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Eu, eu, eu, eu

Agora Digo Eu

Nos 12 anos em que Álvaro Amaro esteve à frente da Câmara de Gouveia (2001-2013), o concelho perdeu mais de 2.500 pessoas. Em 2013, Gouveia era o concelho mais envelhecido de Portugal (repito: de Portugal). Ao que consta, Amaro deixou, ainda por cima, as finanças do município num estado periclitante. Com este extraordinário currículo autárquico apresentou-se como candidato à Câmara da Guarda. À época, admitiu que não conhecia a terra e que andava a estudar os dossiês. O problema de Amaro com a Guarda começa precisamente aí: ele não conhecia a terra e, quando não se conhece, não se pode gostar – seja lá do que for, diga-se de passagem. O senhor não tinha, nem podia ter, e continua a não ter, uma visão histórica e um pensamento organizado sobre a Guarda. De qualquer maneira, ganhou a Câmara graças a um conjunto de circunstâncias fortuitas que não vale agora a pena esmiuçar. Basicamente, a maioria dos guardenses estava farta e desesperada com a pasmaceira e a passividade do último mandato de Joaquim Valente e os socialistas dividiram-se ao meio.

Sem uma visão de conjunto, sem uma estratégia clara, Amaro limitou-se a repetir na Guarda a fórmula usada em Gouveia. Grandes festas para animar a populaça, esculturas grotescas de centenas de milhares de euros para “embelezar” rotundas, o recurso recorrente aos famigerados ajustes diretos (que a lei permite até aos 75 mil euros), obras em catadupa em vésperas de eleições, tudo isto sem um plano coerente, com pés e cabeça.

Esta fórmula está a produzir os mesmos resultados brilhantes que produziu em Gouveia. Menos 2.000 pessoas é a dimensão do falhanço dos últimos quatro anos de governação na Guarda. Em termos de atracão de investimento, o executivo camarário limitou-se a baixar o preço do metro quadrado da plataforma logística de 25 para quatro euros e a encomendar um “Guia do investidor”. Depois, ficaram à espera que os investidores lhes batessem à porta ou que o investimento caísse do céu. O resultado está à vista.

E não vale a pena esperar que as coisas melhorem caso este senhor continue à frente do município. A recente entrevista à Rádio Altitude veio apenas confirmar as suspeitas. Confesso que, num exercício de puro masoquismo, ouvi as quase duas horas de monólogo radiofónico do sr. presidente. Eu frito, eu cozido, eu assado. Eu, eu, eu, eu. Duas horas de autoelogios e banalidades. Álvaro Amaro está sozinho no palco, só ele pode brilhar, não deixa espaço para mais ninguém. Em toda a entrevista quase não se ouviu uma palavra sobre a equipa que o acompanhou nos últimos quatro anos. No meio deste triste espetáculo, aproveitou para prometer mais uma série de obras: na Praça Velha, Misericórdia, nos dois extremos da Rua do Comércio, Largo de S. Pedro, Rua do Encontro, Rua Serpa Pinto, passadiços do Mondego, ligação direta da Sequeira à Guarda e da VICEG à rotunda da Ti Jaquina – 5 efes (estimativa de 2,5 milhões de euros), pavilhão multiusos. De um modo geral, nada a opor a estas intervenções. O problema é de prioridades. As obras de encher o olho não resolvem o problema de fundo. No fim do dia, sem investimento privado, a Guarda vai continuar a perder pessoas e a morrer aos bocadinhos.

Dúvidas houvesse, Álvaro Amaro fez ainda questão de garantir que também ri e chora. Dito de outro modo, ele é um ser humano, capaz de se emocionar como qualquer um de nós. E eu, perante isto, não sei se ria, se chore.

Por: José Carlos Alexandre

Comentários dos nossos leitores
António amaro Amaro.toze@gmail.com
Comentário:
Há cerca de sete meses reclamei junto desta Câmara, por escrito,a reparação da entrada da garagem do meu prédio, que, brevemente, com a chuva, me impedirá de entrar com a minha viatura na referida garagem, na Rua Miguel de Unamuno, cuja adjudicação foi feita há um ano!!!! Como é! Espero pelo Inverno, Sr. Presidente!!!????
 

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