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«Espero termos estaleiro no Hospital da Guarda no início de 2009»

Apesar de já ter colocado o lugar à disposição por duas vezes, Maria do Carmo Borges, garante que tem condições para continuar no cargo. A Governadora Civil da Guarda acredita que o futuro do distrito também passa pelo turismo e considera que o projecto d

P – Que balanço faz destes dois anos e meio de Governadora Civil?

R – Tomei posse em Abril de 2005 e, desde aí, apesar de tudo o que me aconteceu pelo meio, faço um balanço positivo.

P – Esta função corresponde ao que esperava para este período da sua vida?

R – Considero que é outra forma de servir o distrito da Guarda. Se até há pouco tempo tinha como principal objectivo servir o concelho, tendo sempre em mente que a Guarda pode e deve ser o motor fundamental de todo o distrito, neste momento as funções são realmente direccionadas para um distrito inserido uma região bastante complexa e que tem que se afirmar como distrito.

P – Apesar de ser a representante do Governo, diz muitas vezes que é defensora dos interesses do distrito?

R – Representar o Governo na Guarda não dissocia de maneira alguma a minha forma de estar na vida e de defender os interesses do distrito, aliás, esse foi sempre o meu objectivo enquanto presidente de Câmara e vereadora. Em todos os cargos que ocupei tive sempre um conjunto de objectivos, que, sendo directamente para o concelho, tinham forçosamente de passar por um benefício do conjunto do distrito, como as acessibilidades, no caso da A23 ou da A25. Enquanto Governadora Civil não me esqueço que pertenço a um distrito pelo qual tenho de me bater junto do Poder Central, mas isso não quer dizer que não tenha a consciência plena que represento o Governo.

P – Essa ambivalência, de ser representante do Governo no distrito e ao mesmo tempo comungar dos interesses das populações, tem-lhe trazido alguns amargos de boca, como a questão da fralda pela defesa da maternidade…

R – O Governo sabia que eu defenderia com toda a vontade a questão da maternidade da Guarda. Nessa altura, acabei, mais uma vez, por colocar o meu lugar à disposição, e era a segunda vez que o fazia, pois nunca contrariaria a minha forma de estar na vida e de pensar por um cargo político. Depois do primeiro-ministro ter afirmado no Parlamento que, na Beira Interior, haveria um Centro Hospitalar e duas maternidades, qualquer pessoa teria forçosamente que concluir que nenhum destes dois distritos ficaria sem maternidade.

P – Considera que foi uma “vitória” óbvia?

R – Não considero que tenha sido uma vitória política e minha muito menos. Nós tínhamos duas coisas a nosso favor. Primeiro, somos a maternidade com mais partos e óptimos profissionais de saúde e, em segundo lugar, havendo duas maternidades, uma teria que, forçosamente, ficar sediada no nosso distrito.

P – Mas achou, nalgum momento, que a Guarda poderia ficar sem maternidade?

R – Eu continuo a dizer que a fralda foi uma forma de chamar a atenção. Encontrámos uma forma bonita de manifestarmos a nossa posição e coloquei uma fralda em minha casa, sem qualquer tipo de problema, porque sabia que estava a defender os interesses da população da Guarda.

P – Houve alguma decisão nos dois anos de governação de José Sócrates que a tenha entusiasmado de forma especial?

R – Acho que o dia 18 de Maio de 2007, quando foi anunciada a construção de um novo hospital, foi um momento muito alto para a Guarda, para o distrito e para a região. Também não podemos esquecer a última vinda do primeiro-ministro para anunciar mais benefícios fiscais para o interior, o que é óptimo e já deveria ter sido pensado há mais tempo. Temos que arranjar forma de sensibilizar os empresários para que venham para o interior, por isso, tudo o que sejam incentivos para a sua instalação é muito bom. No Governo de António Guterres, eu costumava dizer que se o despesismo de que era acusado fosse traduzido nos benefícios que ele trouxe para o interior, nomeadamente nas acessibilidades, na vinda do gás natural, abençoado despesismo. De resto, a preocupação que este Governo tem com o interior, nomeadamente na conclusão de algumas acessibilidades importantes para o distrito, é reveladora de que continuamos no bom caminho.

P – Chegou ao Governo Civil no momento em que se dava como certa a sua extinção, entretanto, essa reforma não aconteceu. Os Governos Civis vão continuar?

R – Vão continuar enquanto não houver uma reorganização territorial com a regionalização – e continuo a ser regionalista convicta.

P – Há precisamente dois anos foi vítima de um grande acidente, de que ainda recupera. Que análise faz de tudo o que aconteceu depois, nomeadamente os muitos comentários que então foram feitos? Acha que foi a melhor decisão continuar como Governadora Civil?

R – Provavelmente, se nada tivesse acontecido, teria havido outra dinâmica nesse período em que estive realmente ausente do Governo Civil a nível da minha própria actuação junto das pessoas, das instituições e das autarquias. Mas nunca deixei de saber o que se passava à minha volta e no Governo Civil. Enquanto estive no hospital dei despacho a tudo quanto era essencial e urgente no Governo Civil. Nessa altura pus o meu lugar à disposição e continuo a dizer que o fiz para que o ministro António Costa decidisse, não em relação à questão de me manter no Governo Civil, mas no sentido de eu não poder dar resposta satisfatória àquilo que me era pedido.

P – Actualmente, tem condições para continuar no cargo?

R – Sinto-me obviamente em condições para continuar a desempenhar as funções de Governadora Civil.

P – Na tomada de posse, em 2001, como presidente de Câmara, apelava a uma maior auto-estima dos guardenses. Passados seis anos acha que essa auto-estima melhorou, piorou, ou está na mesma?

R – Eu recebo muita gente no Governo Civil e começo a receber muitos jovens que querem apostar na sua micro ou pequena empresa. Muitos não são da Guarda, mas estudaram cá e querem fixar-se na cidade. Acho que há uma tendência para mudar e que começamos a sentir que fazemos parte da sociedade, não só para exigir dos outros, mas também para nós próprios nos empenharmos no desenvolvimento da nossa terra. Estou muito optimista em relação ao futuro da Guarda, cidade e distrito.

P – Não acha que questões como a PLIE, que não avança, têm contribuído para não elevar a auto-estima dos guardenses?

R – Há um momento em que deixa de haver hipóteses da Câmara avançar, porque não tem dinheiro (2003 e 2004). A PLIE foi incluída no programa das cinco plataformas logísticas a nível nacional, mas foi-lhe cortada a possibilidade de ter verbas, o mesmo aconteceu com o Polis. O Polis não andou porque não havia dinheiro. Aliás, na altura, referi, com “raiva”, que na CCDRC estava a candidatura da Guarda, com todos os pareceres positivos, e a de Viseu, sem nenhum parecer, tendo esta sido aprovada, enquanto a da Guarda nem sequer foi tratada. É por isso que, apesar das críticas que têm sido feitas nestes dois anos e meio em relação às dívidas da Câmara, eu continuo a dizer que hoje faria a mesma coisa, caso contrário a Guarda teria parado e então estaríamos bem pior do que estamos. Estaríamos sem equipamentos estruturantes, sem VICEG, sem piscinas, sem TMG. Na Câmara Municipal, tenho a noção de que trabalhei, executámos e deixámos projectos lançados com a ideia do desenvolvimento desta terra. Espero que, agora, com os novos fundos comunitários, haja um maior investimento na PLIE, nomeadamente no edifício central, para que avance rapidamente.

P – Joaquim Valente falou em “presente envenenado” relativamente à indemnização que o actual executivo foi obrigado a pagar ao proprietário da Quinta do Alarcão. Qual é a sua posição relativamente a esta sentença judicial?

R – Estou convencida de que foi uma injustiça. Quando decidimos ficar com a Quinta do Alarcão foi num executivo em que o actual presidente da Câmara era vereador, mas continuo a dizer que naquela quinta não se deveria construir. Aquela quinta foi exageradamente paga e nunca estive convencida que o proprietário viesse a ganhar, isto porque não ganhou no Tribunal da Guarda, não ganhou no Tribunal da Relação e depois o Supremo Tribunal de Justiça deu-lhe razão. Infelizmente a biblioteca tem levado o tempo que tem levado e isso não é por falta de dinheiro, mas pela falta de sorte com os empreiteiros que por lá têm passado.

P – O museu do Côa é uma das obras essenciais para a região. Acha que é desta que vai nascer aquele grande empreendimento?

R – Sem dúvida. O Museu do Côa é um ponto de desenvolvimento não só para aquela zona, mas para toda a região.

P – Continua a acreditar que a Cultura pode ser mobilizadora em termos de desenvolvimento e que o Museu do Côa será um bom exemplo?

R – Sempre acreditei na cultura como forma de desenvolvimento. Considero que este espaço museológico há-de ser um ponto de viragem nesta questão e, aliás, não é por acaso que tanto se fala da rota da arte rupestre onde o Museu do Côa e Foz Côa serão uma referência estratégica.

P – Temos também o velho projecto do IP2 para Norte, mais uma obra que tem sido adiada.

R – Mais uma obra pela qual eu me tenho batido. Há um pequeno problema, e só por isso é que ainda não avançou, que é a questão do impacto ambiental entre Trancoso e Celorico. Mas acredito que no primeiro trimestre do próximo ano a obra seja posta a concurso. Para breve estará também a assinatura do protocolo da entrega do projecto da ligação da A25 à espanhola A62, em Vilar Formoso.

P – Que comentário faz em relação aos mil euros do PIDDAC para o Hospital da Guarda?

R – Não me preocupa, acho é que nem sequer lá deviam estar. Uma coisa que me poderia preocupar, e muito, era não haver dinheiro para o Hospital de Seia e o seu equipamento, assim como para o Centro de Saúde da Guarda. Já me preocupa um pouco não vir o Centro de Saúde de Figueira de Castelo Rodrigo, que será uma realidade no próximo ano, porque, pelo menos a parte nacional, vai sair do capital social da Unidade Local de Saúde. Quanto ao resto, nada irá atrasar as obras das novas instalações do Hospital da Guarda, porque o calendário estipulado está a ser rigorosamente cumprido. Espero termos estaleiro no início de 2009.

P – Soluções para a Guarda no pós-Delphi?

R – É preciso sensibilizar empresários, e o próprio Governo, para encontrar soluções na área empresarial da Guarda, colocar empresas e criar postos de trabalho na cidade. Penso que o distrito tem de investir no sector do turismo, pois temos uma grande diversidade que vai do Douro à Serra da Estrela, dos monumentos às Aldeias Históricas. Podemos criar toda uma envolvência e ver que o turismo é cada vez mais uma fonte de rendimento tremenda, mas precisamos de investir nessa área e em coisas que nos tornem diferentes. Por exemplo, a “Guard’Ar” era outra forma de alavancar o turismo, a saúde e ambiente desta terra, e acho que se deveria recuperar. Na altura a Câmara da Guarda abriu mão do projecto porque pensou que a iniciativa privada lhe daria muito mais dinâmica e força, o que acabou por não acontecer. Acredito que a “Guard’Ar” pode ser uma alavanca de desenvolvimento da cidade.

P – Acha que o Governo tem conseguido um compromisso positivo com os mais pobres?

R – Há zonas no distrito onde há pessoas a viverem relativamente mal. Mas acho que este Governo tem feito um esforço bastante grande para encontrar formas de ajudar os mais pobres e estou convencida que teremos mais progressos nessa área neste ano e meio que falta para o fim do mandato de José Sócrates.

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