Vice-presidente da instituição é acusado de maus tratos a utentes e de gerir sem prestar contas à paróquia, tudo com o alegado consentimento do Bispo da Guarda
O Lar de Idosos do Centro Social e Paroquial de Vale de Espinho, no concelho do Sabugal, é alvo de queixas por parte de um grupo de familiares de utentes, que denunciam a existência de uma «gestão desumana» por parte do vice-presidente da instituição, António Lucas Fernandes.
José Domingos Clemente, um dos denunciantes, alega que os problemas começaram em 2005, quando António Lucas Fernandes “herdou” do presidente Paulo Afonso a responsabilidade da gestão da instituição. «Desde então tem aplicado aumentos arbitrários das mensalidades dos utentes, violando os princípios básicos da equidade social, e nunca respeitando a lei nem as diretivas do Centro Distrital da Segurança Social da Guarda», acusa. E exemplifica: «Em outubro do ano passado já ia no terceiro aumento, num total de 30 por cento, quando o protocolo só permite uma subida anual de 5 por cento. Em dezembro, já depois de ser notificado pela Segurança Social da Guarda acerca da ilegalidade dos aumentos, exigiu retroativos dos meses anteriores, chegando até a pedir aos familiares dos defuntos o dinheiro em questão», afirma.
O familiar de um utente garante ainda que esta direção «nunca apresentou aos paroquianos, conforme consagrado no artigo 34 da Legislação Diocesana», acrescentando que «o senhor vice-presidente só sabe gerir com abundância, fazendo obras inúteis». José Domingos Clemente alerta também para alegadas «situações de falta de higiene e medicina preventiva», bem como de «coação sobre os utentes, principalmente os não autónomos». Outra situação que merece críticas dos familiares é o facto de «só os descendentes do sexo feminino poderem dar apoio aos ascendentes no horário alargado, o que faz com que aqueles que não tenham filhas fiquem privados de visitas e assistência familiar nesse período».
O porta-voz deste grupo de familiares acrescentou que, no âmbito de uma «situação desagradável» que aconteceu com a sogra, pediu o livro de reclamações, que lhe foi negado por António Lucas Fernandes. «Só mais tarde me foi facultado. Estreei o livro, mas logo se seguiram mais queixas», sublinha, considerando que este responsável «não tem perfil para desempenhar o cargo», por ser «um homem de trato difícil, tanto com utentes e empregadas, como com familiares e visitantes». «Falta-lhe bom senso e, por vezes, provoca o confronto, não respeitando sequer a idade das pessoas», lamenta. O INTERIOR procurou obter uma reação do visado a estas acusações, mas António Lucas Fernandes nunca esteve disponível para falar apesar das várias tentativas.
«Bispo tem conhecimento, mas nada faz», acusam os familiares
As denúncias já chegaram ao Bispo, uma vez que é a Diocese da Guarda que tutela o lar. Segundo José Domingos Clemente, D. Manuel delegou no Cónego Manuel Matos a responsabilidade de ouvir os representantes dos familiares e as suas denúncias, tendo posteriormente respondido através de uma carta que considera «cheia de inverdades» e às quais os familiares já responderam. Contudo, ainda não houve resposta por parte do bispo, que é por isso acusado de «parcialidade, inoperância e de cobertura às ações» de António Lucas Fernandes. «Age como se ainda estivéssemos na década de 60 do século passado, ninguém o fiscaliza e todos lhe têm medo e por isso não têm sido convocadas eleições, nem está previsto que tal aconteça num futuro próximo», critica José Domingos Clemente.
Os familiares dos utentes adiantam que D. Manuel Felício é o único que pode acabar com «a prepotência e a atitude desumana que se está a viver na instituição por culpa e responsabilidade do vice-presidente». A O INTERIOR, D. Manuel Felício remeteu quaisquer reações para a direção do Lar de Vale de Espinho, uma vez que é responsabilidade desta «resolver e falar acerca dos problemas que digam respeito à instituição». Referiu, no entanto, que «o assunto está a ser resolvido dentro das vias normais» e que «a seu tempo será tomada uma decisão».