Desde 18 de Fevereiro que o quotidiano dos habitantes de Fornotelheiro, no concelho de Celorico da Beira, não tem sido o mesmo. Tudo porque um militar da GNR foi obrigado a pagar o farolim do carro de um morador que partiu quando perseguia outro indivíduo. Foi a partir desse incidente que as multas de estacionamento começaram a aparecer na aldeia, algo que os habitantes garantem nunca ter acontecido anteriormente. Ao todo, já terão sido passadas mais de 20 coimas, havendo mesmo pessoas que foram multadas mais do que uma vez.
É o caso de Francisco Ferreira, o proprietário da viatura cujo farolim partido pelo GNR terá estado, alegadamente, na origem deste caso invulgar. Estranhamente, até foi ele o primeiro condutor a ser autuado seis dias após o incidente ocorrido no campo de futebol da aldeia, quando «estava com a carrinha a vender pão num sítio onde não estorvava ninguém», afirma. A 12 de Março foi a vez de outra carrinha sua e que estaciona «há 15 anos» no mesmo lugar, em frente à sua casa, na Rua da Portela, ter sido multada. «Tenho 50 anos e nunca me lembro de alguém ter sido multado no Fornotelheiro. Isto para mim é por vingança pelo que se passou no futebol, até porque o militar disse logo que alguém ia pagar o farolim», garante. Este habitante adianta que, com a carrinha estacionada no “local do crime”, «até o autocarro das crianças» passa naquela rua «sem qualquer problema». De resto, lembra que a GNR passou por ali «centenas de vezes e nunca houve problema nenhum». Mas as coisas parecem ter mudado desde 18 de Fevereiro, data em que «a lei veio para o Fornotelheiro», ironiza agora Francisco Ferreira, responsabilizando o militar que partiu o farolim da sua viatura por estar na origem desta “onda” de multas.
Também José Amaral, morador na Rua da Praça, teve os seus dois carros multados desde que «vieram para aqui multar “a torto e a direito”», critica. Apesar das multas de 30 euros cada, uma coisa garante: «Vou continuar a estacionar aqui porque não tenho outro sítio para os deixar, além de que passa por aqui um carro de meia em meia-hora», refere, corroborando a tese de que «isto foi tudo vingança». Preocupado com esta situação está Agostinho Santos, presidente da Junta de Freguesia, tanto mais que «nunca antes ninguém se tinha queixado de multas por estacionamento na aldeia». Dizendo «não querer acreditar que se trate de um acto de vingança», o autarca sempre acrescenta que «tudo leva a crer que algo se passa» para que as multas tenham aparecido desde o incidente no campo de futebol. Contudo, reconhece que, apesar de não haver placas de estacionamento proibido na localidade, as infracções existem: «Só que acontece o mesmo em todo o concelho», adianta. Assim, e por considerar que a população de Fornotelheiro está a ser «lesada», a Junta já enviou ofícios para o posto da GNR de Celorico da Beira e para o comando do Grupo Territorial da Guarda. Agostinho Santos argumenta que «as ruas são estreitas e que muitas pessoas não têm garagem», daí que não haja «outra alternativa» que não seja deixarem os carros à porta de casa. «Sempre foi assim e nunca houve problema nenhum», recorda.
Apelando ao «bom senso» das autoridades, o presidente diz que a Junta «não está contra a lei, mas sim contra uma situação que foi levantada há pouco mais de um mês». Quem desvaloriza as acusações feitas pelos habitantes de Fornotelheiro é o major António Almeida. O comandante interino da GNR da Guarda não vê «nada de anormal» nas coimas que têm sido passadas naquela aldeia, frisando que se está a «cumprir a lei». Aliás, diz mesmo que «se os autuados tiverem alguma coisa a reclamar, podem fazê-lo para a instância competente», acrescentando não ver «nenhum relacionamento» entre o que se passou no campo de futebol e o aparecimento das multas. Segundo o oficial, o agente em causa «tanto autua naquela localidade como em Prados ou em Celorico».
Ricardo Cordeiro