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«Este ano optámos por apresentar o evento no Porto, uma vez que recebemos muitos visitantes dessa zona do país»

António Oliveira, presidente da direção da AENEBEIRA, falou ao Jornal das Empresas sobre a décima edição da Feira do Fumeiro – Salão dos Saberes e dos Sabores dos Castelos do Côa

P – Quais as expectativas para mais uma edição da Feira do Fumeiro, dos Sabores e do Artesanato do Nordeste da Beira?

R – As nossas expectativas, face ao sucesso que se tem verificado nos últimos anos, são positivas, embora tenhamos de considerar obrigatoriamente o contexto difícil em que a sociedade portuguesa está mergulhada. Estamos conscientes de que os tempos estão mais difíceis, e por isso temos de ser um pouco comedidos em relação àquilo que poderemos esperar. Ainda assim, esperamos que esta edição corra de forma semelhante aos anos anteriores, e estamos convictos de que a feira continuará a ser um sucesso.

P – Esta feira realiza-se desde 2004, conhecendo agora a sua décima edição. É um evento cada vez mais consolidado a nível regional e nacional?

R – Penso que podemos dizer que a feira está já consolidada. Foi um patamar que atingimos, na minha opinião, ao fim de seis edições, e neste momento considero que se trata já de um evento com uma perspetiva supra regional. Ainda assim, queremos continuar a promovê-la, no sentido de alcançarmos uma cada vez maior notoriedade.

P – Quais as novidades desta edição?

R – Neste tipo de eventos não podemos falar em novidades, pois não há uma grande margem para tal. A feira centra-se essencialmente na área dos produtos regionais, produtos esses que remetem para saberes tradicionais, sendo que tradição e inovação não duas áreas que não se complementam. Em relação ao certame, o formato é o mesmo dos últimos anos, e os expositores presentes são os habituais, pelo que aquilo que se apresentará nesta feira será o que os produtores conseguem fazer de melhor dentro do que é a tradição da nossa região.

P – A aposta na realização da feira durante dois fins-de-semana mantém-se. Considera tratar-se de uma opção acertada?

R – Tomámos essa opção há quatro anos, e consideramos que o resultado foi positivo para os expositores, que apoiaram a continuação desse modelo. Nesse sentido, e com base em opiniões que recolhemos e no “feedback” desses expositores, decidimos pela sua continuação da feira nestes moldes. Acredito que este figurino também seja do agrado do público, e considero que é uma opção acertada. Além disso, são dois fins-de-semana em plena época das amendoeiras em flor, que faz passar pelas proximidades de Trancoso um grande fluxo de pessoas, o que também justifica e legitima esta aposta.

P – Quais os produtos em concreto que vão estar representados na feira deste ano?

R – Temos sobretudo produtores de enchidos, tanto artesanais como industriais, e produtores de vários tipos de queijo, também industrial e artesanal. Estamos a falar de produtores que nós consideramos estratégicos para o desenvolvimento do nosso tecido económico regional, e que constituem uma representação significativa do setor agroalimentar de uma área balizada entre a Serra da Estrela e o Vale do Douro. Além disso, teremos também mel, azeite, doces, pão e artesanato. Relativamente ao artesanato, optámos por uma postura mais alargada, e aceitámos a participação de expositores de outras zonas do país, com a condição essencial de o artesanato apresentado ter qualidade e uma boa execução do ponto de vista técnico.

P – A aposta na qualidade dos produtos pode ser uma boa estratégia para continuar a captar compradores?

R – Naturalmente que sim, e considero que temos aqui produtos de grande qualidade e bem característicos da nossa região, tanto nos enchidos como no setor dos lacticínios. E não me refiro apenas aos maiores produtores, mas também a outros produtores de menor dimensão e artesanais, que apresentam um trabalho excelente. É por isso importante dar visibilidade e notoriedade a este tipo de pequenas produções, de empresas quase familiares, para que cresçam e se desenvolvam, de modo a que contribuam para a criação de riqueza no concelho.

De resto, a qualidade sempre foi uma preocupação inerente a esta feira, constituindo uma imagem característica desta nossa realização, e seguramente que tem contribuído para o seu crescente sucesso

P – A feira assenta sobretudo na indústria agroalimentar. Qual a importância deste setor no concelho de Trancoso?

R – O setor agroalimentar tem no concelho de Trancoso uma importância muito significativa ao nível da economia. Em primeiro lugar, porque existem no concelho duas unidades industriais de lacticínios, e duas unidades industriais de enchidos, havendo também 15 queijarias e seis salsicharias artesanais, todas licenciadas. No total, a indústria agroalimentar é diretamente responsável, no seu conjunto, por mais de 200 postos de trabalho, sendo por isso o setor que mais emprega no concelho.

P – Para além dos produtos em exposição, vai haver também a tradicional animação?

R – Como sempre, haverá animação ao longo do evento, e será novamente baseada na música tradicional portuguesa. À semelhança do ano passado, não haverá palco no interior do pavilhão, pois o espaço será totalmente ocupado com stands. Assim, mais uma vez, o palco será montado no exterior, à entrada do pavilhão, e ali atuarão ranchos folclóricos e bandas filarmónicas nas tardes de sábado e domingo, caso o tempo o permita. Mas o espaço interior não foi descurado neste aspeto, e haverá sempre animação musical a circular pela feira, proporcionada por grupos de gaitas de foles, caixas e concertinas.

P – Em termos de visitantes, tem algum número estimado que gostaria de atingir?

R – Nós pensamos que esta Feira do Fumeiro, ao longo dos dois fins-de-semana em que se realiza, poderá ser visitada por cerca de 30 mil pessoas, com especial incidência nos domingos. Contudo, este número é apenas uma estimativa, uma vez que, como a entrada é livre, é difícil fazer um controlo exato do número de visitantes. Mas esperamos que, também devido a esse fator da entrada livre, a feira conte mais uma vez com uma boa afluência.

P – São esperados visitantes não só da região, mas também de outras zonas do país?

R – Estamos sempre à espera de visitantes de outras zonas do país. Este ano voltou a haver da nossa parte um investimento na promoção do evento na comunicação social nacional, pelo que esperamos atrair pessoas de outras regiões. Além disso, na génese da feira está o objetivo de promover os produtos endógenos e os saberes tradicionais da nossa região, e essa promoção só faz sentido se for feita junto de pessoas de outros locais, que ainda não tenham um conhecimento do que é a região e do que por cá se faz. Além disso, sabemos pela experiência dos anos anteriores, mas também pelos autocarros que aqui estacionam, que há aqui um número significativo de visitantes de uma faixa que se situa entre Aveiro e Braga. Há sem dúvida um fluxo significativo de excursões turísticas provenientes dessa faixa, que se deslocam maioritariamente para visitarem as amendoeiras em flor.

P – O ano passado houve uma aposta na divulgação do evento junto do mercado espanhol. Que balanço faz dessa aposta?

R – Não foi uma aposta muito bem sucedida. É difícil atrair o público espanhol para um evento destas características, que tem como principal referência o fumeiro, isto porque Espanha tem uma indústria fortíssima na área dos enchidos e fumados, e um certame deste género não é muito atrativo para eles. Assim, este ano, optámos por uma aposta diferente, que passou pela divulgação do evento na Casa da Beira Alta no Porto, devido ao facto de, como já referi, recebermos muitos visitantes dessa zona. Nesse sentido, promovemos no passado sábado uma sessão de apresentação, seguida da degustação de produtos regionais. Entendemos que é preferível apostar e empenhar energias numa área onde já se verifica uma elevada afluência de público. No ano passado tentámos apostar em Espanha, mas é muito mais fácil atrair o turista espanhol para visitar o nosso património do que para vir a uma feira de enchidos. Penso que esta nova aposta em divulgar o evento naquela faixa de território vai ter sucesso, até porque as feiras de Vinhais e Montalegre fazem exatamente a mesma coisa.

P – Este é mais um ano marcado pelo contexto de crise económica. Considera que este fator poderá afetar o sucesso da iniciativa?

R – Naturalmente que se estivéssemos numa fase de expansionismo económico, e com atividade em crescendo, o evento teria outro sucesso. Claro que com o aumento da taxa de desemprego e com a diminuição significativa do rendimento das famílias, sobretudo na classe média, há menos dinheiro para gastar, e isso em nada ajuda ao sucesso deste ou de qualquer outro tipo de evento. A crise é, por isso, um fator a ter em conta, mas que esperamos que não se reflita de forma clara nesta feira.

P – E as portagens nas ex-SCUT, poderão afastar algum público?

R – As portagens nas antigas SCUT constituem um obstáculo para a circulação e deslocação de pessoas, e isso comprometerá provavelmente alguns fluxos de outras zonas do país. Porem, no ano passado já realizámos a feira com as portagens implementadas, e não notámos uma redução significativa no número de visitantes. Esperamos por isso que esse fator não se faça notar.

P – Qual a importância desta Feira no contexto regional?

R – É extremamente importante, no sentido em que contribui para a divulgação, promoção e comercialização dos produtos regionais. Trata-se de uma feira com características únicas e que, na altura em que foi pensada, era a única na região das Beiras vocacionada para este setor do fumeiro e dos sabores, e essa sua singularidade faz com que se comece a tornar uma referência. Esperamos que essa importância continue a crescer no contexto regional, pois tudo o que tenha a ver com o futuro da região passará em grande parte pelo turismo e pelo aproveitamento dos recursos endógenos.

P – Qual é o investimento global da feira?

R – O investimento global ronda sensivelmente os valores do ano passado, na ordem dos 35 mil euros, investidos sobretudo na promoção do evento.

P – Vai realizar-se mais uma vez o fim-de-semana gastronómico. Quais as espectativas para esta sexta edição da iniciativa?

R – Esperamos a repetição do sucesso dos anos anteriores. Trata-se de uma iniciativa que tem atraído muita gente, e que este ano volta a promover a gastronomia local em simultâneo com a feira, propondo a quem nos visita que almoce por cá, num dos nove restaurantes participantes, degustando o melhor que a gastronomia de Trancoso tem para oferecer.

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