«Não haverá no país outra estrada nacional com as mesmas características de insegurança», receia o presidente da Câmara de Manteigas após tomar conhecimento da intervenção que a Estradas de Portugal (EP) pretende fazer na EN338, que liga a vila à zona dos Piornos e ao maciço central da Serra da Estrela.
«Foi com total perplexidade que recebi um ofício dando conta que os trabalhos a realizar não vão além da mera manutenção dado o estado de degradação que apresenta» a via, confessa Esmeraldo Carvalhinho, que esperava que o seu alargamento fosse avançar finalmente. Numa carta enviada ao presidente do Conselho de Administração da EP, a que O INTERIOR teve acesso, o autarca promete contestar a decisão porque considera que «os parcos elementos» do projeto de intervenção remetidos pela empresa «desprezam completamente as normas de segurança que a EP, enquanto entidade responsável, está obrigada a garantir e ofendem a população manteiguense, que se vê assim discriminada face aos restantes portugueses». Esmeraldo Carvalhinho recorda que não requalificar esta estrada significa «avultados prejuízos» para a vila, que, apesar de estar no “coração” da Serra da Estrela – «um dos maiores destinos turísticos nacionais», argumenta –, não tem um acesso condigno ao maciço central e à Torre.
«O estrangulamento da via atual é um dos maiores condicionadores de desenvolvimento da economia local, uma vez que uma parte significativa da população vive do turismo e da produção e comercialização de produtos endógenos», acrescenta. Segundo o edil, a empresa justifica a opção de não alargar a EN338 por ser uma estrada de montanha, situada a meia encosta do vale glaciar, no parque natural e na Rede Natura 2000, além de ter um reduzido volume de tráfego e de não ser possível suportar «nas condições atuais» os custos desta intervenção, entre outras razões. Mas esses argumentos não colhem em Manteigas: «Existem múltiplas vias no país e na própria Serra da Estrela com maiores inclinações e sinuosidades que não foram impeditivas de serem beneficiadas», alega, exemplificando com a EN339 – onde a EN338 entronca, nos Piornos –, que «tanto na vertente sul (Covilhã), como na vertente norte (Seia), possui inclinações superiores à EN338, para não falar na inenarrável via que liga a Lagoa Comprida a Loriga, na vertente oeste da serra».
Quanto ao reduzido volume de tráfego, alega que tal resultará «essencialmente da falta de condições de segurança e conforto» que a estrada apresenta atualmente. De resto, o presidente manteiguense argumenta que a via continua a ser «a única alternativa» de escoamento de trânsito em situações de emergência ou quando a EN339 está cortada devido à neve. Considera também que a questão dos custos «cai por terra» porque Manteigas tem sido «sistematicamente ignorada» nas intervenções e beneficiações de fundo levadas a cabo nas estradas da região pela EP nos últimos anos. «Foi o único concelho que não foi contemplado na rede de ligações IC6/IC7/IC37, sendo que a Secretaria de Estado dos Transportes considerou que (…) a beneficiação (alargamento) da EN338 o principal mecanismo de contrapartida prometido e assinalado publicamente», recorda Esmeraldo Carvalhinho.
Luis Martins