P – A Mêda tem uma nova Biblioteca. O concelho já precisava de um equipamento desta natureza?
R – No dia 27 concretiza-se uma grande aspiração e anseio de todos os autarcas e da população em geral do concelho da Mêda que é a inauguração da nova Biblioteca Municipal. Com a nova biblioteca, a comunidade vai ter à sua disposição um equipamento cultural de excelência. Não direi que é a aspiração máxima em termos culturais, porque não o é. Há sempre coisas importantes para fazer, mas a Biblioteca Municipal vem fechar um ciclo de grandes equipamentos culturais e desportivos, com o arquivo, a requalificação e arrelvamento do estádio, com a Casa da Cultura, o posto de turismo e o Museu Municipal. A Mêda consegue congregar em torno de todos estes equipamentos municipais algo que se nota que é um passo em frente em termos da nossa cultura, daquilo que nós pensamos para os nossos jovens. A biblioteca estará devidamente equipada com equipamentos modernos, informática, ludoteca, novos livros, jornais diários, para haver a possibilidade das pessoas visitarem a biblioteca e lerem livros. É isso que nós pretendemos. É algo que estava a faltar à nossa população, uma cultura de livro. Sabemos que a Internet é muito importante – e vai haver, também – mas também entendemos que a leitura faz parte da nossa formação e da nossa educação. Nós só podemos singrar se tivermos conhecimento dos livros, dos romances, de livros técnicos e para isso temos de acompanhar em termos de modernidade e qualidade.
P – A Biblioteca terá a particularidade de ser inaugurada pelo Presidente da República, Cavaco Silva. Que importância tem esta visita?
R – Nós não pedimos nada ao Presidente da República. Queremos que venha à Mêda, como o mais alto magistrado na nação, compreender os nossos problemas. A presença do professor Cavaco Silva na Mêda é de grande importância e relevância para este acto. Não podíamos inaugurar a biblioteca se não com o mais alto magistrado da nação. Poderia ficar por inaugurar meses, mas aguardaríamos uma possibilidade do senhor Presidente da República vir à Mêda. Conseguiu-se conciliar com a inauguração da Biblioteca Municipal da Guarda e estamos satisfeitos com isso porque entendemos que a presença do Presidente da República dá uma grande dignidade a todos, ao Município e à própria população.
P – O espólio da Biblioteca duplicou recentemente, graças aos donativos de vários beneméritos…
R – Por estranho que pareça, temos tido muitas doações de pessoas simples que vêm entregar cinco ou 10 livros que têm na sua biblioteca e que os filhos não lêem e que nós recolhemos e colocamos na biblioteca em depósito. Na próxima semana vão chegar 200 livros de uma nossa amiga e companheira, que é Virgínia Estorninho, que fez questão de nos ofertar parte da sua biblioteca. O doutor Augusto César de Carvalho ofereceu-nos oito mil livros, o professor Adriano Vasco Rodrigues também nos vai oferecer alguns. Com esta ideia de se construir algo de novo, uma nova biblioteca, as pessoas estão a compreender como é importante termos na nossa terra um equipamento de tão alta categoria e que vai dar uma grande formação aos nossos jovens e conhecimentos à nossa população. Porque a biblioteca é para todos, dos mais jovens aos mais velhos. Vai acompanhar inclusivamente em termos de acervo a Universidade Aberta e já tem livros que foram disponibilizados pela Universidade Aberta. Conseguiu-se também com esta ideia da presença do Presidente da República enaltecer que a cultura é importante.
P – Em termos culturais, o município está, agora, bem equipado? Esta área é importante para a autarquia?
R – Depende daquilo que o autarca pensa. Pode outro autarca daqui ou de outro lado pensar que não é importante termos este tipo de equipamentos, porque não é isso que dá o desenvolvimento, mas é preciso massa crítica no interior para salvar as terras do interior. É preciso que haja uma aprendizagem e uma formação e é isso que a nossa autarquia está a fazer. Uma escola nova, com novas condições de modernidades, equipamentos, informática, apoio social e didáctico. Depois, é preciso que complementarmente haja outro tipo de formação, desportiva. Apoiar os jovens e as pessoas mais adultas. Os jovens através das Actividades de Enriquecimento Curricular. A Câmara tem neste momento um conjunto de professores que são pagos num protocolo com a Direcção Regional de Educação do Centro que dá aulas de inglês, natação e teatro. Assumimos essa parceria e essa responsabilidade de dar aos nossos jovens aquilo que o Estado, que está longe, e aqui funciona precisamente a proximidade. Nós estamos mais próximos, fazemos melhor. Depois a parte cultural, com a biblioteca e o arquivo. Quem quiser vir consultar os nossos arquivos, pode fazê-lo. Tenho pena que alguns tenham sido destruídos, mas não tenho responsabilidade. Muitos papéis foram queimados antes de eu chegar e talvez documentos importantes. Houve alguns atentados ao património, porque aquilo que é registado também faz parte do nosso património, da nossa memória. E algumas memórias foram definitivamente esquecidas porque foram queimadas e atiradas para o lixo. Neste momento estamos a dar atenção a tudo o que é apetrechamento do arquivo para que possa dar resposta a solicitações e estudos, e temo-lo conseguido com documentos e fotocópias.
P – Entretanto, terminou recentemente a Expomêda. Que balanço faz da edição deste ano?
R – Na sua 10ª edição, a Expomêda foi uma boa feira. Vamos pensar na próxima, em Novembro do próximo ano, já depois das autárquicas. Os autarcas que vierem a seguir têm de pensar que a Expomêda tem algo de significativo e importante. Nesses três ou quatro dias passaram pela Mêda cerca de 20 mil pessoas. Numa época morta, em que as pessoas certamente não viriam. Numa terra do interior, com dificuldades até de acessos, é obra, é um grande trabalho, uma grande valorização da nossa cidade, e portanto não podemos por de lado estas actividades que demonstram o pulsar da nossa região, do nosso concelho.
P – Como está a decorrer o processo da construção de um pavilhão multiusos que possa acolher esse tipo de eventos?
R – Neste momento, esse pavilhão está incluído num projecto que foi apresentado ao Programa Operacional de Valorização Territorial, mas estamos a aguardar.
P – Quando é que acredita que haverá novidades a esse respeito?
R – No próximo ano.
P – E as Termas de Longroiva? Já este ano, a Direcção-Geral de Saúde reconheceu as indicações terapêuticas das águas de Longroiva. Trata-se de um passo importante para garantir o sucesso do equipamento?
R – Sem dúvida, porque no concelho há três ou quatro situações que desde a primeira hora têm sido muito importantes. Primeiro foi a barragem de Ranhados, que tivemos de construir para dar a água, o saneamento, a toda a aldeia e todas as freguesias. Isso foi um ponto crucial. A segunda fase foi precisamente consolidar em termos empresariais as Termas de Longroiva. A população, muito ciosa das suas reivindicações, entendia que as termas deveriam ficar entregues à freguesia, contra a minha opinião. Tive uma reunião com toda a população, apresentei-lhes a proposta da Câmara e disse que o que devia ser feito era avançar com o projecto, fazer novas captações, e se alguém pensasse de outra forma, a Câmara desligar-se-ia do processo. Quando saí dessa reunião, toda a gente disse para eu seguir em frente. Essclareci as pessoas e elas deram-me um grande aval de confiança e agora estão as termas feitas. Mas ainda não está tudo feito. Se calhar faltará algo em termos de restauração e de alojamento, que temos de pensar como é que vai ser.
P – O futuro das termas poderá passar, eventualmente, por uma concessão a uma empresa com experiência no sector?
R – Tudo está em aberto. Poderá ser feita uma nova sociedade, dar uma concessão a uma empresa vocacionada para a área ou pode inclusivamente a Empresa Municipal continuar a gerir as termas. Está tudo em aberto.
P – A obra do Mercado Municipal também é um projecto estruturante da cidade? Em que ponto está?
R – Em termos empresariais, o Mercado Municipal é a obra mais visível, em termos de empreendedorismo. Ali vão passar a ser feitos os negócios, passar a fazer as trocas comerciais, a própria feira vai ficar junto ao Mercado. Não há dúvida de que é importante e era necessário a Câmara tomar este projecto. Está a correr tudo muito bem, estou convencido de que no próximo ano acabamos a obra. Mas são 1.5 mil euros, que para a nossa Câmara com duas ou três obras de envergadura tem sentido muitas dificuldades de chegar ao final dos meses que vão passando e conseguir pagar.
P – Que avaliação faz do PIDDAC para a Mêda?
R – O PIDDAC é aquilo que as pessoas querem que seja. Uns dizem que não está no PIDDAC, mas têm noutras coisas. Outros dizem que têm muito dinheiro no PIDDAC, mas não acredito, porque no PIDDAC só vão ser feitas as obras que de facto vão ser feitas. Outros dizem que é o possível. O PIDDAC está muito incaracterístico e deformado, por isso vale o que vale. Há muitas obras que são feitas por organismos e empresas públicas que antes estavam no PIDDAC e agora não estão.
P – E do QREN, o que espera? Que projectos foram candidatados?
R – Neste momento estamos a preparar o projecto do pavilhão multiusos, para apresentar a qualquer momento. Temos o primeiro relvado e o projecto está numa boa fase de andamento. E temos a nova escola, em cerca de um milhão de euros. Nós estamos a andar bem. O problema é serem-nos dadas as respostas que precisamos, para iniciar as obras ou para retardar. O QREN tem vários pontos, com o PROVERE do Vale do Côa e das Aldeias Históricas. Não sei o que é que isso vai dar. São umas candidaturas de projectos sem dinheiro. E depois temos aquilo que sucedeu ao antigo Quadro Comunitário que são os eixos que determinam as possibilidades das Câmara concorrerem em parcerias umas com as outras. Neste momento temos já os nossos projectos elencados. Vamos fazer uma Assembleia Municipal para aprovar a adesão à Comunidade das Beiras de Cima, que é uma nova designação. E temos várias obras, como o Centro Lúdico, estradas, a parte da zona industrial…
P – De uma maneira geral, quais são as maiores carências do município?
R – É falta de gente. O interior está a ser muito castigado pelo abandono e o Estado tem de pensar que ou quer que as pessoas venham para aqui ou não quer. As Câmaras vão fazendo o que podem. No nosso concelho temos uma óptima qualidade de vida. Temos tudo menos gente. É aquilo de que nos queixamos. É preciso políticas alternativas que determinem que as pessoas podem vir viver para o Interior, para a Mêda e para estes concelhos, sob pena de daqui a 20 ou 30 anos não sei o que pode aqui acontecer, ficar aqui um concelho sombra.
P – Continua a defender que a Mêda é, afincadamente, um município do Douro?
R – Exactamente, sempre. Neste momento penso que está a ser cometida uma grande injustiça para com a Mêda, que é uma terra em que a grande riqueza que integra o concelho na sua grande parcela provém do Douro e da afirmação do Douro. Neste momento querem deslocar-nos em termos de região de turismo para a Serra da Estrela. A Mêda nunca foi da Serra da Estrela. Não tem neve, não tem rebanhos, não tem o frio, não tem a montanha, estamos longe, portanto não sei como é que se pode conciliar em termos de promoção turística, promover o Douro e a Serra da Estrela da mesma forma. Algo nos vai ser penalizado.
P – O sector turístico continua a ser uma aposta?
R – O sector do turismo pode ser a galinha dos ovos de ouro deste concelho, mas tem de ser devidamente planeado, estudado e estruturado, sob pena de continuarmos a potencializar coisas que não vale a pena. Temos a Aldeia Histórica de Marialva que tem sido potencializada. O próprio concelho da Mêda, com as suas piscinas, com a sua gastronomia, com um conjunto de coisas que vale a pena promover e publicitar. Agora, não podemos é estar a promover o queijo da serra, porque está desfasado localmente. É um produto genuíno da serra da Esterela. Há aqui um grande erro dos nossos governantes.
P – A Mêda ainda não tem um hotel, mas diversas unidades de alojamento em turismo rural ou de aldeia. Estão programadas novidades neste domínio? A autarquia tem mostrado interesse, inclusivamente, em se associar a iniciativas privadas que possam surgir?
R – Estamos neste momento a trabalhar para a construção de um hotel. Ainda está tudo no segredo dos deuses. Há uma ou duas alternativas, e estou com uma grande expectativa de podermos talvez no próximo ano conjugar algumas parcerias relativamente ao hotel. Ainda não há nenhum processo na Câmara, estão a decorrer negociações e trocas de impressões, o que é normal. Mas neste momento não posso estar a informar em plenitude aquilo que se está a passar porque era uma deselegância da minha parte.
P – O que é que a Mêda pode oferecer a quem visita a região, que lhe permita distinguir-se?
R – A maior riqueza da Meda são as suas pessoas. Gente hospitaleira, que gosta de receber. Depois há dois ou três ex-libris, para além dos equipamentos. As termas são uma grande alavanca em termos de desenvolvimento do concelho, e os castelos: de Marialva, Ranhados, Longroiva. Enfim, um conjunto de centros históricos, de património. E depois as nossas quintas. O tecido empresarial vinhateiro do concelho está a refazer-se numa nova mentalidade. São os produtores autónomos que têm as suas marcas, já um pouco separados da cooperativa e que estão a promover o concelho e a nossa região.
P – O Sítio Romano do Vale do Mouro continua a despoletar bastante interesse, do ponto de vista histórico e arqueológico. De que forma pode ser valorizado?
R – “O caminho faz-se caminhando”. O sítio do Vale do Mouro é um projecto ambicioso mas que tem de ser gradualmente estudado e trabalhado. Não pode, de um ano para o outro, explodir em termos de divulgação. Temos tido alguns passos concretos, chamar aqui professores, até estrangeiros, cursos de férias para as pessoas virem aqui trabalhar e fazer escavações arqueológicas, mas temos de ir muito devagar, pois devagar se faz o caminho. Mas temos a intenção de promover uma casa museu na Coriscada para valorizar as escavações, através de roteiros e de acessos.
P – O castelo e o posto de turismo de Marialva passaram há pouco tempo a ser geridos pela Câmara. Porque não estavam satisfeitos com o trabalho desenvolvido pela ex-delegação do IPPAR?
R – Entendia que o castelo de Marialva não podia ser gerido à distância a partir de Castelo Branco. Seria mais correcto a autarquia, com mais possibilidade e estando mais em cima das coisas, gerir o próprio castelo e o posto de turismo. Tem sido uma boa experiência em termos de parceria. A partir do momento que passou para a Direcção Regional do Centro da Cultura, o seu director achou que o Estado não tinha capacidades para promover a divulgação, não havia verbas nesse sentido, estaria longe, e era preciso uma entidade local para gerir. O poder local é quem está mais junto das coisas, que sabe mais, que pode potencializar mais e, portanto, Marialva ganhou muito a partir do momento em que a gestão do castelo passou a ser feita pelo próprio município.
P – Que tipo de trabalho tem sido desenvolvido nesses locais?
R – Desde logo a divulgação. Também temos tido um grande cuidado com a limpeza do castelo. As visitas já não encerram nenhum dia. Todas as pessoas que visitam o castelo de Marialva têm um prospecto a dizer o que viram. E também a colocação de merchandising no posto de turismo, coisas que as pessoas podem levar em termos de recordações, livros da própria autarquia.
P – 2009 será ano de eleições autárquicas. Irá candidatar-se novamente?
R – Entendo que devo reservar para mim o timing sobre essa matéria. Neste momento ainda não é o meu timing certo, embora, pelo andar da carruagem, se veja quem lá vai dentro. Não é difícil as pessoas aperceberem-se ou não da minha recandidatura. Não faço questão disso, estou aqui para trabalhar, sem qualquer intenção de valorizar este partido ou aquele. Mas na altura própria, a minha decisão será transmitida aos jornais. Mas posso adiantar que estou num processo de consulta nas freguesias, com alguns amigos que me têm acompanhado desde a primeira hora, para ver qual é a sensibilidade.
P – E que sensibilidades é que tem observado?
R – Sensibilidades muito positivas para mim e muito negativas para outros.
P – Caso vença, a lei de limitação de mandatos determina que seja o seu último ciclo à frente da autarquia. O que é que ainda lhe falta fazer?
R – Falta fazer muita coisa na Mêda. Gostaria de embelezar ainda mais a cidade. Concluir o estádio, o próprio mercado municipal, alguns arruamentos que temos, uma nova avenida que tem de ser construída, também ampliar a Câmara Municipal. São coisas que têm de ser feitas. E algumas estradas no concelho. Uma Câmara não pode ficar parada e chegar com uma bandeira e dizer que está tudo feito. Tudo o que está feito, está feito. Há uma tendência para as pessoas se esquecerem do que se fez e lembrarem-se mais daquilo que é necessário fazer. Nós temos de lutar com isso. O concelho vai ter uma obra que é o IP2, com algum pessimismo da minha parte relativamente ao trajecto. É uma obra de grande envergadura, vai dar uma melhor acessibilidade ao concelho e congratulo-me com isso. Foi pena o Estado não ter aceite a minha sugestão, o que vai lesar economicamente parte do concelho.
P – Mas todas as ideias de que falou são mais para cinco anos do que para um ou não?
R – Se calhar. Quando entrei no primeiro mandato, não passava pela minha mira ter o concelho todo infra-estruturado ao fim de dois mandatos, com água, estradas, saneamento e electricidade. Com algum engenho e arte conseguimos fazer coisas e apresentar projectos. Porque às vezes o problema das coisas é não se apresentarem projectos, porque quando uma ideia é boa, não são recusadas.
P – Quem poderá, depois, suceder-lhe e dar continuidade ao desenvolvimento da Mêda?
R – Não sou crente dos astrólogos. Nem eu próprio saberei dizer.