazio irremediavelmente crónico. De certa forma esperas que o futuro consiga arrebatar essas pontas soltas. Há pouco li esta frase: “Falhámos a vida, creio que sim… Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre, na realidade, aquela vida que se planeou com a imaginação.” Todos falham alguns dos objetivos traçados pelo platónico ser metafísico que habita o nosso cérebro. Durante toda a vida, somos bombardeados com mil olhares, mil tarefas, mil pessoas, mil desilusões e mil sorrisos. E daí advêm os assuntos que, (in)voluntariamente, foram suspensos. Sentamo-nos, refletimos, lembramos e concluímos. Recordas-te daquele beijo que ficou por dar, daquele pedido de desculpas que ficou por pedir, ou daquela onda do mar que ficou por apanhar. Há sempre aquele abraço que não recebeste, as palavras cruciais que não disseste, ou aquele tumultuoso adeus que ficou preso na autoestrada da tua faringe.

Gostava de saber porque é que as pessoas se separam. Talvez por força do tempo, distância ou atitudes. Tu sabes, aquele, agora, estranho, com o qual te cruzas no corredor e pensas: «Já fomos tão amigos…»; ou aquela pessoa lá longe que nunca mais voltaste a ver. Fomos prendados de uma cobardia genética que se enraizou nos nossos atos, cobardia essa que tem como alicerce uma parte essencial das nossas ações: o medo das consequências. Todavia, o medo reside no próprio significado da palavra que tem um carácter bastante sombrio. Se queremos singrar, temos de fugir da sombra. Por detrás desta panóplia de acontecimentos, resta-te uma alternativa – sorrir. Um sorriso que no fundo espera que aquelas pessoas para com as quais as ações ficaram interminadas, partilhem do mesmo sentimento e sintam que uma atitude ficou por tomar, apesar de nenhuma das partes o vociferar.

Consola-te a ideia que aquela onda está à tua espera, aquele abraço ainda vai ser dado, que correrás a Europa numa carrinha pão de forma, ou que existes em alguém com a mesma intensidade com que alguém existe em ti. Acima de tudo, desejas a felicidade: a tua e a deles. Para que um dia, quando os cabelos brancos te preencherem a cabeça, possas olhar para trás sem inquietações, ou arrependimentos.

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