Esse homem que nunca deixou de estar no mais fundo de mim, por tão profundo, perspicaz e único, que cito com frequência – e não mais, seguramente, porque conheço muito pouco da sua obra – foi taxativo: “Vivemos rodeados de imbecis e de feras”. Refiro-me a Ortega y Gasset e já não me lembro se foi n’ A Rebelião das Massas que o escreveu.
Ignoro o que o terá levado a tão crua afirmação, isto é, se ela resultou de um ímpar assomo de lucidez ou de uma daquelas momentâneas fúrias-lúcidas, claro. É que o pachorrento “touro” (o seu signo astrológico) é de uma impressionante calma, mas, enfurecido, é melhor não estarmos à sua frente.
Ortega y Gasset era um homem absolutamente excepcional (o seu olhar basta para no-lo corroborar) e afirmou, outrossim, que “todas as questões devem tratar-se com delicadeza”. (Que haja licenciados em Filosofia que nunca leram uma linha dele mostra apenas como estão as Humanidades nas nossas universidades. Complexo perante Espanha? Ignorância que se crê douta? Altaneira presunção que se crê protegida pela “torre de marfim”?… Seja como for… como? A Espanha é um respeitabilíssimo país e à grandeza das suas cultura e arte não pode passar-se ao lado).
O mais fiável texto sobre a “matéria” que ora nos move diz-me que “só 6% das pessoas sabem o que querem”. A percentagem talvez seja excessiva, mas vamos aceitá-la como correcta.
Sem qualquer desprimor é inegável que uma substancialíssima quantidade da população é… Maria vai com as outras – mutatis mutandis válido para os denominados intelectuais de topo. Pois não foram marxistas (assim ou assado), socialistas, “socialistas”…? Como pressuposto devemos igualmente ter que é melhor considerar o político – no que ao humano respeita – como um insuperável ignorante. (Eu sei, estimado leitor, que não é nada agradável escrever isto. Mas como podemos eximir-nos à verdade? É uma aporia que ainda não sei superar. Que Deus me perdoe).
…”Vivemos rodeados de imbecis e de feras”, “todas as questões devem tratar-se com delicadeza”, “só 6% das pessoas sabem realmente o que querem”.
Tudo isto a propósito da natalidade que ameaça sugar Portugal até níveis aterradores.
Faz-se a apologia do homossexualismo e do aborto, porque eu sou dono de mim e da “minha barriga”; o hedonismo escancara-se até à obscenidade; a Igreja dilue-se cada vez mais nesta inconsciência reinante; o dinheiro – essa prodigiosa energia porque é a contra-partida material de um poder espiritual – odeia-se, ou por haver por ele um imoderado afã, ou porque se compra droga, ou…. O dinheiro deve amar-se, amar-se com transbordante pudor.
Mas não cabe tudo isto num conceito de liberdade que uma substancial quantidade dos fautores do 25 de Abril trouxeram? Não há por aí muito democrata que só o é… quando ganha? A liberdade é um ingrediente fundamental, crucial, das nossas vidas. Mas, sem espiritualidade não há liberdade. De que se espantam (quem se espantou) se Salazar, no concurso televisivo, foi o primeiro? – E era um ditador.
A TV é, na generalidade, uma insuportável enxurrada de idiotia ou repugnância; o sexo mecânico existe impante; as mentiras dos políticos passam sem qualquer sanção, do edil camarário ao ministro ou sabe-se lá quem; o Ministério da Educação uma deletéria catástrofe com que, pelos vistos, só 11% dos portugueses se importa; o País – como era possível de outro modo? – uma singularidade na Europa; a irresponsabilidade existe generalizada, tal como a incompetência em lugares de preenchimento partidário; a vida, enfim, desvalorizada (vejam-se as nefandas notícias sobre criminalidade).
Quem se admira, assim, que as crianças não nasçam? Que Portugal envelheça?
E se os políticos promovessem espiritualidade, isto é, o esforço, a seriedade, a responsabilidade e – aí sim – fossem taxativos? E se fossem capazes de lobrigar que o género humano só se entende com um homem de um lado e uma mulher do outro? E de alcandorar-se à destruição do individualismo? E de promover a preeminência das Humanidades? Sim, não venham para cá com idiotias. Não tomem a liberdade de igualar-se aos outros, de se pensarem idóneos.
– Sabem o que estão a gerar?
Por: J. A. Alves Ambrósio