“Lançou-o no abismo, o qual fechou e selou sobre ele, para que não enganasse mais as nações (…). Depois disto é necessário que ele seja solto por um pouco de tempo.” Apocalipse, 20:2-3
Para compreender melhor o regresso de José Sócrates à televisão portuguesa, decidi revisitar duas sólidas biografias escritas sobre a personagem, embora a opção por cada uma delas dependa do prisma utilizado para avaliar narrativas e embustes. A primeira, de Karen Armstrong, chama-se “Uma História de Deus” e a segunda (pela ordem alfabética dos autores), de Peter Stanford, “O Diabo – Uma Biografia”.
Conforme o opinante, fosse popular ou consagrado, durante dias ouvimos “Hosana na RTP” ou “Vade retro, Socratás”. José Sócrates, tal como Lúcifer ou Jeová, tem os seus adoradores e os seus abjuradores. O antigo primeiro-ministro tornou-se agora um ser místico. Ele é o filho pródigo da parábola no Evangelho de Galamba, o messias nos textos do profeta Silva Pereira, o anjo caído no Facebook de Cavaco aos Portugueses ou a serpente no Livro do Apocalipse de Relvas.
Nietzsche escreveu que “é necessário ter o caos dentro de si para poder gerar uma estrela dançante”. Da maneira ofuscante como o ex-governante bailou entre as perguntas dos jornalistas, não restam dúvidas que o caos em José Sócrates é tão grande no exterior como no seu interior.
Para o pensamento esotérico, Lúcifer, além de responsável pela saída de Adão e Eva do Jardim do Éden, foi também o causador da expulsão de Sócrates dos Jardins de S. Bento. As interpretações místicas apontam o dedo a Lúcifer, disfarçado de serpente, pela introdução do engano e da mentira na mente da humanidade. Por causa dessa acção primordial de Lúcifer nem sempre os homens acreditam na realidade na devida proporção das provas (por exemplo, estatísticas do Banco Central Europeu), acreditam no que querem acreditar (por exemplo, no sucesso do PEC IV).
No livro de Isaías (Is, 14:12), Lúcifer é a estrela da manhã. Na RTP, a estrela da manhã é João Baião. Para José Sócrates ficou destinado o domingo (dia do Sol) à noite (hora da Lua). Tal como na concepção esotérica, a teoria histérica vê nestes sinais um novo mito da criação.
Aos deuses do Sol chamaram os judeus Elohim, e ao deus da Lua, Jeová. José Elohim criou os ceús e a terra e Jeová Sócrates castigou o seu povo por ter quebrado a Santa Aliança seguindo outros Passos. Jesus Seguro expiará na cruz os pecados da bancarrota e o (Banco) Espírito Santo descerá sobre os homens para lhes ensinar o mistério da Santíssima Troika.
Por: Nuno Amaral Jerónimo