P – Esta é a sexta edição do Festival do Vinho do Douro Superior, provavelmente o certame dedicado ao vinho mais importante do interior do país, quais são as expetativas?
R – É um dos festivais com mais impacto a nível nacional porque – e não o podemos descurar – esta é efetivamente uma região onde se produzem dos melhores vinhos do mundo. Quando criámos este festival há seis anos tínhamos a noção que era uma grande lacuna neste concelho, onde são produzidos alguns dos ícones mundiais em termos de vinhos e há um produto endógeno de excelência, era um erro, não haver nada que pudesse promover ainda mais o produto e também a região. Em boa hora avançámos para este festival, que tem sido ao longo das várias edições um êxito total, pois começámos com 5 a 6 mil visitantes no primeiro ano e em 2016 tivemos 6 a 7 mil pessoas no fim-de-semana do certame. Espero bater este recorde este ano, aliás, já o conseguimos em termos de stands, pois vamos ter 70 espaços. Não podemos ir muito mais além porque se trata de um festival do Douro Superior e portanto estamos limitados a esta sub-região vitivinícola.
P – Neste festival ficou sempre a sensação de que, mais importante do que o número de visitantes, era que os produtores pudessem apresentar os seus produtos e comercializá-los com os especialistas. É essa a missão deste festival?
R – Este festival tem esta nuance que nos enche muito de orgulho, que é, ao contrário de outros, ter sempre presentes os próprios proprietários e enólogos das grandes marcas de vinhos produzidos no Douro Superior. É um evento que queremos que seja personalizado. Este ano não será exceção e vamos ter no pavilhão da Expocôa a fina flor dos enólogos do Douro. Depois, volta a haver visitas às quintas emblemáticas da região, algumas delas do tempo da Dona Antónia, e com muita história.
P – Quais são as quintas referência no concelho de Vila Nova de Foz Côa?
R – Não quero particularizar, até porque posso estar a privilegiar algumas delas, mas não podemos deixar de destacar a Quinta do Vesúvio ou a Quinta do Vale Meão porque são realmente os ícones da vitivinicultura do Douro. E também a Quinta da Ervamoira, que foi uma espécie de laboratório ao ser criada do zero. Todas essas quintas vão ser visitadas por jornalistas nacionais e internacionais, já que também queremos dar esta vertente internacional ao festival. Aliás, temos tido sempre provadores internacionais no concurso de prova cega, onde serão premiados os melhores vinhos do Douro Superior. É toda uma envolvência nacional e internacional que queremos dar para promover ainda mais esta região.
P – À margem da feira há todos os anos um conjunto de provas comentadas por especialistas e visitas às quintas. Qual será a novidade este ano?
R – Vamos ter uma prova comentada de azeites, outro ativo de grande valor e qualidade que temos no concelho. Nos vinhos, vamos ter provas comentadas de brancos, tintos e Portos em que os especialistas vão dar ao público informação sobre as suas características e combinações. É sempre muito interessante e a prova disso é que estas atividades estão sempre esgotadas. Depois vamos ter a animação do recinto da feira, sendo que este ano o cabeça de cartaz é o espetáculo de Tony Carreira no sábado à noite. Entretanto, o festival está a ser promovido nos concelhos limítrofes, na sede do distrito e em Lisboa e Porto.
P – Vai ser um fim-de-semana em que Vila Nova de Foz Côa se quer afirmar em termos regionais e, sobretudo, mostrar-se como a capital nacional do vinho?
R – Exatamente. No ano passado candidatámo-nos a “Cidade do Vinho”, mas a nossa ambição é concorrer nos próximos anos a “Cidade Europeia do Vinho”, isto porque temos todos os ingredientes que nos permitem fazer em Foz Côa um certame desse âmbito. Temos vinhos de qualidade indiscutível e um património ímpar, pois o Douro Vinhateiro é um dos dois Patrimónios Mundiais que o concelho tem. Por isso, acho que temos todos os requisitos para avançar com essa candidatura e, talvez, ser bem-sucedidos. Nesse sentido, este Festival do Vinho do Douro Superior serve também para nos ajudar a promover esta região de excelência.
P – Um estudo da Trivago sobre os destinos emergentes em Portugal coloca Vila Nova de Foz Côa como destino com procura crescente por parte dos turistas. Como reagiu a esta informação e até que ponto o concelho terá capacidade para receber muito mais visitantes nos próximos anos?
R – Recebemos essa notícia com muita satisfação mas sem surpresa. Estamos conscientes das nossas potencialidades e um dos vetores fundamentais da afirmação deste concelho no país e a nível internacional é o turismo, na suas vertentes cultural e paisagística. Vila Nova de Foz Côa é o único concelho que ostenta duas classificações UNESCO Património Mundial. Com o Douro e o Vale do Côa, com a beleza destas paisagens e com os recursos endógenos de excelência que temos, penso que o turismo é um fator incontornável do desenvolvimento desta região e portanto, se alguém tivesse dúvidas, estão aí dados como esses da Trivago. É para isso que estamos a trabalhar. De resto, 2018 vai ser o Ano do Património Cultural na União Europeia e já estamos a trabalhar, de forma adiantada, em termos da programação. O poder central vai ter que colaborar para que Vila Nova de Foz Côa se afirme neste vetor fundamental que é o turismo cultural.
P – É um recado para o Governo de ter que colaborar com o município?
R – Felizmente que, ultimamente, tem havido sinais positivos. Vai haver uma Cimeira Ibérica em Vila Real no final do mês e penso que esta região irá ganhar muito com esta reunião bilateral entre Portugal e Espanha. Provavelmente serão aprovadas coisas que têm a ver com Foz Côa e com esta zona transfronteiriça. Diria que este Festival do Vinho é mais uma peça do puzzle para divulgar as potencialidades de um concelho que também tem muito a dar ao país. O vinho, o Douro, os Patrimónios Mundiais, trazem gente, mas a nível internacional, por isso, este certame tem a ver com o desenvolvimento de Foz Côa, da região, mas também do país. Portanto, o poder central, de uma vez por todas, tem que olhar para Foz Côa para fazer deste concelho o novo paradigma do investimento nos territórios de baixa densidade porque o potencial está cá. Está na hora de afirmarmos o interior e se Foz Côa tem estas potencialidades, o poder central tem aqui um exemplo onde pode apostar, eu diria, com meia dúzia de tostões. É este o desafio que já lancei e estou a lançar ao poder central, que pode brilhar com meia dúzia de tostões. Portanto, estou muito esperançado no futuro. Sempre acreditei nas potencialidades deste concelho, da região e do Douro no seu todo, e cada vez me convenço mais que vai ser uma aposta ganha – já está a ser porque em qualquer índice de potencialidades turísticas, de investimento, de exportação, que possam consultar Foz Côa está sempre nos primeiros lugares. E não será por acaso.
P – Um concelho que tem dois Patrimónios Mundiais e uma pequena lacuna, que é a escassez de camas turísticas. Há alguns anos que se tenta atrair privados para investir em unidades hoteleiras em Foz Côa, como vê o futuro nesta área?
R – Isso é verdade em parte, mas quero realçar que nos últimos anos tem havido grandes investimentos em unidade de turismo de habitação e turismo rural no concelho. Temos um “aldeamento turístico” na freguesia de Murça que está praticamente cheio quase todo o ano, e esgotado aos fins-de-semana. Há também algumas unidades pequenas que têm muita procura e continua a haver procura por parte de vários operadores hoteleiros para investir no concelho. Também há o rio Douro e uma unidade hoteleira, que diria de seis estrelas, embora com uma dimensão reduzida em termos de quartos, que é as Casas do Rio, na freguesia de Castelo Melhor, e que também nos enche de orgulho porque é um projeto de topo. Mas, mais tarde ou mais cedo, outras unidades vão aparecer porque todas as semanas sou procurado por investidores. O mercado e a afluência de visitantes têm chamado a atenção dos empresários hoteleiros e, portanto, sabendo que há gente aqui com certeza que esses investimentos serão uma realidade.
P – Estamos em ano de eleições, o que ficou por fazer neste mandato em Vila Nova de Foz Côa e que gostaria de ter feito?
R – Em consciência, este executivo foi responsável pelo maior investimento que se fez em Foz Côa nestes últimos dois mandatos, isso é inquestionável e os dados estão aí, são incontornáveis. Fez-se muita coisa, mas há sempre muito que fazer. Da nossa parte, cumprimos tudo o que prometemos e até fizemos mais. No entanto, na área do turismo e dos patrimónios há muito a fazer. Os investimentos em unidades hoteleiras poderão ser uma realidade num futuro próximo, com a Câmara a ajudar. Mas – e é por isso que vou recandidatar-me – acho que falta fechar um ciclo com o Museu do Côa, o Centro de Alto Rendimento do Pocinho, o potencial turístico e os nossos produtos endógenos de qualidade excecional. Falta-nos colocar Foz Côa num patamar que seja incontornável a nível do turismo nacional. Já falámos da Foz Côa Story House, mas queremos também tirar mais partido da mais-valia que é esta nossa potencialidade turística com o Museu do Côa, as gravuras rupestres, o Douro Vinhateiro, o vinho e o nosso património. É nisso que vamos apostar no próximo mandato, como também numa maior divulgação destes atributos. Quando começamos o Festival do Vinho do Douro Superior era “um crime” uma região com esta aptidão vinícola não ter um certame dedicado a esta temática. Por isso, tal como o Cinecôa e este festival, queremos criar eventos de referência que tragam pessoas a Foz Côa. Queremos criar aqui uma centralidade dos Patrimónios Mundiais que vão da nascente à foz do Douro. Ainda há quinze dias estivemos na inauguração de um momento – feito em Foz Côa – no município espanhol onde nasce do Douro e na ocasião foi assinado um protocolo com a Associação dos Amigos do Douro Património Mundial e a Associação Ibérica dos Municípios Ribeirinhos do Douro/Duero, de que Foz Côa faz parte. O Douro é uma marca incontornável – só este ano, os chineses querem pôr no Douro 200 a 300 mil turistas. E portanto Foz Côa tem que agarrar esse desafio e essa será a nossa principal tarefa do próximo mandato: trazer cada vez mais gente ao Douro e a Foz Côa. Repare que se vierem cinco por cento desses chineses a Foz Côa isso já é uma multidão para nós.
Com todas estas mais-valias e a riqueza deste concelho, espero que haja a partir de agora outra sensibilidade do poder central. Costuma-se dizer que “não há pior cego que aquele que não quer ver” e acredito que os nossos governantes não serão cegos e vão, de uma vez por todas, olhar para este concelho como um exemplo daquilo que se pode fazer no interior. Enchemos muito a boca com os territórios de baixa densidade e depois os territórios não aparecem, mas Foz Côa tem todas as condições para que isto dê certo. Estou muito esperançado nesta cimeira, nas reuniões que tenho tido com membros do Governo e com a chefe da Unidade de Missão para a Valorização do Interior, que desta vez Foz Côa, a região e o interior poderão ter um impulso.
«A arquitetura também atrai turistas»
P – O Centro de Alto Rendimento de Remo do Pocinho tem-se afirmado pela sua arquitetura a nível nacional e internacional. Agora é a vez de ter resultados para o concelho. Como está a correr?
R – Está a correr muito bem. Houve um pequeno atraso nalgum material de divulgação, que estará finalizado dentro de dias, mas mesmo assim já tivemos várias seleções olímpicas a estagiar no Pocinho. Contamos, inclusivamente, com uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, conquistada pela seleção da Estónia, que foi a primeira a usar este equipamento. Desde então já ali estagiaram a Suíça, as equipas portuguesas da canoagem e do remo, clubes e equipas alemãs, norueguesas. Temos tido também alguns eventos e, em outubro, vamos continuar a ter com a Federação Portuguesa de Futebol, a Liga de Clubes e a APAF, que vão organizar a Semana Jovem do Árbitro. Por isso, as nossas expetativas são altas, até porque todos os atletas que por aqui têm passado afirmam que este Centro de Alto Rendimento é do melhor que há no mundo em termos das instalações, equipamentos e do espelho de água proporcionado pela barragem do Pocinho. A par do Museu, este equipamento também pode catapultar Foz Côa e a região ao mais alto nível.
P – Ou seja, a arquitetura também pode ser um nicho em termos de atração turística?
R – É um nicho cada vez mais importante. Temos tido a felicidade de tanto o Museu, como o Centro de alto Rendimento, serem colecionadores de prémios. Ainda há semanas recebemos o Prémio de Arquitetura do Douro, instituído pela CCDRC Norte, com o apoio do Porto e Norte, Direção Regional de Cultura do Norte e da Secção Norte da Ordem dos Arquitetos. Nas cinco edições já realizadas Vila Nova de Foz Côa ganhou três com a adega da Touriga Chã, o Museu do Côa e o Centro de Alto Rendimento do Pocinho. A prova de que traz gente e turistas é que, há dois ou três meses, recebemos 80 arquitetos dinamarqueses que vieram de propósito visitar o Centro do Pocinho. Em maio do ano passado tivemos mais de vinte alunos e meia dúzia de professores da Faculdade de Arquitetura de Sevilha, portanto, a parte da arquitetura também acho que vende e, conjugando com o património, está tudo ligado e pode ser uma mais-valia para o concelho de Vila Nova de Foz Côa. Tanto assim que fizemos um concurso de ideias de arquitetura para requalificar a Casa dos Almeidas, um edifício no centro histórico da cidade, onde o objetivo é contar a história de Foz Côa – e por isso se chamara a Foz Côa Story House. Acredito que daqui a dois anos já teremos mais um edifício para concorrer ao próximo Prémio de Arquitetura do Douro, que é bianual.
P – Será um centro de interpretação da história de Vila Nova de Foz Côa?
R – Sim, com a história do vinho, da amêndoa, do azeite e do xisto. Terá áreas temáticas, conteúdos interativos, um “wine bar”, entre outras valências, num investimento de cerca de 1,5 milhões de euros. Para este projeto fizemos pela primeira vez um concurso de ideias e recebemos mais de 20 concorrentes de todo o país. Ficamos satisfeitos porque houve muitos gabinetes de Lisboa a concorrer e ganhou um gabinete de Moimenta da Beira, liderado pelo arquiteto David Silva. O edifício é um quarteirão inteiro que será reabilitado para contar a história de Foz Côa. É uma obra que queremos começar ainda este ano e vai ser candidatado no fim deste mês ao PARU. Temos outro concurso de ideias de arquitetura já na forja para a remodelação do mercado municipal com a instalação de um ninho de empresas e de um centro de empreendedorismo. No caso do Centro de Alto Rendimento do Pocinho só dizer que ganhou no ano passado um prémio de arquitetura da “Revista Imobiliário”, suplantando o terminal de Cruzeiros de Leixões e o Museu dos Coches, em Lisboa. Se ganhamos a nível internacional e nacional, também ganharíamos a nível regional e foi com muito gosto que tivemos a notícia do Prémio de Arquitetura do Douro.
«Em dois anos podemos duplicar, à vontade, os visitantes ao Museu do Côa»
P – O que acha do novo modelo da Fundação Côa Parque? E do nome proposto para a sua presidência do Conselho Diretivo, Bruno Navarro?
R – Basicamente, a Fundação mantém-se. Houve uma altura, já com este Governo, em que a ideia era acabar com o modelo de fundação. O atual ministro da Cultura optou por mantê-la e haverá apenas uma pequena alteração com a entrada do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para a administração. É uma boa solução porque temos os reitores das universidades do Minho e Alto Douro empenhados e vão ter lugares de vice-presidentes no Conselho Diretivo da futura administração da Côa Parque, que tomará posse em breve. Espero, e faço votos, para que, de uma vez por todas, também aqui o poder central tenha consciência do interesse que tem, não só para Foz Côa, para a região e para o país, este património que é único no mundo e que já hoje traz a Foz Côa e ao país muita gente dos mais diversos cantos do mundo. Se assim é, mesmo com uma promoção e divulgação muito limitadas, estou convencido que se houver um esforço de divulgação, promoção e atividade cultural no Museu do Côa possamos em breve duplicar as visitas. A Fundação e o Museu são uns dos problemas que me têm ocupado há três ou quatro anos e até já sugeri que fosse o poder local a gerir um equipamento daqueles. Mais, estou confiante que em dois anos podemos duplicar, à vontade, os visitantes.
P – Mas para já prefere que seja este o modelo?
R – Nós queremos é que isto seja um êxito, que se consiga potenciar aquilo que efetivamente tem todas as condições para ser uma alavanca de desenvolvimento.
P – E sobre a escolha de Bruno Navarro?
R – Não tenho nada contra. É uma pessoa natural do concelho e portanto nós apoiamos a sua nomeação, pois queremos é que o Museu, o Parque Arqueológico e a Fundação vão para a frente. Eu próprio, sendo administrador não executivo, irei continuar porque há toda a vantagem em que continue no Conselho Diretivo. Já são dois fozcoenses em quatro elementos, além do Ministério da Ciência, e penso que temos condições para potenciar este investimento. Oxalá haja vontade política porque, no fundo, foi sempre isso que faltou, como também de investir alguns – poucos – milhares de euros. Parece-me que estamos todos em sintonia neste momento, pelo que estou convicto que dentro de muito em breve este património poderá estar ao serviço do desenvolvimento desta região muito mais do que esteve até hoje.