Os 700 gigabytes de escutas do processo “Operação Marquês”, entregues no mês passado à defesa de José Sócrates, estavam infetados com vírus informáticos, afirmou o advogado Pedro Delille ao jornal “Público”.
O insólito teve início em dezembro: quando foram buscar os discos com as escutas telefónicas, uma funcionária do Departamento Central de Investigação e Ação Penal avisou que alguns ficheiros podiam estar infetados, conta Delille. Enviado o material informático para um perito, este detetou 50 vírus informáticos, entre trojans e «outras coisas do género», noticia o “Público”.
O conteúdo foi recuperado, mas Pedro Delille garante que o conteúdo não serve porque as pessoas intercetadas nas gravações não estão identificadas. «É impossível identificar quem está a falar», alega. Àquele jornal, o causídico informa que vai pedir uma perícia informática às escutas quando o processo transitar para o Tribunal Central de Investigação Criminal.
Este é mais um episódio que impede o processo de entrar em fase de instrução, uma vez que as defesas dos arguidos não têm acesso às peças processuais. «O processo está preso num pântano entre o procurador Rosário Teixeira e o juiz Carlos Alexandre», critica o advogado do ex-primeiro-ministro.
A Operação Marquês traduziu-se na constituição de 28 arguidos, 19 pessoas e nove empresas, por um conjunto de 188 crimes económico-financeiros. Entretanto, a procuradora-geral da República admite que alguns dos ficheiros informáticos que contêm as escutas telefónicas a José Sócrates estão infetados com vírus.
Em resposta a perguntas colocadas pela Rádio Renascença, o gabinete de Joana Marques Vidal confirma a existência dos vírus informáticos e explica que as próprias mensagens no momento da interceção estavam já contaminadas. A mesma fonte acrescenta que a situação não resultou do procedimento de cópia dos ficheiros nem do processo de análise durante a investigação. O Ministério Público optou por manter a situação, de modo a não alterar a versão originária dos ficheiros de prova.
Apesar da acusação ter sido proferida no início de outubro, o processo continua nas mãos do Ministério Público. Não foi entregue ao tribunal nem todas as peças processuais chegaram ainda às mãos dos advogados responsáveis pelas defesas.
Na sexta-feira, deveria ter sido fixado pelo juiz de instrução o prazo de contagem para se iniciar uma nova fase do processo, a instrução, durante a qual os acusados podem tentar deitar abaixo a prova, de maneira a evitar chegarem a julgamento, mas o juiz Carlos Alexandre voltou a adiar a contagem do prazo.