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Fecho da Rohde deixa 372 desempregados em Pinhel

20 por cento da população activa do concelho sem trabalho a partir de 30 de Abril

A fábrica Rohde de Pinhel foi «sacrificada» pela administração da multinacional alemã na tentativa de salvaguardar a unidade-sede em Santa Maria da Feira. A “sentença” vai cumprir-se a 30 de Abril e deixará sem emprego cerca de 20 por cento da população activa do concelho. «É um desastre social e económico», considera António Ruas, autarca local, que se diz impotente para ajudar os 372 desempregados com o fecho da empresa de calçado. A Câmara já criou um gabinete de crise e solicitou reuniões com o ministro do Trabalho e delegados distritais da Segurança Social e do IEFP. «Mas alternativas de emprego não temos», indica o edil.

O anúncio do encerramento da principal empregadora do concelho deixou a cidade literalmente em estado de choque e a deitar contas à vida. A decisão foi comunicada às trabalhadoras na última sexta-feira, num plenário em que também ficaram a conhecer os motivos do fecho da Rohde, instalada em Pinhel há quase 16 anos. Em comunicado, a gerência refere que esta unidade, mais recente e com pessoal mais novo, é «sacrificada à tentativa de conservação da fábrica sede». Os motivos prendem-se com a crise internacional e o decréscimo «substancial» das encomendas da Alemanha, o principal país importador. Mas também com os menores custos de produção dos países do Leste ou da China, que tornam necessário «combater a concorrência com os mesmos meios». Nesse sentido, a Rohde decidiu concentrar toda sua produção em Portugal numa só fábrica (Santa Maria da Feira) e deslocalizar o resto para a Roménia, Indonésia e China. «A Rohde resistiu o mais possível a essa onda avassaladora, mas esta medida, a não ser tomada, levava ao encerramento total e definitivo», conclui o comunicado. Apesar de previsível – houve vários “lay-off” desde 2004 -, a decisão apanhou toda a gente de surpresa.

E os rostos não esconderam o choque e a revolta sentida com o facto consumado. «Não estou de acordo que a fábrica feche», disse uma trabalhadora, com mais de oito anos de casa, que já vê a desgraça abater-se sobre a sua família: «Se o marido tiver trabalho, a gente vai indo. Se não tiver, tenho três filhos e não sei como vai ser a nossa via», lamentou-se, frente à autarquia de Pinhel, onde os trabalhadores foram pedir ajuda após saírem da fábrica. «Nós queremos trabalho e não o fundo de desemprego» foi a palavra de ordem mais ouvida na comitiva de cerca de uma centena de pessoas, que acusaram a administração da Rohde de ser «injusta». «Nós sempre fomos justos com eles. Trabalhámos mais do que nos pertencia, sacrificámo-nos e nunca reivindicámos muito, mas, pelos vistos, as de Santa Maria da Feira, que estão sempre a reclamar, é que se safam», desabafou uma jovem, que prometeu ir «até ao fim». Igualmente chocado ficou o presidente, acusado por alguns trabalhadores de nada ter feito para evitar o fecho. «É um desastre. Não temos forma de ajudar tanta gente que vai ficar sem emprego», disse. Já durante o encontro com as trabalhadoras, António Ruas comunicou ter solicitado ajuda ao Governo e adiantou que vai reunir esta semana (hoje, em princípio) com o seu homólogo de Santa Maria da Feira para saber como lidou com o fecho da Ecco, que deixou perto de 300 desempregados. Já o gabinete jurídico do município apoiará os trabalhadores nas negociações com a empresa, sendo ainda contratado um advogado para acompanhar o caso. «Tomaremos as medidas ao nosso alcance para minimizar a situação desta gente», prometeu no final do dia que assinalou o início da contagem decrescente para uma crise sem precedentes em Pinhel.

Luis Martins

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