Nos últimos dias tem-se falado bastante dum livro recentemente publicado pela Teorema, Portugal Hoje – O medo de existir, de José Gil. Já recebi mails a falar do livro, mails a alertar para artigos na imprensa escrita sobre o livro, já encontrei bastantes referências em blogs e, sinceramente, tanta unanimidade, tanto aplauso, fazem um gajo desconfiar.
O livro, ao que parece, pois ainda não tive oportunidade de o ler, fala sobre a pequenez do portuga, das invejazinhas que constroem a identidade do portuga. Da nossa ineficácia, das nossas suficienciazinhas, da nossa incapacidade de vermos para além da ponta do nosso nariz ou, em dias muito luminosos, para além da cerca do nosso quintal.
Pergunto-me se tanto aplauso a este tipo de considerações não será sinal de estarmos a ficar entorpecidos de tanto olharmos para o espelho. Claro que seria muito mais agradável, se ao interrogarmos a nossa imagem, ouvíssemos uma voz dizer-nos, com toda a convicção Não há ninguém tão belo – magnífico – genial – competente – sexy – heróico como tu. Mas como não acontece nada disso, fomo-nos habituando à carranca triste e amorfa que vemos a olhar para nós. E se não apreciamos por aí além o figurão à nossa frente, pelo menos é alguém conhecido, familiar, que nos transmite uma sensação de segurança, pelo menos este gajo, até pode nem ser grande coisa, mas ao menos conheço-o, conheço-lhe a caspa e o mau hálito, as manhas e as maleitas, quanto deve, as vigaricezinhas, os sonhozinhos de mudar de carro, ir a Fortaleza e trocar a hipoteca da casa por outra maior.
Nada de grandioso, é certo. Podia-se dizer medíocre, mas não é isso que somos todos? O senhor que escreveu o livro não diz exactamente isso? Então para quê estar a dar-me ao trabalho de tentar ser melhor que eles? Para me chamarem chico-esperto e me passarem uma rasteira na primeira oportunidade? Nah! Eu sei que sou muito melhor do que eles, mas à cautela, faço-me passar por estúpido, igualzinho aos outros todos.
E se alguém quiser mudar o mundo, que avance. Eu por mim fico a ver no que param as modas e, se gostar, até sou capaz de apoiar.
Mas não acredito que consiga. Olha quem…
Por: Jorge Bacelar