Fenómeno dos nossos dias é a exigência constante com consumo de mecanismos de protesto, com utilização democrática de reclamações/livros amarelos, lavagem de roupa suja mediática e intransigência de todas as falhas do outro. Este fenómeno surge acoplado à tolerância máxima às falhas do próprio, ao encobrimento dos amigos, à sonegação dos erros dos parceiros ou dos filhos. Hoje há uma tendência crescente para desconfiar das pessoas, do cumprimento dos outros, para a acusação ligeira, para a contundência sobre a negligência. Mas o fenómeno é de dentro para fora, porque a opção inversa, a aceitação da crítica externa sobre nós é muitas vezes tida como calúnia, como ofensa. A praxis vai, pois, para uma agressividade unívoca, com vector para o outro. “Eles” são os culpados e nada é natural ou inexorável. Morrer com 97 anos é culpa “deles” e termina em acusações demolidoras. A tolerância sobre nós é máxima e sobre os outros é nenhuma. O primado dos direitos sobre os deveres. Não dou nada que não possa vir por pedido. Não ofereço, mesmo que beneficie depois. E lá vem aquele enquadramento viciado “para os meus tudo, para os desconhecidos cumpra-se a lei e para os outros nada”.
Por: Diogo Cabrita