Trancoso vai acolher a valiosa colecção de pintura e um conjunto de objectos pessoais de Eduarda Lapa, numa doação da sua sobrinha. Esta terá sido a última vontade de Maria Manuela de Almeida Lapa de Passos, falecida na passada segunda-feira, que decidiu que a terra de nascimento da pintora (1895-1976) seria «o melhor lugar para receber o seu espólio», adianta Júlio Sarmento. O município está agora obrigado a consolidar uma Casa Museu para acolher 70 quadros, insígnias e comendas oficiais, além de dois vestidos usados na despedida do Rei de Itália e outros objectos do dia-a-dia.
O autarca diz ter sido surpreendido com a doação, já que este património estava a ser «muito requisitado» pelas autarquias da Lourinhã e Lisboa, mas também pelo Museu da Guarda, que Eduarda Lapa ajudou a fundar, em 1940, juntamente com Ernesto Pereira, Alfredo Filipe e Teodósio Ferreira. «É certo que o município homenageou a pintora, editou um livro e deu o seu nome a uma rua, mas sem nunca pensarmos que isto viesse a acontecer», acrescenta. Júlio Sarmento confidencia ainda que outro sobrinho, Manuel de Passos, também pondera a possibilidade de ceder temporariamente alguns dos quadros da sua colecção particular e, eventualmente, uma futura doação. «De qualquer forma, 70 quadros já é um número bastante impressionante, a que juntaremos as duas telas que a Câmara possui», refere, considerando que Trancoso vai passar a ter um museu com projecção nacional porque Eduarda Lapa foi, «sem dúvida, uma grande pintora portuguesa». Será mais um espaço de interesse a juntar aos cinco projectados até 2010. Trata-se do museu dedicado a Bandarra, do Centro de Estudos Judaicos Isaac Cardoso, de um núcleo na Torre de Menagem do castelo, do Centro de Interpretação da Batalha de S. Marcos e do Museu do Design do Tempo.
«O IPPAR já adjudicou a intervenção no castelo, enquanto o Museu do Design do Tempo e o Centro de Estudos Judaicos irão arrancar, o mais tardar, no próximo ano. O Museu de Bandarra será candidatado no âmbito do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN), assim como esta Casa Museu», afirmou o edil, que espera divulgar «em Maio» a parceria público-privada que ficará encarregue deste conjunto de obras. «O nosso objectivo é concluir estes quatro projectos até final de 2008», admite Júlio Sarmento. Foi em Trancoso que Eduarda Lapa realizou a sua primeira exposição individual, em 1917, no salão nobre dos Paços do Concelho. Discípula de José Malhoa, colega de atelier de Vieira da Silva e Arpad Szenes, a pintora notabilizou-se no retrato, nas paisagens rústicas e marinhas, mas sobretudo pintando todo o género de flores. A sua obra granjeou-lhe inúmeros prémios e distinções, estando representada em várias colecções privadas e institucionais.
Luis Martins
