Tenho dias de pensar na angústia do mensageiro quando entrega as condições de rendição ao adversário e vira costas, regressando às suas fileiras. Sim, há um código de honra, mas o instinto do oponente poderia fazer daquela morte o início de uma batalha indesejada.
O cenário do jornalismo é ligeiramente mais arrepiante. Leitores, investidores e anunciantes continuam a exigir rigor, isenção, independência e o habitual textinho da inauguração ou da romaria. Mesmo não estando dispostos a contribuir com um cêntimo para que isso possa acontecer. E o jornalista dá o peito às balas. Poucos sabem como se faz jornalismo local e regional. A dedicação, o amor à camisola, os maus ordenados e as más condições, os frágeis empresários e os políticos…
Nos últimos anos, O INTERIOR deu conta do atabalhoado que foi o processo de venda do Hotel Turismo. Do mal pensado que sempre foi o Guarda Mall. Da ausência de placas de toponímia na Praça Velha, para onde se chamaram turistas em catadupa para uma bola “gigantotransparente” cuja negociação foi, no mínimo questionável – como, aqui longe, ouvi este jornal questionar. Durante todo este tempo – bem como naquele que a minha fraca memória não alcança – a Guarda comeu e calou. Ou reclamou do jornalismo que por aí se faz.
Há muitos séculos, havia quem dissesse que parte significativa dos problemas do mundo tinha origem gramatical. Que as pessoas não se entendiam porque não se compreendiam. Arrisco dizer que a outra metade tem origem nas expectativas. O jornalismo que se faz na Guarda está longe de ser perfeito, mas acredito que é melhor do que a política que se faz na Guarda; do que os negócios que se fazem na Guarda; do que o desporto que se faz na Guarda. E a educação, a indústria, o edificado, a agricultura guardenses, como se têm distinguido no panorama nacional? O INTERIOR não piorou desde que há vários anos recebeu o Prémio Gazeta. É por ser melhor do que quase tudo o resto que o jornalismo anda, bastas vezes, às turras com o outro irmão decente que tem na cidade: a cultura.
A academia moldou-me cínico. Há quem prefira eufemismos e se diga realista. Mas, no fundo, talvez eu seja um ingénuo por continuar a acreditar que a atitude de quem tem mandado na cidade não está refletida na única placa que existe na sua principal praça: a que indica o wc. Haja esperança, vontade, ar puro e alegria interior!
Igor Costa, ex-jornalista de O INTERIOR é jornalista no semanário SOL