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Facebook – perigo à espreita?

O Facebook é deus e o diabo, partilha e parasitagem, individualidade e universalidade, usado para o bem e para o mal, agregador e ostracizador, para ricos e pobres, cultos e incultos, fonte de encontros, reencontros e desencontros, fonte de revoluções. É tudo isto e muito mais, por isso poucos lhe resistem, desde o presidente ao comum dos cidadãos.

O Facebook, irmão rico de uma grande família de locais nas redes sociais, é montra de narcisistas, egocêntricos, religiosos, ateus e seculares, criacionistas, evolucionistas, anarquistas, políticos, ladrões, políticos ladrões, idealistas, críticos e conspiradores. Mas é também a sua e a minha. Vantagens? Algumas. Desvantagens? Também. Depende do valor que cada um de nós dá à sua privacidade e ao respetivo conceito, o qual poderá ter uma interpretação mais lata ou mais restritiva.

Por isso, acho piada aos fundamentalistas que se recusam a aderir às novas tecnologias da comunicação, porque acham que, com elas, a sua vida fica exposta. Bom, então não comprem casa a crédito, não se registem nas finanças, segurança social ou ADSE; evitem o uso de cartões de crédito ou débito ou via verde; esqueçam o telemóvel, televisão por cabo, evitem os bancos; não comprem carro e muito menos façam seguros de saúde; evitem frequentar catedrais do consumo; e computadores?…fujam deles a sete pés. Basicamente regressem à Idade Média, porque, de facto, a privacidade pura e dura, no mundo moderno, está extinta. Câmaras de vigilância ou indivíduos colocados em locais chave, ligados a bancos de dados nacionais e internacionais invadem a nossa privacidade à distância de um teclado. Estamos numa Era em que o número de contribuinte é mais importante para o Estado do que o Cartão do Cidadão (onde este já vem incluído). À digitação deste número num qualquer banco, serviço de finanças, Unicre, segurança social, instituto de mobilidade e transportes, hospitais, tribunais, entre outros, toda a vida de um indivíduo fica escarrapachada; quanto deve ao banco, o que está a comprar a crédito, que veículos possui e respetivas matrículas, quantas passagens fez nas autoestradas x e y, a que horas e em que pórticos/portagens; a que concertos foi, que prendas comprou; que medicamentos e taxas moderadoras pagou, que condenações ou contra-ordenações, et cetera… Aliás basta pensarmos no número de operações de pagamento diárias que NÃO fazemos com cartão. Por isso, privacidade…que privacidade?

Fundamentalismos à parte, esta ferramenta de comunicação deverá ser sempre usada com bom senso. Evitar exageros de exposição da vida privada e da de terceiros é uma regra óbvia que nem sempre é seguida. Emitir opiniões pode ser perigoso, principalmente se forem acerca dos nossos superiores hierárquicos. Acima de tudo teremos que estar atentos aos nossos filhos adolescentes, os quais se podem colocar em situações perigosas por terem tendência a exporem-se e a exporem a parte ou o todo da vida familiar.

Um exemplo prático dos perigos de um mau uso das redes sociais é o da procura de emprego. É um facto que as agências, após apresentação dos curricula pelos putativos candidatos, “iniciam” as entrevistas de emprego pesquisando o nome do candidato nas redes sociais. A maioria das vezes é, também, logo aí que nela reprovam. Basta que se verifique falta de bom senso dos candidatos ao publicarem “selfies” em trajes menores, gestos e palavras obscenos, mensagens anárquicas, conversas ocas, declarações de amor aos reality show (indicativo de Q.I’s de apenas dois dígitos) e fotos de grandes e repetidas noitadas, bem regadas. Um perfil psicológico do candidato poderá ser facilmente elaborado a partir daí.

A um nível mais macro, assusta-me pensar que 1230 milhões de pessoas (dados de Dezembro de 2013), com perfis ativos no Facebook, têm os seus dados armazenados em gigantescos centros de dados nos Estados Unidos. Conhecendo o apetite voraz do imperialismo EUA pela espionagem individual, coletiva e industrial, deixa-me a pensar se não nos terão arranjado uma maneira brilhante e não imposta, de nos passarem a controlar todos os movimentos. Basta que eles tenham acesso a este maná de informação que circula no éter da rede, o que não se me afigura muito difícil.

Estamos então perante um paradigma. A solução passa por definirmos qual o nível de privacidade que pretendemos e o que queremos e podemos partilhar.

É factual que as redes sociais vieram para ficar, pois bebem da genética e infindável vontade que o ser humano tem de comunicar, por isso, se não as podemos vencer, juntemo-nos a elas…mas com muita ponderação.

Por: José Carlos Lopes

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