O futuro tarda em chegar. Anunciado há muito pelo cinema, ainda não viajamos com facilidade e regularidade para outros planetas. Marte ainda não é uma colónia nossa e continua por isso livre de pacotes de batatas fritas espalhados por todos os cantos. E para os mais preguiçosos ainda não é possível adquirir um robot que lhes faça todos os serviços, o que, tendo em conta o novo filme de Alex Proyas, «Eu, Robot», até não pode ser considerao algo de negativo.
Em 2035 todos poderão ter o seu robot particular. Uma espécie de escravo sem deixar peso de consciência. Afinal não passam de máquinas, certo? Para protecção dos humanos existem três leis que jamais esses robots poderão infringir. Como primeira regra um robot não poderá atacar um humano, nem deixar que este fique em perigo por nada fazer para o ajudar. A segunda regra diz que um robot deverá sempre obedecer a um humano, desde que essa ordem não entre em conflito com a primeira. Finalmente, um robot deverá sempre proteger a sua existência desde que isso não interfira com as duas regras anteriores. São estas as regras que regem os livros de Isaac Asimov, escritor russo cuja obra serviu de inspiração para este «Eu, Robot». De Asimov, no entanto, pouco mais se encontra. Para os que esperam encontrar aqui um registo «Dark City» – o filme que, juntamente com «O Corvo», deu maior visibilidade a Proyas – mas desta vez com um (muito) maior orçamento, ficará decepcionado. Este é, definitivamente, o filme que Proyas utilizou para pagar todas as suas contas e mudar-se para uma casa maior. Com um orçamento superior a 100 milhões de dólares, só nos Estados Unidos, e apenas no seu primeiro fim-de-semana em exibição, «Eu, Robot» arrecadou metade desse valor.
Sem grandes devaneios artísticos, é apenas acção e mais acção, abrilhantada por uma quantidade descomunal de efeitos especiais, que é aqui levada em conta. Tanta acção, diga-se, que chega, muitas vezes, a roçar o aborrecimento. Sem história que aguente tanto efeito, Proyas opta sempre por colocar mais umas dezenas, ou centenas de robots, em combate, para colmatar tal falta.
Não há (grande) história, mas há humor, a cargo de Will Smith, que descarrega, como quem não tem nada a ver com o assunto, meia dúzia de piadas por minuto, aligeirando assim as tentativas de Proyas em «escurecer» cenários e situações. Neste equilibro precário, o resultado final fica muita aquém de quaisquer expectativas que se pudessem ter. Expectativas criadas pela origem do filme, na obra de Asimov, farol para todos os fãs de ficção-cientifica; pelo realizador, em especial por «Dark City»; e por muitos dos filmes que já antes tinham tratado tal assunto: «Metropolis», «Blade Runner», «2001 – Odisseia no Espaço» ou «A.I. – Inteligência Artificial», apenas para nomear alguns.
A revolta dos robots não é novidade no cinema, o motivo para tal é que vai mudando. Proyas, e não fosse este um filme bem no centro de uma indústria como a de Hollywood, não conseguiu evitar que o filme resvala-se para um lado moralista, que tantas vezes acaba por ter efeitos contrários ao pretendido. O futuro, esse, não passa por aqui. É para ver agora. Apenas isso. Tão descartável quanto os robots do filme. Venha de lá o novo modelo.
Por: Hugo Sousa
cinecorta@hotmail.com