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«Estamos no top cinco das feiras do fumeiro e de sabores que se fazem no país»

P – O que é que as pessoas podem esperar da XII Feira do Fumeiro, dos Sabores e do Artesanato do Nordeste da Beira?

R – É um evento que tenta congregar um número significativo de expositores, cerca de 80, distribuídos por cerca de 95 stands, ou bancadas, e serão expositores de enchidos e fumados, de queijos da região da Serra da Estrela e fora dela, vinhos, doces regionais, artesanato tradicional e ainda uma tasquinha típica. Todos os participantes são produtores, que é no que a organização aposta. As únicas exceções são cooperativas agrícolas e uma associação local do concelho, que desde a primeira edição costuma ter um stand ligado ao pão e à cultura. De resto, só aceitamos produtores.

P- Que impacto tem a feira no concelho e na região?

R – O impacto da feira ultrapassa em muito o concelho porque congrega os produtores entre a Serra da Estrela e o Vale do Douro, portanto, temos produtores desde Moncorvo e Lamego até à Cova da Beira. Com isto queremos envolver os melhores sabores desta região, situada entre a serra e o Douro. E também por isso é que o conceito desta feira é ser do nordeste da Beira.

P- Doze anos depois do início da feira, já se afirmou como um certame de grande importância nos produtos regionais?

R – Eu penso que sim. Naturalmente que há no norte do país dois certames que têm uma tradição muito maior, são mais antigos, falo das feiras de Vinhais e Montalegre. Mas, apesar disso e da nossa realidade ser distante, penso que já nos afirmámos claramente no conjunto das feiras do fumeiro e de sabores que se fazem no país. De certeza que estamos no top cinco daquilo que são as feiras deste setor. Este ano notámos um aumento na procura de expositores, o que tem a ver com o impacto do certame e com o facto de realizarmos o evento numa altura em que não há outros semelhantes. Nós fazemos sempre a feira do fumeiro no último fim-de-semana de fevereiro e no primeiro de março para coincidir com as amendoeiras em flor que trazem muita gente à região. No ano passado coincidiu com o Carnaval e por isso estavam a decorrer mais feiras, o que pode justificar o aumento da procura este ano. Mas este aumento também se deve ao facto desta feira já ter atingido um certo prestígio, enraizamento e nome, porque atrai muitos milhares de pessoas e isso ajuda a que se verifique um aumento da procura. Na maioria dos setores vêm e vendem bem, não sei quantificar, mas o volume de negócios é muito significativo. No entanto, há só um setor que nós não conseguimos mobilizar da mesma forma. Trata-se do setor dos vinhos, que está presente habitualmente, mas que faz mais promoção do que vende – a data da nossa feira coincide todos os anos com o Salão dos Vinhos no Palácio da Bolsa, no Porto, o que nos tira um conjunto significativo de expositores que antigamente estavam presentes e que deixaram de estar. Falo de empresas de vinhos da região do Douro. O nosso forte é o fumeiro, mas quer no fumeiro quer nos queijos, temos produção artesanal e industrial, todos devidamente licenciados.

P- Em termos de visitantes, quais são as expetativas?

R – Em termos de visitantes esperamos que esta feira seja visitada por entre 30 a 40 mil visitantes.

P- A crise preocupa-o, ou já entram em período de retoma na edição deste ano?

R – Seria desonesto se não dissesse que a crise continua a preocupar-me pelo facto da diminuição do poder de compra dos portugueses e do desemprego. Isto é um mau enquadramento para um evento onde se esperam visitantes, público com poder de compra e capacidade aquisitiva e todos nós sabemos que essa sofreu duros golpes desde 2011.

«Queremos que surjam mais unidades de porco bísaro»

P- Este ano haverá alguns workshops em paralelo com a feira, qual é o objetivo e a dinâmica?

R – Nós temos simultaneamente a decorrer com XIIª Feira do Fumeiro do Sabores e do Artesanato do Nordeste da Beira um festival gastronómico nos restaurantes de Trancoso, vocacionado para aquilo que são as tradições culinárias da região, denominado “Trancoso gastronomia com tradição”. Envolve dez restaurantes da cidade e decorrerá ao longo dos cinco dias da Feira do Fumeiro. Simultaneamente, haverá também uma exposição de porco bísaro, de uma exploração de Trancoso, que tem sido uma entidade dinamizadora da reintrodução desta raça autóctone na região. Tem cerca de 700 animais em exploração extensiva que tem vendido e levado à criação de outras pequenas unidades familiares. Esta questão é muito importante para avançar com a qualificação dos enchidos da região da Guarda e para isso temos que ter matéria-prima para a trabalhar. É um trabalho em que estamos muito envolvidos e empenhados para que se promova e divulgue de forma a surgirem muitas unidades de porco bísaro. É também por isto que no dia 28 vamos realizar um colóquio com o tema “Explorações agropecuárias e pequenas unidades de produção agroindústrias: aspetos legais, incentivo à sua criação e desenvolvimento” que vai abordar também esta temática do porco bísaro.

O programa irá contar com várias sessões, com destaque para as intervenções António Mendes (veterinário municipal) e Eugénia Lemos (diretora de Serviços de Alimentação e Veterinária da Região Centro) que falarão sobre o tema “Licenciamento de explorações agropecuárias e de pequenas unidades de produção agroindustriais”; Idalino Leão (presidente da Cooperativa Agrícola A Lavoura, do concelho de Paços de Ferreira) abordará a “Rede de pequenos criadores de suínos”; e António Joaquim Pinto de Sousa (delegado da DRAPCentro em Gouveia) falará sobre “Incentivos à criação e desenvolvimento de explorações agropecuárias e de pequenas unidades de produção agroindustriais”. Na sessão de encerramento intervirá Sidónio Ferreira dos Santos, diretor regional adjunto da DRAPCentro. Ainda no sábado será assinado um protocolo entre a AENEBEIRA e a Associação do Comércio e Serviços do Distrito da Guarda (ACG) com vista à qualificação de enchidos da região.

«Queremos qualificar seis produtos da região e deixar os bairrismos de lado»

P- Em termos de produtos, quais são os produtos estrela que vão estar expostos e que pretendem qualificação?

R – Queremos avançar com seis, a morcela da Guarda, o paio da Guarda, o bucho da Guarda, a chouriça de bofes da Guarda, a chouriça de carne da Guarda e com a farinheira da Guarda. Vamos avançar para a qualificação destes seis produtos para identificações geográficas protegidas (IGP). Este processo é submetido por um agrupamento de produtores ou um consórcio de agrupamento de produtores ao Ministério da Agricultura, que analisa e posteriormente a União Europeia tem de retificar. Antes disso, temos também o processo das sardinhas doces de Trancoso, que submetemos em 2006 como especialidade tradicional garantida (ETG), que está parado. Vamos retirar o processo e vamos submeter novamente como IGP. A diferença é que a ETG pode ser produzida em qualquer espaço da União Europeia desde que cumpra o caderno de encargos e a IGP, tem a ver com a localização, não poder ser produzido noutro território. Assim as sardinhas de Trancoso apenas podem ser feitas em Trancoso, enquanto os enchidos da Guarda será no distrito da Guarda.

P- Assumem estes produtos como produtos de origem definida no distrito da Guarda?

R – A denominação dos produtos tem que ser exatamente Guarda. Dos enchidos da região o único que tem alguma dimensão e prestígio é a morcela da Guarda e portanto temos de pôr os bairrismos de lado, porque não fazem sentido. Já entregámos o processo à Qualifica, que é uma associação nacional de municípios e produtores para a valorização e qualificação de produtos nacionais portugueses. Para já vamos trabalhar para os enchidos, o que não impede que possamos alargar o protocolo. Só poderão ser confecionados com porco bísaro, o que é inevitável, pois é uma exigência da legislação comunitária. Neste momento há cerca de 10 explorações de porco bísaro legalizadas no distrito da Guarda e há cerca de quatro anos atrás não havia nenhuma.

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