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Falso

Bilhete Postal

Num filme sobre uma jovem cujos pais não acreditam que é bombista percebi como a falsidade pode ser subtil. Um falso pode sê-lo porque a nossa cegueira não perceciona. É um erro do observador. A falsidade pode ser impercetível no caso da traição. A coisa bem feita passa indelével. Falsificar documentos já é assunto do direito e da lei. Mas o falso é um(a) tipo(a) que nos engana sem pudor. Recordo um que chorava e me pedia uns cobres. Caí. Recordo os que fizeram amigos sócios de buracos sem fim. Falso é detestar um tipo e chorar-lhe o fim. Falso é elogiar um tratante que nos paga salários. Para a falsidade fez Deus o silêncio. Por vezes basta estar calado para se perceber de que lado estamos. Um falso consegue a ilusão. Acreditamos nele porque consegue esculpir uma história, montar um cenário e escrever um teatro. Há pessoas que se vingaram do marido simulando empregos enquanto construíam dívidas. Há pessoas que montaram negócios onde não havia nada para vender e assim delapidaram os outros. Há a história de 1998 com ações da EDP, vendidas pelo BCP, para enganar milhares de pessoas. Insisto neste tema para que não esqueça. As falsas amizades são frequentes. Chegam-se para receber e nunca dão. Aproximam-se para consumir e quando partem não tinham deixado nada. Há falsas doenças que constroem ganhos secundários da fonte da pena, da fonte da misericórdia, da força do benemérito. Há falsas lesões que vendem esmolas. A falsidade descoberta carrega temperos difíceis de digerir: desilusão, tristeza, engano. Um tipo de ultradireita pode ser um biltre, um homem que incorpora muitos erros conceptuais, mas é menos falso que alguns adoçantes de esquerda que conheci. É muito mais genuíno o radicalismo dos primeiros que o refinamento de discurso de alguns que querem subir. Os segundos, aqui e ali, matam multidões. Vejam os mortos de 1977 que deixam a governação desse mito da libertação que foi Agostinho Neto. Os falsos circulam por aí. Estejam atentos.

Por: Diogo Cabrita

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