1. As notícias sobre o desvario das contas da Madeira deixam-nos boquiabertos. Começou com a revelação de 500 milhões de euros ocultados ao Governo, ao INE e ao Banco de Portugal, continuou na semana passada com a descoberta de mais 1.113 milhões sonegados e continuou esta semana com a detecção pelo Tribunal de Contas de mais um buraco de 200 milhões. E ainda não se conhece toda a extensão do “desvio colossal”.
Enquanto os demais portugueses apertavam o cinto, Jardim e o seu séquito continuavam a gastar à tripa-forra. Enquanto o Governo fazia cortes cegos nos salários, pensões e prestações sociais, na saúde ou na educação, na Madeira o regabofe continuou. Alberto João vai continuar a sonegar informação, a cilindrar vexatoriamente a oposição, a ofender os “cubanos” que lhe pagam os desvarios, a trucidar a autonomia e a descentralização, a passar por cima da liberdade de imprensa e a rir-se dos portugueses. E vai voltar a ganhar as eleições porque o povo é soberano – ignorante, mas soberano – e gosta de ser conduzido por “grandes” líderes, por tiranetes populistas cujo porreirismo está sempre em alta.
2. A situação do Politécnico da Guarda é complicada. Mesmo havendo optimismo para a segunda fase, a verdade é que impressiona a falta de capacidade de atrair novos alunos, mesmo que maus alunos (com média negativa…). E por muito que o presidente do IPG queira relativizar e enquadrar esta decepção num quadro nacional de opção pelas universidades ou queira atenuar a quebra comparando com os resultados do ano anterior – que também foram maus – a verdade é que o IPG é, juntamente com os Politécnicos de Bragança e de Tomar, o que regista menos procura. Ocupar nesta fase apenas 35 por cento das vagas é muito mau para uma instituição que tem pretensões de excelência e qualidade. Sendo certo que há cursos que conseguem bons índices de empregabilidade, como Mecânica ou Topografia, como se explica que não consigam atrair alunos? O IPG, claramente, não fala a mesma linguagem dos adolescentes e jovens que ingressam no ensino superior. Pode ser uma questão de preferência pela “universidade”, como diz Constantino Rei, e é compreensível, mas também tem a ver com a falta de prestígio da instituição, a própria cidade que não é atrativa ou a falta de credibilidade dos seus cursos e do seu corpo docente (mesmo sendo verdade que os rácios de doutoramentos foram elevados para patamares excepcionais, mas sem reflexo na comunidade e na sociedade – afinal, o que fazem e por onde andam os académicos da Guarda?).
Constantino Rei tem pela frente a hercúlea tarefa de dar um novo pulmão ao IPG antes que ele deixe de respirar. E já não falta muito. Pode começar por repensar a estratégia do polo de Seia, cujos cursos de turismo também não conseguem atrair alunos – aliás, em consciência, nenhum jovem estudante de ensino superior pode estar interessado em estudar numa escola minúscula, numa cidade como Seia, e sem outros horizontes que não sejam os proporcionados pela própria Serra. É desagradável dizer isto, pois… mas enquanto andarmos com paninhos quentes e palavras bonitas o IPG ficará sem futuro. E é no presente que urge perspetivar, com clarividência, todos os cenários e potencializar todas as possibilidades. Hoje podemos achar “antipático” lançar o debate sobre o encerramento do polo de Seia e a concentração no campus da Guarda, mas, amanhã, será o fim do IPG que estará em cima da mesa. Quando acabar o ensino superior na Guarda, não tenham dúvidas, os guardenses poderão emigrar porque a cidade não terá nada para oferecer, nem sequer uma réstia de esperança.
Luis Baptista-Martins